!NÃO ERA PRA SER ASSIM!

1.5K 136 21
                                    

DANYELLA...

Assim que a porta se fecha e o homem desaparece, deixo as lágrimas molharem o meu rosto. Meu corpo inteiro dói, principalmente o meu ventre. Uma forte ardência se instala na minha vagina, e tenho certeza que ela não é passageira. O choro começa a ficar mais intenso, tanto é que quando percebo já estou soluçando, agarrando com força os lençóis azuis.

Não é somente o meu corpo que dói, minha alma está em pedaços, formando vários caquinhos que irão demorar para se juntarem novamente. Eu quero me enterrar viva, qualquer coisa que me faça fugir dessa dor insuportável.

Nem em meus piores pesadelos eu imaginei isso, não era pra ser assim... Minha primeira vez não era pra ser assim. Passei minha adolescência inteira planejando a primeira vez que eu faria sexo... O romantismo, a tensão... O amor. Nada disso existe mais.

De repente, a porta se abre e uma mulher entra. Ela tem o corpo meio cheiinho, seus cabelos são castanhos, quase mel. Ela veste um avental branco e segura um roupão rosa.

   - Boa noite, querida. Sou a Mônica, vim te ajudar. - Sua voz é doce.

   - Não preciso de ajuda... - Me encolho na enorme cama.

   - Não vou machucar você... Pode confiar em mim. - Ela estende uma mão firme e super bem hidratada.

Com receio, mas querendo sair desse lugar horrível, me levanto e pego sua mão. Mônica sorri, um sorriso lindo, e com calma veste o roupão em mim. Seus dedos tocam suavemente os meus cabelos, seus olhos me fitam com amor.

   - O que foi? - Minha voz quase falha. O medo ainda está presente.

   - Você é muito bonita...

   - Obrigada. - Me permito sorrir.

   - Ele é um bom homem... Dê uma chance pra ele. Vai se surpreender.

   - Ele me estuprou... - O sorriso desaparece e as lágrimas voltam.

   - Apenas dê uma chance. - Mônica volta a pegar a minha mão e me leva para fora daquele maldito quarto.

Caminhamos por um corredor moderno, onde a única porta é do quarto de onde acabamos de sair. As decorações modernas estão espalhadas... São vasos, pequenas mesas... Porém as pinturas clássicas de Jacques-Louis David, que decoram as paredes, dão um excelente contraste no ambiente. Mônica segura carinhosamente a minha mão. Seu aperto é reconfortante, me trás segurança em meio a todo esse caos.

O corredor termina em uma ampla sala, decorada com mais moveis modernos contrastando com as pinturas clássicas das paredes, desta vez de Sandro Botticelli. A sala contém dois enormes sofás verdes, uma linda mesa de vidro no centro com algumas revistas em cima, e uma enorme e elegante lareira na parede da esquerda, logo ao lado de uma magnífica escada com degraus de vidro. Mas o que chama mesmo a atenção é a bela janela panorâmica, que vai do chão ao teto. Posso ver que estamos em algum andar superior. A vista lá embaixo é linda. É um maravilhoso jardim ornamental com um pequeno lago no centro e várias plantas ao redor... Samambaias, pequenos coqueiros. É simplesmente maravilhoso.

   - Sempre sonhei com um jardim desses... - Sussurro.

   - Espere até vê-lo de perto. - Mônica sorri e continua me guiando.

Abandonamos a sala e entramos em outro corredor, desta vez bem menor do que o outro, sem nenhuma decoração nem pinturas nas paredes... Apenas uma porta branca. Mônica toca delicadamente na maçaneta dourada e a gira, revelando outro enorme quarto, desta vez sem fotos minhas entupindo as paredes. O quarto é bem simples mas super delicado... Uma cama King Size com lençóis rosas; uma estante com vários livros; uma penteadeira que parece ser Vintage; um lindo guarda-roupa preto e outra porta branca ao fundo, que também suponho ser do banheiro.

   - Fique a vontade... Tome um banho e descanse um pouco. O jantar será servido em uma hora. - Ela sorri e tranca a porta.

Droga.

