Harmonia - Parte 3

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"Mais uma vez aqui estou
Parado a sua porta
Esperando você sair

Mais uma vez aqui estou
Na esperança de novamente te ver
Ter você em meus braços
Seu aroma sentir

Mais uma vez aqui estou
Disposto o meu coração entregar
E em seus lábios me embriagar."

Mais Uma Vez, Sound of Silence  
    


   

A chuva foi embora com o raiar da aurora. Assim como Marcelo.

Quando ele entrou no carro, senti algo em meu coração. Não sei como explicar, mas parecia que estavam tirando uma parte de mim. Uma parte muito importante que, na certa, deixaria um vazio.

🎶

Falar com Marcelo ao longo da semana através de um aplicativo de mensagem, não era a mesma coisa que estar sentada a sua frente olhando em seus olhos. Não posso negar que serviu para matar um pouco da saudade que eu sentia dele, mas ainda assim não era o suficiente.

Eu queria sentir seu perfume de novo, aquela mistura amadeirada e sabonete que se tornou tão... familiar... em apenas uma noite. Queria estar em seus braços fortes e me sentir segura, protegida. Queria enterrar novamente meus dedos em seus cabelos macios e me permitir ser embriagada pelo seu beijo.

Como é possível sentir tanta falta de alguém que eu só vi uma única vez?


"Marcelo..."

Estou tão absorta em minhas lembranças, que não ouço minha mãe se aproximar. O susto faz com que eu derrame o café quente do bule no Sr. Almeida.

— Argh! Olha só o que você fez, garota!

— Oh! Perdão, senhor, juro que não foi minha intenção. Eu me assustei e...

— Não me interessa! — diz o Sr. Almeida em um tom nada gentil. Ele tenta se secar com o guardanapo que eu entreguei, mas não dá muito certo, afinal, o estrago já foi feito. Ele terá que ir para casa trocar de terno antes de ir para o Banco.

"Mas que droga! Quem é que usa um terno bege em plena sexta-feira? Quem é que usa um terno bege na vida?"


— Vê se presta mais atenção no que faz, garota! — esbraveja ele. — Agora terei de ir até em casa me trocar. Argh!

— Ei, olha lá como fala com a minha filha! — ralhou dona Estela. — Ela já disse que foi um acidente.

— Senhor, me desculpa. Juro que não...

Só que ele não me ouviu. Muito menos ouviu minha mãe. Para variar. Foi embora resmungando feito o velho chato que é. Ele nem pagou a conta.

"Ótimo! Agora por culpa de um velho terei desconto no meu salário! Humpf!"


Começo a limpar a sujeira que eu fiz — eu tento, para falar a verdade —, quando ouço minha mãe me chamar novamente.

Ela pede para conversarmos; então, nos sentamos à mesa. Só que permanecemos em silêncio.


Eu não a encaro. Permaneço olhando para algo além de seus ombros. Para ser sincera, estou olhando o Clube Náutico. E não consigo evitar que as lembranças de sábado passado invadam minha mente.


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