Inimigo em Casa

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Tutmés acorda desconcertado, tentando situar - se e Nahur imediatamente o ajuda a sentar- se sobre a cama.

— Água — pede com a voz sussurrada, sentindo a garganta seca.

O hicso se encaminha a uma jarra e lhe serve alguns goles.

— Devagar faraó, passou dias desacordado — diz fingindo preocupação com a sede esbravejante do egípcio.

—O que aconteceu?

—Fomos encurralados em Amurro, perdemos a batalha, mas ao que tudo indica, você matou Tushratta. Lembra de alguma coisa?

—Minha mente está confusa. Onde estamos?

— No vale, vilarejo de Kheste. Foi gravemente ferido em batalha, perdeu muito sangue é um milagre que esteja vivo.

— Era uma armadilha — fala franzindo a testa.

— Eu não sabia meu senhor, os Mitanni foram engenhosos. Bom, não fui o único a crer que adentrar o canal era uma boa forma de vencer esta batalha. Sinto muito, mas estou disposto a enfrentar as consequências da minha falha. — diz ficando de joelhos diante da cama do faraó.

—Todos cometemos erros.— fala o faraó voltando o olhar para a abertura da tenda — Levante -se. E Dedun? Sobreviveu a batalha?

— Sim, meu senhor.

—Vá buscá - lo. Devemos voltar para Tebas o mais rápido possível.

Nahur assente com a cabeça enquanto o faraó volta o olhar para a tocha ardente que ilumina a tenda. As lembranças de Amurro, ainda eram confusas em sua mente, não havia um centímetro de seu corpo que não estivesse dolorido, o simples ato de fazer o ar entrar e sair de seus pulmões era uma dolorosa missão.

Alguns minutos mais tarde Nahur volta na companhia de Dedun, o sunu e alguns sacerdotes, que depois de averiguar o estado do faraó, realizam um ritual em agradecimento a Amon - ra pela recuperação do mesmo.

Finalmente sozinhos, Dedun  pode relatar ao faraó sobre o trágico resultado da batalha. Por mais que o general acreditasse que Tutmés devia ser poupado, até estar totalmente recuperado, não havia tempo para tal. Enquanto o faraó estava de cama e tomará as decisões por ele, mas isso não poderia continuar.

— Então, basicamente dependemos de nossos aliados para que possamos defender este reino — diz o faraó em tom de decepção.

— Os mitanni também sofreram perdas, o senhor ter matado Tushratta desestabilizou-os. Ao que fui informado, Telepinus ocupou o lugar do pai, mas seus aliados não acham que ele seja experiente o suficiente para coordenar a invasão. Estão discutindo e ganhamos algum tempo com isso.

— Eu posso não me lembrar claramente daquele dia, mas sei que não matei Tushratta. Ele é quem teria me matado, se não tivesse chegado a tempo. Devo - lhe minha vida, meu amigo.

— Não me deve nada meu faraó, mas é melhor que todos saibam que o faraó derrotou o rei Mitanni. Isso trará inspiração aos homens e temor aos inimigos — fala o comandante e o faraó assente em silêncio.

—Como estão as coisas em Tebas? - Pergunta Tutmés que vê Dedun soltar o ar dos pulmões e tomar um semblante apreensivo.

— Seu filho, o príncipe Niuserré está doente. E não só ele, muitos em Tebas. A doença dos árabes alcançou a cidade, centenas estão morrendo.

— Como? Como a doença alcançou Tebas se eu… — ele faz uma pausa devido a dor e continua — Eu disse que os portões da cidade deveriam ficar fechados até o meu retorno.

— Não sei meu senhor, parece que os Mitanni enviaram carroças com presentes e corpos de doentes. Que foram recebidos pela rainha, ela não deixou que os corpos fossem queimados e sugeriu um sepultamento digno. Como nossas tradições mandam, nisso muitos se contaminaram.

Tutmés III - O Faraó Guerreiro  - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora