Quando só resta a sí mesmo

229 22 2
                                    

Quando só resta a sí mesmo

Aliah sente uma forte dor no ventre e nas costas, mas ela precisa continuar. A garota levanta-se com dificuldade enquanto Donkor a observa do alto. Ele pede um arco a um dos soldados e faz dois disparos seguidos, onde um deles atravessa a panturrilha da jovem que grita de dor. O comandante aponta a flecha desta vez mirando na cabeça de Aliah, que se levanta rapidamente e sai cambaleante buscando abrigo atrás de uma carroça de grãos. O comandante desiste do tiro e na compahia dos soldados começa a descer a ladeira ao seu encalço.

Aliah quebra a flecha e se põe a correr, ou pelo menos tentar, se apoia nas paredes de barro até alcançar a rua repleta de comerciantes. Choramingando de dor, persiste em ficar de pé e assim que vê um soldado adentra a primeira porta aberta, mas o sangue que escorre de sua perna denuncia seu rastro.

Mancando, ela entra na taberna. Um espaço amplo de teto baixo e paredes coloridas com desenhos e entalhes da deusa Qetesh, protetora da fertilidade e do prazer sexual. Recosta-se  num canto escuro, orando para não ser vista e tentando controlar o choro. Segundos mais tarde um homem se senta ao seu lado.

一 Pela barriga e a cara de choro deve estar precisando de ajuda não é? 一 questionou  homem com um grosso colar colorido sobre os ombros.

一 Me deixe em paz一 responde a garota em um tom ríspido.

一Ora, não fale assim com seu novo patrão, sou o dono do lugar. Veio buscar abrigo, não é? Comida? Eu posso dar a você, ajudo moças na sua condição desde que sejam bonitas 一 diz o homem se aproximando e acariciando o rosto machucado da jovem.

一Eu não sou uma prostituta! 一 Protesta, empurrando a mão do homem, mas assim que avista o soldado adentrando a taberna ela se abaixa tentando não ser vista.

一 Não é prostituta, é pior ladra. Eles estão te procurando, não é? Fique quieta aí e eu te ajudarei 一 Conclui o homem levantando-se e indo na direção do soldado.

Aliah estava encurralada, a única chance era confiar que aquele estranho de dentes podres estivesse falando a verdade. O homem trocou algumas palavras com o soldado que saiu apressado pela porta.

一 Pronto agora você me deve, garota. Venha, está sangrando no meu chão. Vamos cuidar disso 一 Diz ele olhando para o ferimento.

Aliah segue o homem pelo corredor nos fundos, um lugar estreito e sujo com pequenas portas de cada lado. Quando abriu uma delas Aliah se separou com um quarto simples, apenas uma cama de palha com um catre sujo por cima, uma pequena mesinha e prateleiras com muitos jarros de vinho decoravam o lugar . A princesa sentiu seu coração disparar de medo, não havia se quer uma janela que pudesse fugir daquele cômodo e sabia que a ajuda teria de ser paga.

O homem vai até a prateleira e pega uma caixa com um unguento e ataduras. Ele ordena que alia se sente na cama e em seguida arranca o pedaço da flecha que atravessa a perna da garota, enquanto esta se esforça para não chorar de dor.

一O que você roubou?一pergunta o homem com um sorriso.

一Eu não roubei nada.

一O que fez então para estar sendo caçada por soldados?

Aliah respira fundo e acaricia a pequena barriga.

一 Não fiz nada.

_ Entendi, carregar um filho de um homem que não tem interesse em ter um, é perigoso. Está segura aqui, pode se lavar e te darei comida, mas terá de pagar por tudo que consumir.

一Eu não quero sua ajuda, já vou embora. 一Diz Aliah se apoiando na parede para levantar.

一Tarde demais criança, você já me deve. E vai me pagar querendo ou nao, ninguem fica devendo ao rufião. 一Conclui o homem empurrando a jovem de volta a cama.

Tutmés III - O Faraó Guerreiro  - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora