Em Solo Português - Parte 3

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Tudo que é bom, dura pouco. Ou dura pouco porque é bom? Enfim, acontece que em algum momento eu e Fernanda precisávamos voltar para o Brasil e esse momento chegou.

Gentilmente a avó da Fernanda havia costurado minha mochila rasgada, mas é claro que eu comprei uma mala. Bem, na verde quem comprou foi a Fernanda, porque eu não tinha libras, mas eu ia devolver o dinheiro a ela assim que chegássemos ao Brasil.

Eu ainda estava com o cachecol azul de Miguel quando arrumei minhas coisas e guardei-o junto com minhas roupas, para nunca esquecer aquele cheiro bom, embora ele tivesse me feito prometer que eu voltaria.

Ele nos levou até o aeroporto e, conforme as horas iam passando, eu comecei a sentir um aperto em meu coração. Miguel até havia me convidado para morar na fazenda e seus avós estenderam o convite, mas, embora Portugal fosse um país muito bonito, eu sentiria uma imensa saudade do Brasil.

— Queria uma lembrança tua — Miguel queixou-se e me beijou.

Nós estávamos numa lanchonete, esperando que anunciassem o voo. Eu e Miguel tínhamos acabado de dividir um milk-shake de flocos.

— Ah, mas você já tem uma foto minha em seu celular — eu repliquei.

— Mas tens o meu cachecol e eu não tenho nada teu.

— Minha nossa, como vocês são melosos — reclamou Fernanda e fez sinal de vomito.

Nós dois rimos.

Era bem verdade que eu não havia dado nada meu a ele e estava sem dinheiro para comprar qualquer presente. Então tive uma ideia. Peguei um guardanapo, depois pedi a Fernanda que me emprestasse um batom. Ela tirou um de sua bolsa e o estendeu para mim. Girei-o até que a pontinha aparecesse.

— Vermelho? — eu olhei para ela com uma careta. — É sério?

— Contente-se com esse mesmo, pois foi o primeiro que eu consegui achar — Fernanda ergueu as mãos.

— Mulheres! Levam tantas coisas na bolsa que nunca conseguem achar nada — ele brincou, lembrando-se da primeira vez que nos encontramos.

— Ainda bem que isso não é problema seu — eu retruquei e mostrei a língua e foi como se eu o tivesse convidado a me dar outro beijo.

Passei o batom, enquanto Miguel e Fernanda me olhavam inquisidores e beijei o guardanapo, deixando a marca dos meus lábios sobre ele.

— Pronto! — eu disse e estendi o pedaço de papel para ele.

Miguel o tomou e guardou-o em sua carteira.

— Guardarei isto para sempre lembrar-me de ti.

Mochilas prontas (e uma mala!) - OK

Check-in - OK

Voo tranquilo - OK

Chegada em ordem - cheia de saudades

Um Presente EspecialOnde histórias criam vida. Descubra agora