karnak

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"Nós homens olhamos para as mulheres como os arqueólogos vislumbram as pirâmides, são lindas e imponentes, mas todas escondem segredos tão bem guardados e profundos que só os olhos mais atentos os percebem." - Sérgio Silva

Cidade de Luxor - Complexo de Karnak


Dias depois o exército alcançava Luxor, a cidade estava em festa. Aliah nunca viu nada parecido,  Haviam pessoas por todos os lados, elas cantavam e dançavam pelas ruas oferecendo flores e vinho aos soldados. A comitiva cavalgava  por uma avenida paralela ao rio, que atravessava a cidade de um  extremo a outro e cortava outras ruas que conduziam ao cais, à necrópole e às pedreiras. O palácio governamental, o templo, os edifícios da administração e os armazéns formavam o bairro central. Nas ruas as casas modestas alternavam com prédios mais luxuosos. Para as plantações e jardins reservavam-se vastos espaços, tanto nas propriedades como nos terrenos urbanos.

Aliah conhecia o poder de um rei, mas jamais havia visto tamanha adoração. Por onde Tutmés passava as pessoas se curvavam e faziam orações. Para eles, o faraó era um Deus encarnado, uma ponte entre o mundo dos vivos e dos mortos que garantia o equilíbrio do mundo. A garota o observa enquanto cavalga a sua frente, agora, mesmo em vestes simples ele impunha um ar soberano, seus olhos e gestos eram fortes e tudo nele transpirava uma altivez ainda desconhecida para a garota. Aquele era o homem que ela ouviu tanto falar, era aquele que conquistara Canaan a força e matou seu rei diante de todos.

Ao chegarem a uma sinuosa construção de pedra, há dezenas de sacerdotes a sua espera, homens de cabeças raspadas e vestes de linho branco, adornados com jóias de ouro e maquiagem sobre olhos. Quando estão diante das escadas da construção, os portões são fechados deixando a população comum para fora. Tutmés desce de seu cavalo e em seguida ajuda a Aliah a descer, os dois trocam um olhar com um pequeno sorriso. A mente dela, ainda estava confusa sobre o que acontecia entre eles. Muitas palavras, sorrisos e pequenos cuidados eram demonstrados, ela ainda não compreendia as intenções dele, nem mesmo conseguia compreender os próprios sentimentos, mas ansiava pela sua companhia a todo o instante.

— Vida longa e um reinado próspero — diz um dos sacerdotes ao se aproximar.

— Vizir? O que faz fora de Tebas
— questiona Tutmés com um sorriso curioso.

— Recebi o mensageiro avisando sobre sua mudança de planos e como supervisionei as obras em karnak, achei que seria útil estando aqui para lhe explicar todas as questões da obra — Informa o vizir.

— Creio que haja alguém em Luxor capaz de fazer isso, sua presença não se fazia necessária
— responde o faraó. 

— Perdoe - me faraó apenas quis assegurar que todos os assuntos estivessem em ordem antes da sua chegada, conhece como sou minucioso com minhas obrigações.

— Entendo vizir. Mas esta noite não falaremos de trabalho, garanta que os soldados sejam bem alimentados e imagino que as acomodações de minha guarda e meus comandantes estejam prontas, a viagem foi longa e estamos exaustos.

— Estão ao seu dispor majestade. E esta bela moça?— Fala o vizir tomando Aliah pela mão com ares de simpatia.

— Aliah princesa de kadesh, garanta que ela e os pequenos de Canaan sejam bem acomodados também.

— Assim será majestade —responde o vizir, lançando um olhar curioso sobre a jovem.

Aliah é encaminhada a um cômodo do imenso prédio de pedra onde ela Taurus e as outras crianças se banham e recebem vestes limpas. O vestido de Aliah era o mais bonito que já vestiu em toda a sua vida, não que não houvesem belos costureiros em kadesh, mas seu pai jamais permitiu que suas mulheres usassem algo que chamasse a atenção para seus corpos. Os vestidos que Aliah tivera até hoje sempre se resumiram em longas túnicas de cor azul ou negras com poucos ornamentos e decotes discretos, suas jóias eram pequenos cordões de tiras de couro confeccionados por ela mesma ou cordões de prata ou cobre que sua mãe lhe emprestava em ocasiões muito especiais.

As crianças foram alimentadas e e em seguida uma serva conduziu Aliah pelo prédio, as colunas entalhadas e paredes decoradas com desenhos e baixos relevos enchiam os olhos da garota. Ela nunca vira tamanha riqueza de detalhes, cada pequeno centímetro das paredes do local parecia dispor de um minucioso trabalho de arte.

