Um Sonho de Cristal - Parte 1

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— Acorde! — Era o que alguém com a voz calma e fina pedia para a garota fazer. — Vamos lá, doce menina, acorde.

As pálpebras balançaram sutilmente e aos poucos os olhos foram se abrindo, adaptando-se com a pouca claridade. Esfregando os olhos levemente, a moça sentou–se, olhou para os lados a procura da voz que havia a despertado e não viu nada ali. Era apenas um sonho. Balançando a cabeça, ela olhou para relógio digital que ficava no criado mudo e ele marcava 2:37 da manhã.

Não tinha dormido nem duas horas direito.

Jogando as cobertas para o outro lado da cama, ela colocou–se de pé decidida a ir ao banheiro, quando escutou batidas na porta da cozinha e gritos que vinham do lado de fora.

Passando a mãos por seus cabelos negros, ela abriu a porta do quarto e saiu para o corredor, com a intenção de chamar sua mãe ou seus irmãos, Caio e Samuel.
Lá embaixo, os gritos continuavam.

O que um estranho estava fazendo uma hora dessas gritando por socorro?

As luzes do corredor estavam acesas, o que facilitou em muito sua ida até o quarto da mãe.

Parando em frente à porta, a garota bateu uma, duas vezes e não recebeu nenhuma resposta. Tomando coragem, a menina abriu a porta e encontrou o quarto sem ninguém.

Talvez ela já esteja lá em baixo, pensou virando-se em direção às escadas.

— Eles não estão aqui. — A morena escutou a mesma voz fina do sonho atrás de si. Acabou se perguntando se tudo não passava mesmo de um sonho. Mas agora a voz estava mais nítida e a sensação que tinha era de que havia alguém naquele corredor, e não era nem seus irmãos, muito menos a sua mãe. Ela virou-se em direção a voz novamente e o que viu, fez seus olhos, parecidos com jabuticaba, se arregalarem e um grito ficar preso em sua garganta. Ela piscou várias vezes, tentando processar se o que estava vendo realmente era real. — Nenhum adulto está aqui mais.

— O q-quê? — A voz dela soou irregular, tanto pela afirmação do ser a sua frente quanto pelo ser em si.

— Os adultos dessa cidade foram sequestrados — disse. Ela observou atentamente o rosto branco, com desenhos de espirais em torno da bochecha, os olhos azuis mais claros que a menina já teve o prazer de observar; os cabelos extremamente brancos, estavam ondulados até a altura dos ombros. E não era só isso. Haviam asas! Asas que brilhavam, como se pequenas pedrinhas de diamantes estivessem sido cravadas ali, fazendo um jogo de luz interesse enquanto elas se mexiam levemente. O top e a calça que ela vestia também eram brancos. — E eu estou aqui atrás de sua ajuda.

— Meu Deus! O que é você? — perguntou, dando alguns passos para trás, em direção às escadas.

— Sou Karida, a fada protetora de South Beach.

Uma fada? Ester abriu um sorriso, revelando suas covinhas. Uma fada. Era só o que faltava para sua vida melhorar. Além de se sentir um pouco louca, agora ela poderia realmente estar louca.

Karida, a suposta fada começou a se aproximar de Teh cada vez mais, o que fez a garota sair em disparada para a sala.

Uma fada!!

Era o que seus pensamentos gritavam, enquanto descia os últimos degraus. A ideia de que isso fosse real, era tão absurda, que ela quase, quase mesmo, acreditou que estava louca. Mas tudo isso era apenas um sonho. Ela com certeza não estava louca.

Mas por que ela mantinha em si, uma sensação de que nada era um sonho?

Na sala, as batidas na porta não eram mais escutadas. Quem quer que seja, sua mãe - que deveria estar lá fora - já tinha mandado embora.

— Teh! — Era outro grito que vinha da porta da frente, com mais uma batida.

Não, não. Ninguém tinha ido embora.

Ester foi até a janela, ergueu a cortina e encontrou Gabriela parada em frente à porta com uma expressão assustada. Prestou mais atenção na figura da garota e não percebeu ninguém mais ao lado dela.

Ninguém em sã consciência deixaria uma garota de quatorze anos andando pelas ruas sozinhas. Então o que ela fazia ali?

Foi em direção à porta da cozinha, destrancou a mesma e abriu, dando passagem para ela.

— O que faz aqui?

— Cadê a sua mãe? — perguntou a menina, entrando na casa.

— Pensei que estivesse lá fora — respondeu a garota, olhando para o quintal com interesse e não vendo ninguém. — O que aconteceu para você estar aqui?

— Não tem ninguém em casa! Todos sumiram — murmurou Gabriela, olhando em volta com os olhos esbugalhados de medo. — Será que foram sequestrados?

— Minha mãe não está no quarto também. Até pensei que estivesse aqui — disse, fechando a porta.

— O que tá acontecendo aqui? — A voz conhecida de seu irmão Samuel, se fez presente na sala.

— Eu não sei — respondeu a irmã, parando em frente dele.

— Eu acabei de dizer o que aconteceu. — Karida apareceu na sala, fazendo todos gritarem. — Calma aí, crianças!

— O que é você? — perguntou o menino, afastando-se em direção a porta e pegando um guarda chuva que estava lá. Como se isso ajudasse em alguma coisa.

— Uma fada — respondeu revirando os olhos, como se isso explicasse tudo.  — Sentem-se, que eu explicarei cada coisinha.

Samuel, assim como Ester fez na primeira vez que escutou isso, riu.

— Uma fada — riu histericamente. — Tá de brincadeira? Cadê a mãe?

Mas antes que pudesse fazer qualquer outra pergunta, os três, inexplicavelmente, estavam sentados lado a lado no chão.

E Karida batia freneticamente os pés na frente deles.

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