Um carro preto para em frente a escola de música, e uma figura imponente caminha em direção a entrada. Estou na portaria hoje, pois dona Consuelo precisou resolver algumas pendências da escola. Não sei se é um candidato a aluno, mas disso duvido muito, ele parece ser do tipo que nunca tem tempo para nada, muito menos para aulas de qualquer tipo de instrumento musical. No mínimo é outro empresário atrás de comprar o prédio para transformar o espaço em alguma fábrica.
As pessoas não gostam mais de consumir arte. Seus desejos mudaram, assim como seus hábitos, perder tempo com o que não lhes traga dinheiro é desnecessário. Não sei para que acumular tantos bens supérfluos se o destino é o mesmo para todos nós.
— Bom dia, senhorita! – cumprimenta-me olhando para os lados, como se procurasse alguém.
— Bom dia senhor, posso ajudá-lo? – retribuo a cordialidade.
— Procuro por Consuelo, ela se encontra?
— Sinto muito senhor, ela teve que sair cedo, e não sei ao certo o horário de seu retorno.
— Ah, sim! – olhou em seu relógio e em seguida para mim – Posso esperar ela voltar.
Assim que acenei, ele se direcionou ao interior da escola como se fosse algum tipo de hotel. Qual é a desse cara? Corri atrás dele no intuito de descobrir o que ele deseja invadindo um espaço que não é seu.
— Senhor eu posso ajuda-lo? Podes esperar por ela na recepção, estamos em horário de aula e evitamos andar pelos corredores para não tirarmos a atenção dos alunos – minto para que ele pare. Mas não surtiu muito efeito, pois ele continua a caminhar para o interior da escola.
— Não se preocupe senhorita, conheço bem o espaço e sei que não há tantos alunos assim para que uma simples caminhada pudesse os atrapalhar.
— Senhor, esse é um ambiente privado, se quiseres esperar por dona Consuelo podes fazer isso na recepção. Por favor! – digo mais áspera. Esse cara é muito insolente, não há outra forma de fazê-lo parar sem ser rude.
Ao que parece minha tática surte efeito, pois no mesmo instante ele para, dá um risinho sarcástico e volta à recepção. Mas ao contrário do que imaginei, segue para a saída em direção a seu carro. Mas antes avisa que logo mais estará de volta. Observo-o entrar no carro e sumir na esquina.
— Que idiota! – já tive contato com muitos dessa espécie. Eles acham que são donos do mundo. Mas comigo, não. Ele pode ser bonito como for, mas seu topete invisível não me fará agir feito uma idiota.
A manhã, assim como todas as outras, não foi muito movimentada, exceto é claro, pelo senhor "Topetudo", e toda a sua arrogância. Espero que quando ele voltar dona Consuelo já esteja na escola. Escuto um burburinho vido da sala de violão e logo vejo os alunos saindo. Na verdade são apenas quatro alunos, um senhor aposentado com seus dois netos e uma menina, que iniciou as aulas há pouco tempo. Eles são os únicos desse horário, a próxima turma só entrará às três da tarde.
— Até mais, Luce! –diz o senhor.
— Tenham um bom dia! – retribuo.
— Estou indo almoçar, Luce. Volto para o segundo horário – diz José, o professor de violão.
— Bom almoço, José!
Esse é o melhor horário para eu tocar. Normalmente espero dona Consuelo sair para o almoço, mas como ela não está decido aproveitar para tocar um pouco. Fecho o portão de metal e subo o mais rápido possível para a última sala do segundo andar. Estar naquele ambiente é estar num paraíso sinfônico.
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Um Presente Especial
Krótkie OpowiadaniaNesse fim de ano, além de mim, você terá, pelo menos, um amigo secreto que irá participar, seja ele na família, no colégio, na universidade ou no trabalho. Certo? Existem amigos secretos de vários tipos hoje em dia. Alguns tiram o nome na hora e o p...