Sangue do meu Sangue

215 22 4
                                    

Sangue do meu Sangue

Dias se passaram em Tebas, Hatshepsut continuava a habitar na pequena e desconfortável moradia arranjada por Nahur. A cada dois dias, o hicso trazia um saco com comida e água, desta vez se preocupou em trazer alguns cobertores para forrar a esteira de madeira que lhe servia de cama. A alegria pelo mimo durou poucos segundos ao constatar que talvez ela ainda precisasse ficar muito tempo escondida, vivendo como um sangue comum qualquer.

— Não reclame, eu revirei o quarto de Seth, interroguei parentes dele e ninguém tem idéia de porque ele cometeria tal crime. Você é a única explicação que eles acham.

— Ainda não consigo crer que Seth fez aquilo — diz a princesa balançando a cabeça.

— Pra sua sorte, o faraó está mais preocupado com os Mitanni agora, eles tomaram Amurro, dentro de dois dias rumamos ao norte para tentar contê -los.

— Apenas você e Aliah sabem que estou aqui, eu duvido que meu irmão permita que ela saia do palácio. Como viverei até voltar? E se morrer?

_ Bom eu te arranjei um emprego numa taberna aqui perto. O dono se tornou meu amigo, ela não é frequentada por soldados ou nobres, então dificilmente será reconhecida.

— Uma taberna? Eu sou uma princesa!

— Viva como uma popular ou passe fome até que eu volte. Será bem tratada lá, mas tente ser simpática com as pessoas ou seja… Tente não ser você certo?
— alfinetou o hicso.

—Está se divertindo com isso, não é?

— Estou. Vai ser muito divertido ver uma princesinha soberba como você servindo cerveja para beberrões imundos de “sangue comum”, mas veja pelo lado bom, pelo menos uma vez na vida vai ter servido ao seu povo.

— Seu idiota! — Diz ela, deferindo uma bofetada contra o rosto do homem, quando arma a segunda,  Nahur segura seu braço antes que o acerte e a puxa contra seu corpo.

Hatshepsut sente seu peito acelerar, de alguma forma Nahur mexia com ela, e isso era odioso, afinal ele era um nada, um escravo convertido em soldado por uma ironia do destino. Ela sente o rosto dele se aproximar do dela, enquanto seus braços fortes dele enredam sua cintura, seus lábios se tocam levemente enquanto os olhos verdes do rapaz a encaram sedutoramente. Ela resolve entrar no jogo dele e sorri maliciosamente e quando sente a pressão dos lábios dele contra os seus, pisa com força em seu pé o empurrando e desferindo uma joelhada entre suas pernas, que faz o loiro se contorcer de dor.

— Seth também me ensinou a me defender. Se tentar me beijar de novo pode esquecer de ter filhos um dia.

—Oh… Devo admitir você tem um belo chute. E embora eu não pretenda ter filhos, não sou o tipo de homem que precisa forçar um beijo.  Ai merda. Isso doeu!

— Era pra doer, Eu sou uma…

—Princesa do Egito, não se preocupe que não esquecerei, você e seu irmão fazem questão de ficar lembrando a todo o instante o cargo que ocupam. Como se alguém fosse esquecer.

—Você parece ter esquecido.

—A taberna fica na próxima ruela virando a esquerda, esteja lá assim que o sol se por todos os dias. Seu nome é Kafka. Até a volta, orincesa.

A tarde seguia quente e abafada no palácio, desde a morte do pequeno príncipe um silêncio aterrador ecoava pelas paredes de pedra. Por mais que a criança tivesse sangue ruim, ainda era um filho legítimo do faraó e sua estada tão breve no mundo dos vivos não poderia ser um bom sinal dos deuses. Eles certamente estavam descontentes  e derramariam sua fúria sobre todo o Egito. No entanto a pequena Iset ganhava peso e vigor a cada dia, a pequena desacreditada ao nascer surpreendia Disebek e o sunu a cada nova avaliação, o que servia de alento a jovem mãe desiludida.  Naquela tarde Aliah passeava com sua filha nos braços, mostrando a ela as lindas pinturas e relevos esculpidos nas paredes de pedra, embora o bebê certamente não entendesse nada parecia ter muito interesse no colorido das cores.

Tutmés III - O Faraó Guerreiro  - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora