Os demônios do deserto

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Os demônios do deserto

Depois de cavalgar sem rumo por algumas horas, finalmente o grupo do faraó recupera a trilha dos desertores ao encontrar as marcas de uma fogueira recente. Rastrear algo ou alguém no deserto é um trabalho árduo e minucioso, a areia apaga rapidamente as pegadas, mas por sorte, os soldados fugitivos e as crianças, não eram cuidadosos ao deixar para trás seus dejetos.

O sol está se pondo no horizonte, os cavalos e homens estão exaustos, mas continuam a cavalgada antes que possam perder novamente o rastro dos desertores. Eles fazem uma pausa para se alimentar e Neturut se aproxima de Tut trazendo consigo os anseios dos homens.

— Precisamos descansar e os animais também, eles vieram lutar batalhas para você e não cruzar o deserto atrás de fezes de crianças.

— Se os perdermos, nosso acordo com Canaan também se perderá, junto com nosso ano em campanha, as vidas de muitos soldados não terá valido nada.

— Diga isso a eles não a mim... Mas o que é aquilo?

— É fumaça.

Os dois escalam a duna silenciosamente, do alto avistam as ruínas e a frente dela um pequeno acampamento ao entorno de uma grande fogueira. Tutmés avista quatro dos soldados desertores presos a um tronco, as crianças estão no chão amontoadas umas às outras, há outros corpos dispersos pelo chão, que de longe não se tinha certeza se estavam vivos ou mortos, alguns homens vestidos de negro preparam algo na fogueira enquanto conversam e soltam  gargalhadas sonoras.

— Quem são eles? — Questiona Tutmés.

— Eu já ouvi falar deles, os chamam de demônios do deserto, ficam nas rotas comerciais assaltando viajantes, mas diferente dos outros ladrões eles são conhecidos por não deixarem ninguém vivo. Roubam, torturam, matam e ainda levam os coitados que cruzaram com eles até os portos, onde são vendidos como escravos.

— Chame os homens, vamos ataca - los.

— Você não ouviu o que disse? São demônios, já ouvi falar de caravanas com mais de cinquenta homens que foram dizimadas por eles. Talvez devêssemos chamar reforços e esperar o momento oportuno.

— É a primeira vez que te vejo com medo Rut. — Diz o faraó com um leve sorriso.

— Eu não tenho medo de homens, eu sei com matá-los, mas demônios...

— Eles não são demônios e mesmo que fossem, se um Deus vivo pode ser ferido e morto um demônio também pode. Vamos, divida os homens, atacaremos por todos os lados ao meu sinal.

— Se assim deseja meu senhor — diz Neturut temeroso.

No acampamento a noite se anuncia, Aliah conforta o pequeno irmão e outra menina em seus braços, ela mal levanta os olhos como se isso pudesse fazer sua presença despercebida. Os corpos dos mortos passaram o dia espalhados na areia e ainda ali continuam, um dos homens chuta o corpo sem vida de Maggidah e reclama aos outros por terem acabado com a diversão em apenas uma noite. Eles terminam o assado comem e bebem, o líder deles caminha em direção a jovem e a arranca do meio das crianças com violência, Taurus começa a chorar e recebe uma bofetada no rosto.

— Por favor, por favor não — implora a jovem.

O homem a segura e corta a corda que prende suas mãos , ele se aproxima da garota trêmula e diz:

— Corre.

Ela olha pro irmão no chão e permanece estática.

O homem retira um chicote de seu cinto e o balança no ar fazendo o barulho ecoar pelas dunas.

Tutmés III - O Faraó Guerreiro  - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora