Nasce um Deus - Parte III
O rei Tushratta e Telepinus deixam o grande salão, a proposta do faraó jamais seria considerada se o rei Mitanni não soubesse o quão desprotegida deixou Washshukanni, sua capital. Por enquanto a vantagem estava com o faraó e ele teria de ser prudente para evitar um massacre.
—Ele está blefando meu pai, porque deixaria parte de seu exército para trás, sabendo que suas fortalezas estavam sendo tomadas. — Exclama o príncipe.
— Exatamente por isso Telepinus, este faraó é diferente de qualquer outro que os Mitanni tenham enfrentado. Ele não vence suas batalhas com números e sim com estratégias.
—Está dizendo que vai considerar as migalhas que ele quer nos dar? Viemos até aqui para conquistar o Egito!
— Nã? eu jamais aceitaria a proposta do faraó, mas precisamos ganhar tempo até que eu possa pensar em algo. Eu sei que ele reconhece a nossa força, sabe que quando a guerra começar, mais aliados se juntaram a nós. Esse é nosso trunfo, mas precisamos agir com cautela. Tenha paciência meu filho. E mantenha Taufik sob controle, os egípcios nos veem como selvagens, não justifiquem os pensamentos deles. —
Tushratta fala em tom altivo.— Eu falarei com ele meu pai.
O palácio egípcio era diferente de qualquer coisa que o príncipe Mitanni pudesse ter visto, mesmo tendo conhecido diversos reinos e cidades livres nada era comparável a grandiosidade daquele lugar. Tebas impunha os prédios mais altos, templos gigantescos e extremamente decorados, até os muros que protegiam a cidade das enchentes no Nilo e os canais que distribuiam a água pela cidade eram verdadeiros projetos arquitetônicos. Mais do que nunca a chama do desejo de conquistar aquelas terras ardia dentro dele.
Aliah já estava em trabalho de parto há mais de duas horas quando Tutmés é finalmente avisado. O rei encontra a mais jovem de suas esposas sob a cama, toalhas manchadas de vermelho vivo eram retiradas de debaixo da princesa pela serva, enquanto Hatshepsut segurava a mão de Aliah e falava algo que o rei não conseguiu escutar.
—O que você fez? — Questiona o rei se dirigindo a irmã desconfiado.
— Eu não fiz nada! Ela disse que caiu. — Defende-se ela.
Tut lança um olhar duvidoso sobre a princesa egípcia e se aproxima da cama, beija a testa de Aliah, o rosto dela tem uma leve mancha roxa, contrastando com a pele corada pelo calor e dor que a garota sentia.
— Meu faraó… — fala a garota que não consegue completar a frase sem ser interrompida por outra contração.
— Você vai ficar bem. Nosso filho vai nascer, precisa ser forte minha Aliah. — diz ele tentando manter-se calmo mesmo quando vê a quantidade de sangue que se esvaindo entre as pernas na garota. Ele não conhecia absolutamente nada sobre partos, mas algo lhe dizia que aquilo não era normal.
O sunu o chama num canto do quarto e lhe explica a situação. O estado de Aliah era delicado, parecia ter rompido alguma veia uterina e sofria uma intensa hemorragia. O sunu não sabia dizer se ela e a criança resistiriam ao parto. Tut sente um nó se formar em sua garganta, e usa todo o seu autocontrole para segurar as lágrimas que brotam em seus olhos.
— Precisa salvá-los. É o melhor sunu do Egito, não é? Salve-os. — Diz ele quase como um sussurro para evitar que Aliah escutasse.
—Há coisas que só os Deuses podem decidir meu senhor. A criança está bem, por enquanto ainda se move, se a tirarmos agora com certeza vai sobreviver.
— O que quer dizer com tirar? - Questiona Tutmés, ele sabia muito bem o que O sunu queria dizer, ouvira muitos soldados comentarem nas campanhas sobre os sacerdotes que arrancavam os bebês de dentro dos ventres de suas mulheres através de cortes em seu abdômen, faziam isso quando o parto parecia impossível ou logo após a morte materna. Algumas vezes as crianças eram salvas, mas as mães eram condenadas à morte com o procedimento, que ia contra as leis dos deuses que impedia que homens interferissem nas decisões de vida e morte tomada por eles.
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Tutmés III - O Faraó Guerreiro - CONCLUÍDA
Ficción históricaSinopse: Após a morte misteriosa da rainha Hatshepsut, o jovem e obstinado faraó Tutmés III toma como missão retomar a grande glória egípcia. Ele cruza o deserto anexando territórios, derrotando inimigos e em pouco tempo sua fama de faraó guerreiro...