A serva indica que avance por imensas portas de madeira ornamentadas com entalhes de Horus.

Ela adentra o imenso comodo ricamente decorado com peças douradas e luminárias de alabastro iluminadas. Ao fundo o faraó recebe os cuidados das servas que lhe penteiam os cabelos e esfregam um óleo perfumado em seu corpo. Ele dispensa as servas e se volta a Aliah, durante uns segundos o jovem rei permanece estático contemplando a imagem da bela jovem a sua frente.

— Você está muito bonita — ele diz enquanto faz um esforço enorme pra não transparecer o quanto a imagem da princesa deixava seu corpo inquieto.

— Você também — responde um pouco sem graça, ao ver o faraó apenas usando um saiote que era comum entre os soldados egipicios, diferente de seu povo eles não tinham muitos pudores sobre seus corpos. Ele percebe o desconforto da jovem e veste um roupão de linho azul, e pede a ajuda da jovem para os adornos reais, braceletes de ouro, cinto e um pesado colar ornamentado com diversas pedras preciosas e símbolos de Deuses. Sob sua cabeça uma coroa de ouro com uma serpente cujos olhos eram dois pequenos rubis completavam o traje.

Talvez ele não fosse um Deus, mas certamente se parecia com um.” — Refletiu Aliah, ao vê-lo vestido daquela forma.

Os dois se encaminham até um suntuoso salão onde a nobreza de Luxor se diverte ao som de música, farta comida e belas dançarinas do ventre. Mais uma vez a princesa está encantada com tamanho luxo, todos se curvam na presença do faraó  que caminha até um pequeno palco onde a um trono de pedra postado.

— Hoje os Deuses se alegram, hoje eles dançam e celebram conosco. O Egito pode ser grande novamente — ele faz uma pausa e encara a todos — Muitos discutem sobre meu direito ao trono egípcio,  muitos me chamam de impostor por não ter o sangue puro de meus antepassados, muitos acreditam que não  fui concebido pelos deuses. Que não passo de um dentre os tantos filhos das putas do antigo faraó . Mas eu lhes asseguro horus proclamou por decreto. ‘Tu és meu Filho, hoje eu me tornei seu pai, eu te darei as nações como herança e os confins da terra por possessão. Você vai governá-los e guia - los para a glória! — Esbraveja o faraó, em seguida é aplaudido e ovacionado por todos os presentes.

— Eu lhes dei Canaan, eu darei o mundo aqueles que lutarem ao meu lado e a minha espada aos meus inimigos. Eu sou Tutmés III, eu sou seu faraó — grita o faraó e em seguida é aplaudido e reverenciado pelos suditos por longos minutos.

— Devemos admitir vizir, o menino tem presença.

— Ele tem muito mais do que isso sumo sacerdote e por isso é tão perigoso aos planos do clero
— responde o vizir.

— Imagino que já está tomando providências para que isso não aconteça vizir. Afinal, foi para garantir o poder do clero sob a coroa que fez sua filha a grande esposa real.

— Minha filha infelizmente tem falhado na missão de trazer um herdeiro ao Egito. Mas talvez essa seja uma forma dos Deuses falarem que é hora de uma nova dinastia se erguer — concluiu o vizir com um sorriso cruel entre os lábios enquanto observava o faraó.

Após seu breve discurso Tutmés ordena que a comemoração continue, alguns sacerdotes e ricos da região disputam a atenção do faraó por alguns minutos até que  se retirem e apenas Neturut fique ao seu lado. Ele faz um sinal para que Aliah se aproxime dele.

— É uma bela festa não acha? — diz pousando discretamente a sua mão sob a da princesa.

— Tudo aqui é tão bonito. E são mais divertidos do que eu pensava — ressalta ela a observar a pequena multidão que dançava, sorria e bebia vinho a sua frente.

— Espere até conhecer Tebas.

— Você não dança? — pergunta a moça com um sorriso e olhos iluminados.

— Não… Não seria apropriado.

— Sim eu entendo — responde em desânimo.  

— Neturut porque não leva a princesa pra dançar? Ou está muito velho para isso? Provoca Tutmés.

—Velho? Mesmo com minha idade ainda sou seu melhor guarda e na certa ainda melhor dançarino do Egito.  Venha princesa, se vai viver aqui é imprescindível que saiba honrar os deuses, beber cerveja e dançar.

Tutmés III - O Faraó Guerreiro  - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora