Margot ficou desolada ao ver o corpo sem vida de Charles. Seu grito agonizante atraiu todos os outros, que ficaram horrorizados ao se depararem com o recruta morto.— O QUE VOCÊ FEZ? — ela largou a garrafa com o soro caseiro no chão, o derramando, e correu até o meu amigo.
Eu sabia o que pensariam caso eu contasse a verdade.
Margot, por exemplo, nunca o perdoaria por ter tomado tal decisão e os outros provavelmente achariam que ele era um egoísta por ter ido dessa forma, sem se despedir. Foi por isso, então, que eu menti.
— Me defendi — eu a respondi, tentando manter a minha pose de confiança firme.
Eu não podia perder o controle novamente, não na frente deles.
— Ele se transformou? Foi por isso que te atacou? — Victoria perguntou, os olhos marejados e os lábios trêmulos.
— Foi — menti novamente.
— Mas como? Ele estava preso, eu mesmo o amarrei! — Amon, que sempre fora calmo, parecia tão perturbado quanto os outros.
— De alguma forma, ele conseguiu se soltar — desviei meus olhos dos seus, me obrigando a sustentar aquela mentira.
— Baker, você podia ter pedido ajuda — Carter tocou no meu ombro, preocupado comigo.
— Eu estou bem.
— VOCÊ O MATOU! COMO PODE ESTAR BEM COM ISSO? — Margot gritou entre lágrimas enquanto abraçava o corpo do seu amante.
— VOCÊ ACHA MESMO QUE EU QUERIA MATAR O CHARLES? ELE NÃO ME DEU OUTRA ESCOLHA! — gritei de volta, assustando alguns recrutas. Pelo menos, dessa vez eu estava dizendo a verdade.
Ayla assobiou e cruzou os braços, parecendo surpresa pelo meu temperamento tempestivo.
— Eu odeio você — Margot sussurrou enquanto fungava, escondendo seu rosto no tronco de Charles.
— Eu sei — comprimi os lábios — vou deixar que sofra com o seu luto em paz.
Então eu sai da sala, indo para a escada de emergência. Me sentei no segundo degrau, onde apoiei meus cotovelos em meus joelhos para apoiar o meu rosto em minhas mãos. Me permiti respirar fundo para processar o que havia acabado de acontecer. A adrenalina foi deixando o meu corpo e, com isso, acabei por sentir o meu pulso arder.
Franzi a testa enquanto afastava um pouco para baixo a minha pulseira eletrônica prateada, então percebi o que havia de errado que eu não havia notado antes: Charles havia me arranhado ao se transformar.
— Você que cortou a corda, não foi? — a voz de Aiken fez com que eu impulsivamente cobrisse o meu pulso com a outra mão, mas o loiro parado em minha frente não pareceu estranhar tal gesto.
— Isso não importa mais — foi tudo o que eu lhe disse.
— É claro que importa, Ninka, ele pediu para que você o matasse — ele adivinhou e eu lhe olhei brevemente surpresa — Por que mentiu?
— Ela não o perdoaria — eu balancei a cabeça, querendo deixar aquele assunto para trás.
— E por que acha ela que vai te perdoar? — ele uniu as sobrancelhas.
— Porque eu estou viva — respondi rápido — E, mesmo que a Margot não me perdoe, uma hora terá que falar comigo. Ela não terá outra chance com ele, então prefiro que seja desse jeito, tá legal?
— Ei, não olhe pra mim! Eu não vou falar nada. — ele afirmou o que eu já sabia, assenti mais calma — Agora quer me contar o que aconteceu com o seu pulso pra você estar segurando ele como se sua vida estivesse dependendo disso?
Por que eu achei mesmo que ele não havia prestado atenção?
— Nada — eu me preparei para me levantar.
— Se não foi nada, então me deixa ver — ele insistiu, sabendo que eu estava mentindo.
— Não, eu já disse que está tudo bem e nós precisamos começar a nos...— tentei passar por ele com a intenção de voltar para sala, mas ele puxou o meu braço e virou o meu pulso para que pudesse avaliar.
Seu olhar mudou e Aiken me encarou, pela primeira vez desde que eu o conheci, assustado.
— Foi ele quem te arranhou, não foi? — perguntou em um sussurro quase inaudível, parecendo temer a minha resposta.
— Não foi nada, eu estou bem — puxei o meu braço de volta.
— Ninka — ele me encarou sério.
— Você sabe que foi — eu disse de uma vez, cansada de todas as mentiras — E nós dois sabemos o que isso significa: Eu só tenho vinte e quatro horas para levar todos eles até um local seguro para salvar o nosso povo. Então não vamos fazer um drama desnecessário sobre isso, okay?
— Você precisa cortar sua mão fora — ele disse de repente.
— O quê?!
— A sua mão. Se você a cortar até depois do arranhão, talvez consiga sobreviver. Foi há pouco tempo, então talvez o vírus não tenha entrado na sua corrente sanguínea. — explicou com gestos, confiante de que eu seguiria a sua loucura.
O garoto loiro começou a checar seus bolsos atrás de uma faca ou um objeto afiado o bastante para cortar um membro humano.
— Aiken? — o chamei e ele me encarou — eu não vou cortar a minha mão — disse calma, tentando passar isso para ele.
— Mas você precisa!
— Eu não posso, eu preciso dela — retruquei — Essa pulseira emite um sinal para a minha família como um aviso de que ainda estou viva, se eu a retirar, eles pensarão que eu morri.
— E se você não a retirar, vai morrer de verdade — ele tentou me fazer mudar de ideia.
— Eu não vou cortar a minha mão fora, Aiken — disse certa de minhas palavras — Sem chances!
— Você vai morrer. — ele pontuou, pensando que eu não estava ciente desse pequeno detalhe.
— Mais cedo ou mais tarde, todos nós vamos mesmo — eu dei de ombros, brincando, mas Aiken manteve seu olhar preocupado — Qual é, Aiken? Não está nem um pouco animado para viver as vinte e quatro horas mais agitadas e emocionantes da sua vida?
— Você é, assustadoramente, insana — ele balançou a cabeça, inconformado, mas respeitando a minha decisão.
— Eu sei — sorri agradecida — Agora vamos, temos que sair daqui.
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Ninka morre ou não morre? Ela consegue concluir a missão ou não? Tira casaco, bota casaco.
Gente, se vocês receberem notificação aleatória dos capítulos iniciais, ignorem. Eu tô mudando a linha temporal da história, porque eu devia tá noiada quando criei no começo. Tava uma bagunça. Mudei 1500 anos para apenas 500, fica mais próximo da realidade e é bem melhor de se trabalhar.
Então é isto, não esqueçam de comentar e favoritar.
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Ninka Baker e Os Recrutas
Fiksi IlmiahQuinhentos anos após uma terceira guerra mundial sangrenta que levou a humanidade perto de sua extinção, o mundo se tornou um lugar totalmente diferente do que conhecemos atualmente. Uma terra onde a tecnologia e os costumes primitivos andam lad...