- Lalá! - Igor ouviu Amora gritar e levantou os olhos para observar as duas amigas. Ele sorriu vendo-as se abraçarem, mas quando ela o olhou por sobre o ombro de Amora. Oh, meu Deus... aqueles olhos simplesmente acabaram com todos os seus planos de ir embora na primeira oportunidade.
O momento durou poucos segundos, e muito provavelmente ele não tinha sido exatamente correspondido. Embora ele mesmo não soubesse a respeito do quê esperava ser correspondido, porque o que tem demais em um olhar, né?
Ele também já havia se recuperado, de qualquer forma.
Ou pelo menos achava que sim, porque isso mudou outra vez quando ele viu as duas caminhando em direção a mesa, e seu coração começou a ficar estranho, meio gelado. Talvez fosse a barriga. Oh, meu Deus. Meu Santo Deus! Quando ela olhou para ele de novo, o pobre nem sabia dizer se ainda tinha um coração.
As duas ficaram em pé diante dele, e Igor precisou levar um beliscão de Amora para perceber que tinha que fechar a boca e levantar-se para cumprimentar sua amiga, Laíse.
- Muito prazer - ele disse educadamente. Se inclinou para dar aquele "beijo bochecha com bochecha" e quase caiu para trás porque, Jesus!, onde acabavam os encantos daquela mulher? Que cheiro era aquele? Igor achava que alguém devia fazer uma fragrância só dela.
- O prazer é meu - a moça respondeu, dando um sorriso receptivo para ele. E era um sorriso engraçado, também, porque era óbvio que ela percebera o comportamento estranho dele.
Amora e Laíse se acomodaram à mesa com Igor, e os três tomaram café enquanto conversavam. Igor mais observava, sem querer tirar um minuto do pouco tempo que tinham pra ficar juntas, mas no fundo tentava descobrir uma maneira de não passar batido para aquela garota. Porque ela com certeza não passaria batido para ele.
Vez ou outra, ela lhe concedia um olhar, mas nada muito concreto. Já o olhar dele para ela era absolutamente concreto.
Estava quase perdendo as esperanças quando a amiga interviu.
- Jura? Igor também canta - Amora disse de repente, e o rapaz só parou de olhar para Laíse quando lembrou-se de que seu nome era Igor.
- Sério, Igor? - Laíse perguntou, mostrando-se interessada.
Amora sorriu para Igor um sorriso cúmplice, e o rapaz não pôde deixar de sorrir de volta. Mas ele não sabia o quanto seu sorriso cúmplice podia ser atraente.
Laíse ficou sabendo naquele mesmo segundo.
- Mais toco que canto - o jovem respondeu modestamente.
- E você toca o quê? - Laíse continuou, bebericando o café e olhando não muito discretamente para Igor.
Ele não era o que podemos chamar de magrelo, mas de jeito nenhum seria mundialmente conhecido pelo tanquinho mega definido. Embora ela não pudesse ver, aquele não parecia ser exatamente o estilo dele.
O rapaz também tinha várias e várias pequenas pintas, espaçadas entre a clavícula, o pescoço e o rosto. Ela precisou lutar contra a vontade de se levantar e checar pra ver se eram mesmo pintas ou sardas.
- Bem... - ele disse, coçando a barba enquanto... pensava? Talvez. Ela não reparou muito porque, caramba, ele tinha mesmo uma daquelas barbas perfeitas!
- Ele toca muita coisa, Lalá - Amora riu. - Gosto particularmente da gaita e do violão.
- Tá de brincadeira? - ela soltou, largando a xícara. - Eu adoro ouvir gaita! Me diga que tem uma na sua mochila! - implorou, juntando as mãos à frente do rosto.
Igor riu, sem deixar de encará-la enquanto vasculhava a mochila em seu colo.
- Só se você cantar - ele arriscou enquanto segurava o pequeno instrumento, já perto dos lábios.
E ela precisou desviar o olhar desses lábios para dar atenção à sua pergunta.
- Lalá, você se importa se eu vier te buscar mais tarde? Eu só preciso de meia hora fora. Meu namorado está ali, parece que quer ajuda pra escolher um presente pro pai dele.
Igor sinceramente precisou segurar a gargalhada. Porque não havia uma forma pior de contar uma mentira, senão contá-la para pessoas conhecidas.
Era de conhecimento público que o namorado de Amora morava em São Paulo. E o pai dele? A menos que levasse em consideração Álvaro, seu padrasto, o pai dele estava mortinho da silva há pelo menos uma década.
Pela forma como Laíse a fuzilava, a garota também percebeu a mentira descarada.
Amora não ligou em ser tão indiscreta. Tudo que queria era dar um tempo para os novos amigos conversarem, porque que mal havia em uma conversa, não é?
Igor, com medo que Laíse desistisse de ficar, nem esperou Amora realmente sair da mesa para começar a tocar. Ele deu um sopro leve no instrumento, iniciando uma canção que particularmente amava.
Conseguiu de volta a atenção da moça à sua frente, que agora o encarava, visivelmente encantada.
Aquele brilho no olhar dela... Jesus, aquele brilho devia ser colocado num pote e guardado para enfeitar árvores no natal. Ou até o céu num dia nublado, porque ele com certeza seria capaz.
Igor continuou por mais uns cinco segundos até que Laíse tomasse coragem para se juntar a ele com sua voz.
Quando a jovem o fez, no entanto, não havia uma só pessoa na lanchonete que não estivesse de olho nos dois e na adorável canção que entoavam juntos.
Mas, infelizmente, não deu tempo nem sequer de terminar, porque ela precisou ir embora quando um trovão fez as honras para a entrada de uma tempestade.
E nem deu tempo de dizer que o brilho nos olhos dela com certeza faria aquele temporal passar, porque se o havia desanuviado por completo, poderia muito bem fazer a mesma coisa com o tempo.
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Um Presente Especial
ContoNesse fim de ano, além de mim, você terá, pelo menos, um amigo secreto que irá participar, seja ele na família, no colégio, na universidade ou no trabalho. Certo? Existem amigos secretos de vários tipos hoje em dia. Alguns tiram o nome na hora e o p...