Entre o Amor e o Dever

247 23 6
                                    

Dois dias se passam no palácio, mesmo com a dor e ainda debilitado, Tutmés decide que já era a hora de retomar o controle sobre o reino. Na sala do trono,  ouve as aflições dos sacerdotes, que relatam sobre a calamidade da doença que atingiu a cidade.

A moléstia podia ser tratada, mas a quantidade exorbitante de doentes e as novas contaminações que chegavam todos os dias aos templos e  casas de repouso, tornava a situação insustentável. Muitos sacerdotes também estavam de cama e a produção de remédios e unguentos ficou comprometida, causando assim uma instabilidade jamais vista pelos adoradores de Amon.

— Meu faraó, se não tomarmos uma atitude, em questão de semanas a cidade será dizimada. Devemos agradar os deuses, e assim eles tiraram essa praga de nossa cidade. Os tributos diminuíram muito, estamos sendo castigados.

— Estamos em meio de uma guerra sacerdote, os Mitanni tomaram boa parte dos campos do norte, não vou deixar o estoque que temos apodrecer nos silos dos templos enquanto meu povo passa fome.

— Mas meu senhor...

— Não há mas, sacerdote. Essa é a vontade de seu faraó. Quanto aos doentes eles devem ser movidos para uma quarentena, descubra a área mais afetada da cidade e remova todos os doentes para lá. Sei que não há remédios para todos, mas tentaremos salvar aqueles que ainda estão fortes, prioridade para soldados e suas famílias. Separe - os e trate quantos puder.

— E quanto aos outros meu senhor?

— Não podemos deixar que a doença se espalhe ainda mais sumo sacerdote. Que os Deuses recebam suas almas e que seus corpos sejam queimados — diz o faraó engolindo a seco as próprias palavras.

— Está ordenando um sacrifício, meu senhor?

—Tem outra alternativa sumo sacerdote? Se tiver eu adoraria ouvi-la.

—Eu disse que deveríamos agradar os deuses, mas o senhor pareceu não dar ouvidos.

— Os deuses não resolvem nossos problemas e tenho certeza, que mesmo com sua fé, também sabe disso. Faça que minha ordem seja cumprida. E peça que tragam Ahmés até mim.

—Que assim seja, meu senhor — fala o sacerdote enquanto se afasta.

O rei caminha até as janelas da sala de reuniões de onde observa a grande Tebas, a maior e mais bela cidade entre todos os reinos, que agora estava prestes a mergulhar em um completo caos.
Seu coracão em conflito, ainda não decidiu o que faria a respeito de Ahmés. Sua traição não poderia ter outra punição se não a morte, mas por outro lado, além de ser o pai da grande esposa, Ahmés sustentava o título de vizir, o divino sacerdote, há mais de trinta anos. Ele era respeitado e amado pelo povo do Egito, mesmo que sua traição fosse revelada, haveriam aqueles que respaldassem sua atitude, na lealdade na grande faraó Hacheptsut. Diriam que ele estaria protegendo sua memória, e ela, protegendo o Egito de outro filho da carne.

Alguns minutos depois o vizir adentra o  na  compahia de dois guardas e caminha até as imensas janelas, de onde o faraó observa a cidade.

— Requisitou minha presença, meu senhor? — diz em tom altivo.

— Porque escondeu aquela carta Ahmés? Ela teria resolvido todas as questões com minha irmã, calaria os apoiadores da antiga rainha, sempre confiei em você e pensava ser um servo leal.

—E eu sou meu senhor, mas também sou um pai. Assumo minha culpa, assim que Hatshepsut lhe desse um filho, tu não pensaria duas vezes em rebaixar Satiah, és pai agora, não faria qualquer coisa pela felicidade de sua rebenta?

—  Jamais trairia o Egito, pela minha felicidade ou pela felicidade de meus filhos. Assim como você fez no dia em que se tornou o divino sacerdote, eu jurei minha vida a este reino quando esta coroa foi posta sobre minha cabeça.

Tutmés III - O Faraó Guerreiro  - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora