Os Hicsos - Parte II

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Os Hicsos - Parte II

"No momento em que o escravo decide que não quer ser escravo, suas correntes caem ao solo. Se libera e mostra aos outros como fazê-lo. A liberdade e a escravisão são estados mentais". Mahatma Gandhi


Finalmente chegara o grande dia em karnak. Opet era um festival dedicado a Amon e com certeza, um dos mais importantes festivais no Egito. Ele marcava o início da estação de cheia do Nilo. Egípcios vinham de todos os lados para a cerimônia, que durava muitos dias, no auge da cerimônia havia um ritual onde Amon transferia seus poderes para o Faraó, havia música, dançarinas, comida e bebida de graça a todos os peregrinos.

Aliah terminava de se arrumar com ajuda de Sahiti.

— Você parece uma rainha—
Diz Sahiti num suspiro.

A princesa se aproxima do espelho e não reconhece aquele reflexo. Ela usava um leve vestido de linho branco e fios de ouro bordados, a cintura era demarcada com um cinto dourado, cravejado de pedras coloridas, sob seus ombros um pesado colar egípcio decorado com muitas pedras preciosas, contas e um pingente de ouro de  Iset, com as assas abertas. Depois de muito esforço, Sahiti havia conseguido esconder seus longos e volumosos cabelos sob uma tradicional peruca trançada e demarcado seus olhos com kajal preto e sombra azul, brincos no formato da deusa Iset, completavam o traje da princesa.

Aliah fitava o espelho tentando reconhecer-se sob os pesados adereços, mas quase que imediatamente comecou a livrar-se do incômodo que eles lhe causavam.

— O que está fazendo? Aliah eu demorei horas para te arrumar, você está tão linda! — exclama a serva pesarosa.

— Perdoe-me Sahiti, mas eu não posso. Esta não sou eu. 

— Aliah... tudo bem, deixe pelo menos a maquiagem e use algumas pulseiras, ou vai parecer com qualquer serva do Egito. E és uma princesa, noiva do faraó.

— Certo Sahiti, usarei pelo seu esforço. Ainda temos algum tempo até o festival ser iniciado, poderiamos aproveitar que quase todos estão nos patios de karnak e ir até a vila, ver se o escravo está bem.

— Aliah! Eu te disse que assim que o guarda que é meu amigo puder, eu darei o cordão a ele, para que entregue ao escravo. E farei isso. 

— Eu não estou duvidando de você ou de seu amigo, mas eu só queria ver se ele está bem. E hoje é uma boa oportunidade, quase todos estão ocupados com o festival. Eu sei que não é longe daqui.

— Está certo Aliah.  Porque eu sempre acabo servindo a senhoras sem juízo. Minhas amigas tem que escovar perucas e banhar suas senhoras e eu tenho que entrar escondida numa vila de escravos! O que você está  fazendo?

— Eu não posso ir numa vila, vestida assim. - Diz a jovem tentando se livrar do vestido.

— Ah você vai vestida assim sim! Se te confundirem mais uma vez com um popular o faraó manda cortar minha garganta. Anda vamos logo, eu não quero perder a abertura do festival porque estou na vila dos escravos.

As duas jovens saem sorrateiramente do prédio. Donkor está ocupado demais tentando manter os pequenos canaeses sob controle, para perceber a ausência da princesa.

Elas andam por cerca de meia hora até a entrada da vila dos escravos, Sahiti avista seu amigo Phillieus, um jovem guarda que a tempo tentava seduzir a jovem.

— O que esta fazendo aqui? Não deveria estar no festival?

— Deveria, mas minha senhora deseja ver o escravo de que lhe falei.

Tutmés III - O Faraó Guerreiro  - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora