Os sacrifícios da Coroa - Parte II

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Os Sacrifícios da Coroa
Parte II

O dia amanhece ensolarado em Tebas, e Aliah prepara sua pequena para o primeiro banho do dia. A bebezinha, mesmo muito pequena, já sabia impor suas vontades e o calor a incomodava a ponto de chorar por horas. Os banhos ajudam a aliviar a irritação e a jovem mãe não os poupava a fim de manter a filha confortável.

- Está um belo dia - ouve a voz de Tutmés seguido de sua mão pousando em seu ombro enquanto ela coloca o bebê na bacia de água levemente morna - O que acha de um passeio pela cidade? - Conclui ele.

-Um passeio? Não estamos mais em guerra? Não acabou de perder o seu general mor? Desculpe, mas não parece hora apropriada para um passeio - Retruca a garota sem tirar os olhos da filha.

- E com certeza não é, mas desde que te trouxe pra cá, passamos pouco tempo juntos. Há belos lugares em Tebas, deveríamos conhecê-los...- hesita pebsativo - Enquanto ainda existem - diz e dessa vez consegue chamar a atenção do olhar da esposa.

- Não os conhece?

- Sempre estive ocupado demais para passeios. Vamos? E porque não chama uma serva para fazer isto? - fala olhando para filha no tacho de água.

-Eu sou a mãe dela, em Kadesh é trabalho da mãe, não há servos nos paparicando todo o tempo. E não acha perigoso andarmos por ai, com a doença e depois do que ordenou fazer aos doentes?

- Não iremos como uma família real, mas de qualquer forma o povo entende que sacrifícios são necessários, muitos vieram prestigiar a ascensão de Hat. Eu não quis fazer aquilo, eu precisei. Não pense que isto não tem me atormentado todas as noites. -
Diz o faraó dotado de uma sinceridade que comove Aliah.

- Tudo bem, vou terminar de banhá- la e vestir algo mais apropriado - ela fala.

-Deixe que eu termino - diz o faraó tomando posição e segurando o bebê sob a água.

- Nem sabe se banhar sozinho, não vai saber banhar um bebê...

- Mas eu posso aprender, vá se trocar, sei que tenho de manter a cabeça dela para fora da água, já é um começo - fala o rei com um pequeno sorriso.

Aliah se afasta deixando Iset aos cuidados do pai. Com toda a certeza, ela sabia que provavelmente ele devia ser o primeiro faraó que se propunha a fazer tal ato. Os reis do Egito eram tratados como deuses encarnados e quaisquer tarefas cotidianas, mesmo que envolvessem os próprios filhos, estava abaixo deles, e a moça sente seu coraçao se aquecer ao ver o modo desajeitado, mas cauteloso so rei com a bebê.

O faraó sorri ao encarar o rostinho rechonchudo da filha, era ganhará peso nas últimas semanas, não lembrava em nada o bebê frágil e magro que Aliah dera a luz. A princesinha impunha uma pele bronzeada, cabelos negros espessos que começavam a formar ondas, olhos redondos de um castanho acinzentado, um nariz bem talhado como os do seu pai e os lábios carnudos da mãe.

- Você é muito bonita sabia? - Diz o faraó enquanto lava com cuidado os cabelos da menina.

Terminado o banho ele a enrolou num manto e sobre a cama seca o pequenino corpo e entre sorrisos e brincadeiras, ele unta a criança num óleo perfumado e por mais que tentasse não conseguiu posicionar o cueiro de forma para que não caísse antes que a esposa retornasse e pudesse rir de suas tentativas.

- Acabei de descobrir porque guerras são assuntos de homens.
- Ele diz levantando a bebê e vendo o cueiro cair novamente - É muito menos complicado que isto. Será que pode me ajudar?- ele fala sorrindo.

- Não é tão difícil, deixe-me mostrar. Você dobra assim coloca este outro pano aqui, pega seu bebê e o posiciona no centro, então pega essa ponta e dobra sobre essa e junta essa outra e prenda tudo com essa amarra aqui. Aí é só esperar ela rechear de urina e fezes e você começa tudo de novo. - diz a moça pegando a filha e beijando seu rosto - Estamos prontas.

Tutmés III - O Faraó Guerreiro  - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora