– UAU!
Isso fora tudo o que consegui dizer ao olhar por todas as direções daquele lugar que mais parecia um paraíso. Livros por todos os lugares. De todas as cores, materiais, tamanhos e gêneros. Muito bem separados e especificados por placas.
Eu sempre sonhei em entrar em um lugar como este. Mas, parecia um sonho distante. Era de uma vista esplendorosa. Não existiam palavras para definir o nível de beleza e grandiosidade daquele lugar. Tinham escadas por todos os lados, que levavam para os andares superiores, os quais funcionavam com galerias, de forma que, todo o interior daquela biblioteca pudesse ser vista do centro daquele enorme e belo paraíso.
Alguns passos para a frente, e percebi que não estava sozinha ali. Sentada entre duas prateleiras enormes de livros infantis, agarrada a um livro que não parecia ser uma obra infantil, a julgar por sua capa, havia uma garotinha. Pelo seu tamanho, devia ter uns oito anos. Percebendo minha aproximação, a pequena ergueu seus olhos, fitou-me e sorriu para mim.
– Oi. – Disse tímida – você parece comigo.
Assustada por reparar as semelhanças em nossos traços, fui levada ao passado, e, ainda mais assustada, talvez assombrada, percebi que aquela garota não apenas parecia comigo. Era eu. A Luísa de oito anos. A inocente e sonhadora. A pequena leitora. A que sonhava em ser tudo o que via nos livros. A mesma, que em seguida descobriria que, no fundo, no fundo, queria despertar nas pessoas o sonho de viver e ser o que leriam em seus livros. Pois, ser o que continha nos livros, não lhe era mais suficiente. Ela queria ser a causadora das sensações que sentiu por toda a sua vida folheando maravilhosos escritos.
– Oi, tia – a pequena “eu” balançava as mãos diante de meus olhos – fala comigo.
–Oi, mocinha, desculpe. Realmente, você parece muito, muito, muito comigo. – abaixei-me no intuito de ficar na mesma altura da criança que há pouco havia deixado o seu esconderijo, e se colocado de pé – qual o seu nome, menina linda? – perguntei-a tocando o meu indicador em seu nariz, fingindo uma tranquilidade e uma curiosidade natural que em mim não existiam. Temi ouvir o nome daquela criança mais do que havia temido qualquer outra coisa em minha vida.
– Meu nome é Luísa Aimeé, e o seu?
– O meu também – sussurrei, bastante assustada, no momento em que a convicção de que eu estava maluca, ou que o criador havia me pregado uma peça muito grande caiu sobre mim de uma maneira assustadora. Comecei a tremer e suar. Assustada, levantei-me e comecei a andar de costas.
– Ei, tia. Não vá embora. Ele me disse que você chegaria aqui para ficar comigo. Então, não me deixe sozinha. Ele falou que viria para eu contar o segredo. Volte, eu preciso contar. – a pequena menina pediu-me com os olhinhos brilhando de lágrimas.
– Que-que-quem é Ele? E, qual segredo? – bastante assustada, olhava para todos os lados daquele lugar, o qual pude perceber que não haviam portas, ou, quem sabe, elas haviam sumido. Eu estava presa ali com aquela criança, ou melhor, comigo mesma, e não tinha como sair.
– Ele é o meu amigo, tia. Ele que me trouxe aqui. Ele também trouxe você. Você não lembra?! – neguei com a cabeça, já sem fala – Porque você tem tanto medo? – a minha voz infantil perguntou-me com a cabecinha inclinada, com uma expressão rara e bela de inocência, que, ao mesmo tempo brilhava sabedoria. Uma que eu jamais havia visto antes.
– E-eu não sei do que você está falando. – aproximando-se de mim, a pequena deixou-me ainda mais nervosa e acuada.
– Você tem muito medo, não é mesmo? Não confia na missão que Ele te entregou? Mas, quando Ele determina, Ele sempre garante, tia. Não precisa ter medo, sabia? – pegando a minha mão, minha versão criança me levou a andar junto a ela pelas prateleiras de alguns livros que pareciam ser os únicos daquele lugar que não estavam devidamente organizados, mas, havia algo ali que me inquietou. Todos os livros que continham ali eram de autoras que eu conheço, me inspiro e admiro. – Todas elas temeram por um tempo, mas, uma hora nós precisamos confiar, sabia? – com a cabecinha erguida para olhar meu rosto, me sussurrava, como se estivesse a dizer um segredo – Sabe porque elas chegaram até aqui? Elas desistiram de ter medo, elas desistiram de não acreditar nelas mesmas, pois, você sabia que, se você não acreditar em você, é o mesmo de não crer nEle? – não havia definição melhor para mim que, muda e assustada. Como ela sabia? Ou melhor, como Ele sabia, e, quem era Ele?
