A Arte da Guerra - Parte II

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— Eles estão posicionados em toda a Amurro e ainda há tropas ao sul e a leste do rochedo —
diz Dedun preocupado.

— Quais os números? — Pergunta o faraó.

— Três para um. Eles tem mais armamento e ainda há egípcios cativos na cidade. Podemos atacar com todas as forças, mas nosso exército está acostumado a lutar em campo aberto. Os Mitanni tem muito mais experiência no manejo de tropas em cidades. Eles teriam a vantagem, mesmo se conseguissemos atravessar os portões — relata o comandante

— Quantos de nós ainda estão em Amurro? — questiona o faraó.

— Cerca de um terço da população da cidade, na maioria pobres, órfãos, sacerdotes e sacerdotisas, meu senhor.

— Meu senhor — interrompe um soldado com olhos arregalados.

— Diga soldado — fala o rei.

— O prisioneiro, o traidor fugiu.

— O que?

—Não sabemos como ele conseguiu escapar, mas ele matou um guarda e roubou suas vestes.

— Está dizendo que um prisioneiro fugiu no meio de um acampamento com mais de três mil soldados?

— Sim, meu senhor — fala o soldado temeroso, sem ousar olhar paraa o rei.

— Encontre  - o. Ele não deve estar longe — diz Tutmés com a voz trêmula de raiva. Donkor escorria por entre seus dedos mais uma vez.

—Devíamos tê-lo matado logo, meu senhor, Donkor é ardiloso como uma serpente do deserto.

—A fuga só prova que há mais traidores entre nós, mas diga general qual o seu conselho sobre essa batalha?

—O senhor sabe qual é a nossa única chance, apenas não quer ser o homem a dizê-la — retruca Dedun.

Tutmés franze o cenho e volta a olhar o mapa.

— Que os deuses nos perdoem. — E ele diz mirando uma tocha acesa sobre a mesa.

Em Amurro a noite começava a cair quanto Tushratta conferia a guarda montada nos muros que circundam a cidade. Apesar de possuir a vantagem, ele não era tolo de subestimar o faraó.  Tutmés era um exímio estrategista, combatente forte e bem treinado, como se não bastasse seus soldados tinham uma verdadeira adoração por ele e só a sua presença na batalha os inspiraria a lutar como nunca.

— Meu pai.

— Diga Telepnus — fala o rei mirando além das fronteiras da cidade sobre o observatório dos muros.

— Donkor está aqui.

— Achei que ele tivesse sido capturado e morto pelos egípcios — responde o rei.

—Parece que ele ainda tem amigos no exército do faraó. Está recebendo cuidados médicos.

Tushratta se encaminha até a enfermaria, um prédio no centro de Amurro, onde antes funcionava como central de arrecadação de impostos e pagamentos feitos pelo governo egípcio aos trabalhadores, em  forma de grãos e cerveja que poderiam ser trocados no mercado por outros produtos. Ele coloca um pano sobre o rosto, afinal muitos dos homens,  não estavam alí por ferimentos em batalha, mas sim pela doença trazida pelos aliados árabes que a cada dia fazia mais vítimas, enfraquecendo seu exército.

Ele anda entre a enfermaria improvisada até o local onde Donkor tem suas feridas limpas e enfaixadas.

— Não pensei que te veria novamente comandante.

— Não se livraria de mim tão facilmente rei Tushratta. — diz o homem tentando esconder a dor que sentia.

— Pelo jeito levou algumas chibatadas.

Tutmés III - O Faraó Guerreiro  - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora