FIFTEEN | SEER

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O aldeão me levou junto ao Karl à uma cabana mais afastada e rústica, feita inteiramente de madeira com exceção do teto de palha, como a maioria da aldeia. A chaminé soltava uma leve fumaça branca que logo se misturava com o ar, se tornando imperceptível. O homem, atrás de nós, nos empurrou para os lados para ter passagem direta até a porta. Antes mesmo que ele pudesse bater, a porta foi aberta, revelando uma mulher acinzentada, velha, pequena e corcunda que trajava uma capa preta longa e tinha seus olhos costurados.

Oga naa...— ele começou dizendo, mas a mulher em sua frente o interrompeu.

Ọmọ, o mọ Mo ti mọ tẹlẹ — sua voz soou gentil e doce, ela não precisou tatear seu rosto para dar dois leves tapas nele.

O homem riu, fazendo eu e Karl nos entreolharmos com as testas franzidas.

Não me leve a mal, mas todos aqueles homens não pareciam ter outra expressão, além da autoritária-grossa-agressiva que eles sempre nos dirigiam. Então, ver um homem daquele tamanho rir envergonhado foi um choque para nós.

Dariji mi, iyaafin. — o aldeão parecia se desculpar.

Gbogbo ọtun, ọmọ, o le lọ. Emi yoo ṣe itọju rẹ. — ela pareceu o dispensar e ele assentiu, saindo.

Eu e Karl permanecemos imóveis até que ela virou o rosto em nossa direção, sabendo exatamente para onde deveria olhar, caso possuísse olhos.

— Venham, crianças, preparei uma sopa quentinha para vocês — ela nos convidou gentilmente para entrar com um gesto de mão.

Karl não ponderou em espalmar a própria barriga de maneira desleixada e sorrir, entrando na casa da mulher que agora me encarava.

— Com licença — eu pedi meio receosa e entrei.

Por dentro, a cabana era escura, pois todos os buracos que serviam como janelas estavam tampados por panos pretos. No teto, alguns amuletos e talismãs estavam pendurados, assim como pequenos tubos de metal que reproduziam uma harmoniosa melodia quando eram soprados pelo vento. Nas paredes, pinturas feitas à mão decoravam o ambiente e simbolizavam alguma história. Em cima da pequena lareira, que a mulher usava como um fogão para esquentar um caldeirão de ferro, tinha um altar com bonecos esculpidos de madeiras.

Sinistro! — Karl murmurou, observando tudo atentamente como eu.

— Aqui — a mulher apontou para um sofá que ficava perto da lareira, nós nos acomodamos e ela nos entregou dois potes de sopa — devem estar famintos — ela adivinhou — Wakanda pode ser dura quando quer mostrar a sua autoridade e o seu poder.

— Põe dura nisso — Karl debochou e eu lhe dei uma cotovelada em repreensão. Ela ainda continuava sendo a chefe das tribos e nós não poderíamos desrespeita-la.

— Tudo bem, seu segredo está a salvo comigo — ela brincou, se sentando na poltrona de frente para nós. Arqueei levemente a sobrancelha. — Quer me perguntar algo? — ela se dirigiu diretamente a mim. Me surpreendi por ela ter notado minha expressão fácil, mesmo sem enxergar.

— Me desculpe perguntar, mas como aprendeu a falar tão bem nossa língua? Todos parecem ter dificuldade em pronunciar muitas palavras, até mesmo sua Chefe — eu deixei a curiosidade falar mais alto do que a minha consciência de que não estávamos ali para um bate-papo, e sim para sermos escravizados.

— Eu sei falar muitas línguas, minha querida — ela se apoiou no encosto da poltrona.

— Então você, a senhora, sei lá, é mesmo uma vidente? — Karl perguntou de boca cheia.

Ninka Baker e Os RecrutasOnde histórias criam vida. Descubra agora