O Livro dos mortos - Parte dois
Os sacerdotes queimavam folhas e incenso a fim de purificar o ambiente dos maus espíritos, Tutmés não conseguia desviar os olhos do pequeno corpo disposto sobre a mesa de pedra.
O vizir se aproxima do rei cabisbaixo e coloca a mão sobre o ombro dele.
- Sinto muito meu faraó, sei que ainda é cedo mas deve tomar uma decisão sobre o destino de Hatshepsut.
- Nossas tradições me impedem de executá - la enquanto a alma de meu herdeiro é transmitida aos deuses - ele diz.
- Seu herdeiro?
-Ele seria meu escolhido. E não tente argumentar sobre isso.
- Lamento meu senhor, mas quanto a Hat? Ela é o último membro de sangue puro de sua linhagem meu senhor. Não sei se executá -la será o mais indicado a se fazer.
- Ela poderia ser o próprio Hórus e mesmo assim eu derramaria o sangue dela, vizir, ela matou meu filho! - responde o rei.
-Sim meu faraó e eu concordo, mas como seu vizir devo alerta-lo que os apoiadores da antiga rainha poderão desgostar muito de sua decisão.
- Aqueles que se levantarem contra mim, por causa de uma assassina, não merecem mais do que o que ela terá - conclui o faraó.
- Entendo meu faraó e assim será feito. Mas há outro assunto que requer sua atenção.
- Agora vizir?
- Sim meu senhor, infelizmente nossos inimigos não respeitarão seu luto, o general Dedun pediu para avisa-lo sobre uma movimentação nas tropas.
- Peça para Dedun me encontrar na sala do trono, pela manhã resolvemos este assunto. Agora se não se importa vizir, gostaria de acompanhar a preparação do meu Menkheperré.
-É claro meu senhor, com sua licença.
Tutmés exigiu que sua criança tivesse o mesmo tratamento de um faraó, e não apenas fosse enfaixado e colocado numa urna como a maioria das pequenas crianças egípcias.
A primeira fase da preparação do corpo de uma criança pequena exigia a presença de um familiar, que fazia as honras e orações em nome dela para que os deuses purificarem seu corpo e o ambiente e assim pudesse ser seguido ritual para limpeza e conservação da carne. Já era tarde da noite quando o rei finalmente deixa o menino, era a última vez que o veria, mas de qualquer forma aquele não parecia mais com o seu filho. Ele entrega um de seus pequenos amuletos de Osíris para que seja enfaixado junto a criança. A partir dali, o pequeno seria aberto, teria seus órgãos retirados e colocados em pequenas urnas, seu corpo seria extremamente limpo e banhado em cera e mel e por dias repousaria em um berço de natrão, apenas depois de noventa dias seria enfaixado e seu corpo estaria pronto para descansar em uma das câmaras da tumba do faraó.Tutmés retorna aos aposentos de Aliah, a moça parece dormir serena, quando a serva se aproxima de cabeça baixa.
-Disebek deu algo para ela dormir meu senhor, estava muito nervosa. Deseja que eu leve a menina?- diz a mulher se aproximando do berço.
- Não, deixe- a. Envie a ama quando for hora dela se alimentar.
- Como quiser meu senhor. -
Diz a serva se retirando.Tutmés caminha até o berço da menina, a garotinha dormia tranquila enquanto o pai deixa algumas lágrimas escaparem. Ele esfrega os olhos e respira fundo, jamais devia ter deixado tais sentimentos crescerem dentro dele, ele era um faraó e dentro de dois ou três dias teria de fazer escorrer o sangue da própria irmã. Ela não poderia viver, não depois de tentar destruir o seu legado, por muito pouco ele não perdeu também Niuserré. Mas para muitos, ele sabia que as suas crianças não passavam de sangue comum e sangue ruim, talvez a atitude da irmã fosse concebida como um ato de amor ao Egito e aos seus antepassados. Seria péssimo ter de enfrentar uma guerra civil em meio às batalhas com os Mitanni.
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Tutmés III - O Faraó Guerreiro - CONCLUÍDA
Historical FictionSinopse: Após a morte misteriosa da rainha Hatshepsut, o jovem e obstinado faraó Tutmés III toma como missão retomar a grande glória egípcia. Ele cruza o deserto anexando territórios, derrotando inimigos e em pouco tempo sua fama de faraó guerreiro...