Única

469 39 0
                                    

Única

Ó, única, amante sem igual, 
de todas a mais bela! 
Ela é como a estrela da manhã ao nascer
no começo de um ditoso ano. 
Brilha radiosa a sua pele resplandece, 
sedutor é o fitar de seu olhar, 
doce a palavra de seus lábios, 
seu falar é (sempre) contido. 
Longo é seu pescoço, 
brilhantes são os seus mamilos, 
seu cabelo é de verdadeiro lápis-lazúli, 
mais belo que ouro são os seus braços 
e seus dedos como lotos a desabrocharem. 
De coxas duras e cintura fina, 
 as pernas proclamam sua perfeição. 
Gracioso é seu porte ao andar no chão, 
cativa meu coração (só) ao mover-se. 
Ela faz todo homem virar o rosto
 para (melhor) contemplá-la. 
Feliz aquele que ela abraça, 
torna-se o primeiro dos homens! 
Ao sair de tua casa 
ela é como a outra Única. Poema datado da XX dinastia egípcia. 


Durante mais de mil anos os faraós vinham imprimindo sua marca em karnak. Sempre tentando superar seu antecessor, os reis do Egito travavam uma batalha pacífica e silênciosa, no qual o vencedor seria aquele que mais demonstrasse seu poder, riqueza e amor aos Deuses. E isto era provado através de uma multitude de obeliscos, pátios, salões cerimoniais, pilones, estátuas e paredes com relevos — tudo finamente decorado com hieróglifos e pinturas no complexo de karnak.

Tutmés  aos poucos também impunha seu selo, o rei mandou construir uma sequência de templos dedicados a seus deuses favoritos, alguns jardins e piscinas gigantescas onde eram realizados centenas de rituais todos os anos.

A rainha Satiah foi acomodada no templo de Taurret, trouxe com ela suas servas mais leais e o vizir se encarregou de escolher pessoalmente seus guardas. Os empregados e sacerdotes do templo foram dispensados de suas funções, mesmo com tudo sob controle Satiah temia que o plano dela e de seu pai fosse descoberto. Um Deus naceria ali custe o que custasse. Mas se algo desse errado, nem mesmo o carinho e os anos que passou junto ao faraó, poderiam salvá-la de ser julgada como uma traidora do reino. Porém, seu pai sempre foi um exelente professor e ela sabia que grandes conquistas exigiam grandes riscos. 

Durante anos, ela tentou engravidar , costumava ser a companhia preferida do faraó, ou pelo menos era, até a princesa de kadesh atravessar em seu caminho, mas mesmo assim os deuses nunca lhe concederam um filho, nem sequer uma gestação. E a tempo, no palácio sua infertilidade era comentada por todos e muitos atribuíam a sua origem. Sua mãe em mais de 20 anos de casamento, deu apenas uma filha ao vizir, e era nela que ele depositou todos os seus sonhos de alcançar o poder supremo no Egito.

— Onde está o faraó? — pergunta ela ao vizir ao notar a falta de seu marido desde que chegaram a karnak.

— Imagino que no prédio da justiça, onde vive a sua concubina canaesa minha senhora.

— Ele me deixou aqui sozinha, para ir atrás dela?

— Eu te avisei que esta menina é perigosa, minha rainha. Mas você subestima o poder dela sobre o faraó.

— Eu acho que é você  quem subestima o meu poder sobre ele pai.

—Sejamos sinceros Satiah, você nunca conseguiu conquistá-lo. Se tivesse feito isso, não precisariamos nos arriscar tanto com este plano pra garantir o seu lugar e o nosso futuro.

— E o que faremos com a garota? 

— Ela não é mais um problema, não com um herdeiro a caminho.

— Mas não há  nenhum herdeiro a caminho, e se ele desconfiar, e se ela também  tiver um filho?

— Ele será obrigado a escolher o seu como sucessor, ele não vai desconfiar, precisa disto tanto quanto nós.  Agora fique calma, deixe que ele se divirta com a princesa e quando a criança nascer e ser reconhecida, o faraó não será mais necessário, o Egito será nosso e você poderá descontar todas as suas frustrações femininas naquela puta — diz o vizir em tom de deboche.

Tutmés III - O Faraó Guerreiro  - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora