Nem todos servem ao faraó

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Nem todos servem ao faraó

Passaram - se duas semanas desde que o exército egípcio deixou Megido, o ritmo da marcha reorganizou a caminhada e as crianças canaesas, jaziam horas atrás do batalhão real.
Seguiam escoltados por soldados de baixo escalão, feridos e doentes, que não conseguiam acompanhar a velocidade dos demais.

Os homens daquele batalhão, eram diferentes dos que anteriormente acompanhavam as crianças. Aliah ainda não sabia dizer se isto era bom ou ruim, suas vestes muito mais simples, corpos magros e olhares pesarosos, semelhantes aos que costumava ver nos escravos de seu antigo lar. Eles falavam pouco e comiam ainda menos. Nos dias com o exército, Aliah percebeu que a hierarquia também estava presente ali, ela e as crianças mesmo longe do batalhão principal ainda recebiam boas porções de comida e água enquanto aos soldados era lhes servido poucos grãos e frações racionadas de água, não havia grandes tendas, a maioria dormia ao relento, aquecidos por fogueiras ou encostados uns aos outros.

A noite, quando o silêncio e a escuridão reinavam a jovem princesa podia ouvir as conversas tristes dos homens. Para muitos, voltar pra casa com vida era a única recompensa pelo ano dedicado ao faraó.

No dia seguinte Maggidah distribuía os pães cedidos por um soldado as crianças, diferente dos outros, aquele soldado causava um arrepio frio nas duas jovens, Aliah ouvirá por muitas vezes o soldado reclamar da falta de comida e pelo fato de prisioneiros estrangeiros estarem recebendo melhor tratamento que os próprios soldados. Muitos ouviam seus pequenos discursos de ódio contra os comandantes e até mesmo ao próprio faraó, mas nenhum deles ousava repetir na presença de um soldado de escalão maior.

Naquela manhã, o soldado rebelde toma coragem e reclama da pequena porção que lhe é servida, fala mais algumas coisas tão rapidamente que Aliah não consegue entender, mas é a ela e as outras crianças que ele se refere.
Minutos depois, o oficial responsável pelo pequeno batalhão se aproxima do soldado, o derruba com dois socos e em seguida o chicoteia por mais algumas vezes. Ela e as crianças fecham os olhos e se encolhem temerosas com a violência.

A jovem, guarda sua porção de pão e mais tarde caminha em direção ao soldado açoitado e entrega a ele. O homem a encara por alguns segundos e lança o alimento ao chão, ela o fita sem entender e volta a se juntar ao seu grupo, sem dizer quaisquer palavras.

Quando a noite cai, as crianças dormem amontoadas umas às outras a fim de se aquecerem. O chefe do batalhão que devia fazer a guarda delas também repousa exausto a alguns metros. Aliah, sonolenta despreza os passos em sua direção e em seguida sente uma pressão enorme contra a sua boca, ela tenta gritar e se debate, mas seus esforços são inúteis, ao seu redor vê outras crianças serem imobilizadas enquanto alguns soldados tem suas gargantas cortadas, antes mesmo que despertem. Não se tratava de um ataque de tropas inimigas, era uma revolta interna.

Em poucos minutos o boa parte do batalhão sangrava silenciosamente sobre a areia, as crianças haviam sido amarradas e amordaçadas. O batalhão seguinte havia tomado um vantagem de cerca de uma hora ou mais durante o dia, e agora Aliah entendia o porque do ritmo tão baixo de alguns soldados. Não eram muitos os revoltosos, mas o líder se destacava dos demais. Iniciaram a caminhada assim que a ordem se estabeleceu, as crianças amarradas e os soldados revoltosos seguiam o mais rápido que podiam a fim de tomar o máximo de distância da comitiva.

Aliah não conseguia entender o que estava acontecendo, ou quais seriam as intenções do grupo, depois de quase um dia inteiro de caminhada, sem pausas eles finalmente param, os lábios da princesa, assim como das crianças, estavam ressecados pela mordaça e a sede. É servido a eles alguns goles de água antes de serem amordaçados novamente.

Tutmés III - O Faraó Guerreiro  - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora