A arte da Guerra

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A arte da guerra - Parte I

Na manhã seguinte Aliah desperta sozinha, de certa forma ela já estava acostumada com a mania irritante que Tutmés tinha de nunca se despedir. A jovem mãe acaricia a filha que dorme nos braços da serva, antes de se direcionar a janela onde tudo parecia tranquilo como sempre.

O sol já estava quase a pino e o faraó devia estar longe, ela segura o cordão de Hórus entre os dedos e faz uma pequena oração. Tudo que queria era que seu amado voltasse pra casa em segurança, estranho era saber que isto poderia custar a vida de Taufik, mesmo assim este continuava sendo seu maior desejo. Afinal das contas, para seu irmão, ela não pertencia mais a kadesh e se algo acontecesse ao faraó, ela e sua filha estariam em apuros nas mãos de Satiah.

Aliah respira fundo e toma a sua filha nos braços, desde a morte do pequeno Menkeperré se mantinha ao máximo ao lado da menina, mesmo que a bebê não fosse ameaça a ninguém, a princesa temia por sua vida.
Ela caminha com a criança até os aposentos de Hatsheptsut, que parece distante com o olhar perdido sob um mural que aparentemente acabara de ser destruído com outras tintas.

— Hat? Você está bem?

—Esse quarto pertenceu a minha mãe, ela mandou pintar esse mural. Aquela alí é ela, eu e minhas irmãs e todas estamos sob as asas de Iset. Ela dizia que um dia eu seria uma faraó e não apenas uma grande esposa real, por isso não me fez primeira mulher de Tutmés como mandavam nossas tradições. Ela dizia que nós mulheres éramos mais poderosas que os homens, mais poderosas do que o próprio faraó. E ela foi, ela governou o Egito.  Mas me diga Aliah, que poder pode ter alguém que tem que assassinar o próprio sangue para se manter na coroa?

— Eu sinto muito Hat, sei a dor de perder um filho. Mas imagino que a sua é ainda pior depois de ler aquela carta.

— Ela levou o que mais amei, levou meu pequeno Hórus. Teríamos sido tão felizes, as coisas teriam sido tão diferentes.

— Eu lamento — é tudo que Aliah  consegue dizer.

—Tutmés estava certo, o nome dela deve ser varrido da história do Egito. A rainha Hatshepsut era uma maldita impostora!

A morena se aproxima e conforta a princesa desolada com um abraço e em seguida coloca a pequena Iset em seus braços.

— Ela está tão bela — diz Hatshepsut entre um soluço e outro.

— Precisa se recompor, este reino também é seu. Precisa ocupar o seu lugar de direito ao lado de seu irmão. Precisa ser a mãe do príncipe herdeiro.

— Tutmés já tem um herdeiro.

— Não, ele não tem. Niuserré tem sangue comum, você é a única que pode lhe dar um filho de sangue real. O Egito está em guerra e ela pode durar anos. Se Tutmés não tiver o apoio de todo o povo, ele vai perder. E você merece ser mãe, não deixe que te tirem essa alegria definitivamente — ela fala voltando o olhar ao bebê —
E não é só isso. Pelos deuses eu não quero pensar que algo de ruim vai acontecer com ele, mas se acontecer, Satiah será a rainha mãe. Não foi o vizir que me entregou a carta, foi Satiah.

—Contou isso a Tutmés?

— Sim, mas ela é ardilosa. Ele não acreditou nas minhas palavras. Se algo acontecer a ele, ela vai matar a mim e a minha filha. E eu não creio que deixará você em paz sabendo que será única com sangue do antigo faraó. Nós o amamos e pelos Deuses, eu espero que o reinado dele seja longo, mas nós sabemos qual é o destino de homens forjados pra guerra. Precisamos cuidar uma da outra. — diz Aliah olhando firme nos olhos da princesa chorosa.

(...)

Longe dali a caminho de Amurro, Tutmés e sua comitiva cavalgam apressados. Nahur segue ao lado dele e deveriam alcançar a cidade em dois ou três dias, não teriam tempo para descanso. A batalha se iniciaria assim que chegassem e os Mitanni deveriam ser expulsos das terras egípcias, outra derrota do seu exército não seria admissível.

Tutmés III - O Faraó Guerreiro  - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora