Eu estava em um túnel. E, no fim dele, estava mamãe e Wally parados, me encarando. Os chamei, mas eles não pareciam me escutar. Então decidi correr até eles, mas, quanto mais eu corria, mais longe eu ficava. Mas eu não ia desistir, não podia desistir deles. Por que eles não vinham até mim? Por que estavam parados? Não conseguiam ver meu esforço?Então eles me deram as costas e começaram a andar para fora do túnel. Por favor, me esperem. Por favor, eu não quero ficar sozinha.
— ESPEREM! — gritei uma última vez antes de tropeçar e cair na escuridão, de forma que me fez acordar subitamente.
A adrenalina no meu corpo e o medo fizeram com o que o meu primeiro instinto fosse sentar na cama, mas meu corpo doeu e braços desconhecidos me fizeram deitar novamente. Fiquei atordoada. Onde diabos eu estava?
Arregalei os olhos em pânico.
— Ninka! Calma! Você tá bem! Eu tô aqui! — uma voz conhecida me trouxe de volta à realidade, me fazendo relembrar dos últimos acontecimentos.
Meus olhos finalmente focaram na figura ao meu lado, que eu nem havia percebido a presença com todo o desespero.
— Aiken? — minha voz saiu rasgando minha garganta extremamente seca, me deixando rouca.
— Tá tudo bem — ele aproximou o rosto do meu e só então eu consegui enxergá-lo direito.
— Aonde a gente tá? — olhei em nossa volta, estava tudo muito escuro.
O ambiente só estava sendo iluminado por algumas poucas velas espalhadas.
— Na minha casa, querida — A voz familiar de Olga me assustou, e a mulher apareceu na escuridão com um pote em mãos — Aqui. Deve estar faminta. — ela me entregou e eu tentei me sentar, mas todo o meu corpo doeu, me fazendo gemer.
— Eu te ajudo — Aiken tirou o pote de minhas mãos, colocando na mesa, perto da cama, que tinha uma única vela a ocupando. Ele me segurou cuidadosamente e me colocou sentada de costas para a parede, de maneira que eu ficasse escorada nela.
Só então percebi que no lugar da blusa que eu usava, agora eu tinha uma faixa rondando todo o meu tronco, incluindo os meus seios e o meu ferimento.
Aiken me entregou o pote de novo e eu percebi que dentro dele havia sopa. Só me dei conta do quanto estava com fome quando levei a primeira colherada até a boca e meu estômago roncou.
— Por quanto tempo dormi? Minutos? — chutei e olhei pela pequena janela perto de nós. Nenhuma fresta de luz passava por ela, o que significava que ainda estava de noite.
— Por um dia inteiro — Olga foi quem me respondeu e eu quase me engasguei com a sopa.
— Um dia? — repeti, sem acreditar.
— Você estava muito machucada. Quer dizer, ainda tá, né? Mas o seu corpo já está no processo de cicatrização. — Aiken disse — E não foi só pela luta, você já tinha desgastado o seu corpo quando foi arrastada e apedrejada pela aldeia quando chegou.
— Como você sabe de tudo isso? — olhei pra ele, minha cabeça processando a informação de que ele não deveria estar ali — Aliás, como você sabia que eu estava aqui em primeiro lugar?
Aiken sorriu de lado e se escorou na cadeira onde estava, cruzando os braços e as pernas.
— Achou mesmo que a Cleo não ia nos contar sobre o que você ia fazer? — ele debochou — Ela precisa do seu sangue, é claro que ela ficou preocupada sobre o que você ia fazer, então quando ela me disse que você ia conseguir um exército, eu pensei no único lugar possível onde teria pessoas o suficiente para formar um — explicou.
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Ninka Baker e Os Recrutas
Bilim KurguQuinhentos anos após uma terceira guerra mundial sangrenta que levou a humanidade perto de sua extinção, o mundo se tornou um lugar totalmente diferente do que conhecemos atualmente. Uma terra onde a tecnologia e os costumes primitivos andam lad...