– Quem é este que você tanto fala, pequena Luísa? Poderias me dizer?
– Você ainda não entendeu, tia? – com as mãos na cintura e um rostinho que expressava a maior das indignações, continuou – Ele é o meu melhor amigo. Nosso melhor amigo, esqueceu? Este teu sonho, Ele regou em mim e está florescendo em você. Recorda de quando você escrevia pequenos contos e historinhas? Recorda do tanto que amavas ler? Então, tudo começou muito cedo, não é mesmo? Mas, a verdade, é que começou desde antes de mim. Começou antes de nós. Esta é a sua missão. É o seu chamado. É o propósito dEle. Você nasceu para isso. E, não é você quem faz, não é você quem escreve, não é você quem conta. Você é o instrumento. O mais lindo instrumento que Ele criou. Tão especial quanto você jamais conseguirá compreender. Separada e preparada por Ele... Então, não precisa temer, só é necessário confiar que Ele te dará cada letra e cada palavra que você escrever. Ele usará a tua razão, a tua emoção, teus dedos, teu nome e tua imagem para transmitir lindas mensagens.
Com toda a sabedoria e inocência que poderia haver naquele anjo, ela sorriu para mim, e eu já não mais controlava as minhas emoções. Eu tremia e chorava. Eu sorria e suava. Eu cria no que eu ouvia. Eu finalmente conseguia acreditar em mim.
Em algum momento que eu não percebi, sentei sob minhas pernas, no chão, rente a prateleira que estávamos, e a minha frente estava a garotinha, que, olhando em meus olhos, prosseguiu:
– Pare de sentir-se insatisfeita com o que Ele já te entregou. Ele já usa você, Ele já transmite o que quer dizer através de ti. Só precisas parar de ver faltas, furos e partes incompletas. Ele tem dito exatamente o que quer dizer. As pessoas têm sentido isto, elas interpretam a “sua” mensagem e elas sentem o que “você” tem a dizer. Melhor que isso, elas são grandiosamente tocadas por aquilo que Ele tem escrito através de ti. E como belo instrumento que você é, esteja disponível para estar sendo tocada por Ele a todo instante. Além de escrever a mensagem, permita-se ser a mensagem. – A menininha levantou-se e começou a se afastar.
– Ei, você já vai? - o vislumbre que antes havia me assustado, agora era a presença que eu almejava que permanecesse. – Você não precisa ir, continue a falar mais sobre o que Ele quer. Por favor.
– Não posso, tia. Eu já disse quase tudo o que Ele quer, vou só dizer mais duas coisinhas, e já terei que ir. Meu tempo está acabando.
– Sabe porque eu vim até você? – neguei com minha cabeça para responder a sua pergunta – para que você nunca esqueça que a pureza, a inocência e a leveza de uma criança são os requisitos que fazem-nas felizes, e que, desta forma, durante toda a longa caminhada que você terá para trilhar como instrumento dEle, nunca permitas a ti mesma perder a sua leveza, mesmo diante das responsabilidades a serem enfrentadas, nem a pureza de coração quando for necessário lidar com a maldade das pessoas, e, jamais a inocência, pois, ela te fará bem mais do que já és, e te levarás bem mais longe que já estás. A maldade que se apossa de um coração que permitiu-se abandonar sua inocência, pode destruí-lo sem ao menos deixar alicerces para a sua reconstrução. E, para finalizar, não se esqueça de que “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem” ¹. Através dela é que os sonhos tornam-se reais. Mesmo aqueles que você não acredita.
Proferindo estas últimas palavras, a Luísa Aimée de oito anos correu até onde estava quando a vi, pegou o livro que estava em suas mãos, o qual havia deixado no chão, exatamente onde estava sentada, e trouxe-o para mim. Peguei-o com cuidado das pequenas mãozinhas e pude olhar de perto a capa, assim como, ver o nome, que antes não havia conseguido decifrar. E, na capa daquele livro, em letras douradas estava escrito:
ASSIM COMO ÉS
Luísa Aimeé
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Um Presente Especial
Kısa HikayeNesse fim de ano, além de mim, você terá, pelo menos, um amigo secreto que irá participar, seja ele na família, no colégio, na universidade ou no trabalho. Certo? Existem amigos secretos de vários tipos hoje em dia. Alguns tiram o nome na hora e o p...