Giro a maçaneta para ter certeza que estou presa, e a realidade é triste. Encaro o quarto extremamente organizado, se a situação fosse diferente, eu ficaria feliz em estar aqui. Minha vida sempre foi difícil, tive que trabalhar muito para ter alguma segurança. Mas todo o dinheiro que juntei, todos os R$ 5.000,00, que demorei 3 anos para juntar... Tudo foi tirado de mim por um maldito ladrão. Eu nem tinha pisado direito no Rio de Janeiro.

Eu tinha acabado de descer do ônibus... Ainda estava dentro da Rodoviária Novo Rio. Estava mexendo na minha bolsa, procurando o meu RG, precisava dele para me hospedar no AC Hotel by Marriot Rio de Janeiro Porto Maravilha. O Hotel fica perto do terminal, seria uma caminhada rápida. De repente, um homem, que eu nem pude ver direito quem era, passou correndo por mim, arrancando a bolsa dos meus braços e a levando para bem longe. Eu berrei com todos os seguranças daquele lugar, e nenhum deles quis me ajudar. É claro que depois disso, meus pais queriam que eu voltasse pra Campo Grande, voltasse pra casa. Eles até me mandaram o dinheiro da passagem, dinheiro que eu mandei de volta. Aliás, todo o pouco dinheiro que eu ganho limpando o chão da Universidade, mando metade pra eles. Depois que consegui alugar o puxadinho, comecei a juntar dinheiro de novo. Mas como o meu salário não é muito, os R$ 5.000,00 vão demorar para serem recuperados.

Agora, vendo toda essa riqueza, toda essa beleza... Parece um sonho. Passo os dedos pelo cetim rosa da cama, sentindo a doce maciez do tecido. Toda a roupa de cama é feita com o cetim rosa. Deixando a cama, caminho até a janela panorâmica, agora tenho certeza de que estamos no segundo andar da casa. A vista é uma enorme e luxuosa piscina, a água azul e cristalina reflete a luz da lua.

Caminho devagar até a porta branca, a ardência no meio das minhas pernas ainda não passou. Giro a maçaneta dourada, parece que todas as maçanetas desta casa são douradas, revelando um banheiro totalmente branco e super luxuoso. A pia é grande e repleta de coisas femininas, como cremes hidratantes, maquiagens, absorventes... O vaso sanitário fica logo ao lado, exuberante... O box é feito de um vidro brilhante, o chuveiro é o mais moderno dessa geração...

Deixo o roupão deslizar pelo meu corpo e cair suavemente no chão, entro no box e o meu corpo treme com o choque da água fria. Aos poucos, me acostumo com o toque frio em minha pele, então permito que minhas costas relaxem.

Mil coisas passam pela minha cabeça... A primeira delas "Preciso dar um jeito de sair desse lugar". O andar é muito alto, então não posso simplesmente pular pela janela. A porta está trancada, e não tenho ideia de onde estou... Mas não vou desistir tão cedo.

Termino o banho e antes de sair do banheiro, pego um absorvente na bancada da pia. Caminho até o grande guarda-roupa e quase caio dura no chão ao abri-lo. São várias roupas lindas, vestidos, casacos... Escolho um vestido longo na cor vermelha, foi a roupa mais simples que encontrei. Abro uma das inúmeras gavetas e encontro várias calcinhas, escolho uma de renda preta. Ajeito o absorvente e a visto, seguido pelo vestido, resolvo ficar sem sutiã, já que o vestido tem as alças finas. Depois de vestida, me sento na cama e espero.





(NÃO É ROMANTIZAÇÃO DE ABUSO. ESTÁ OBRA É BASEADA NA SÍNDROME DE ESTOCOLMO, QUANDO VOCÊ SE APEGA A ALGUÉM QUE LHE FEZ MAL)

SE VOCÊ SE SENTE SENSÍVEL COM ESSE ASSUNTO, POR FAVOR NÃO LEIA!

SE VOCÊ VIVENCIA QUALQUER SITUAÇÃO PARECIDA, POR FAVOR, PROCURE AJUDA. VOCÊ, MULHER, NÃO MERECE ISSO.

AQUI É APENAS UMA HISTÓRIA.

Sequestrada Pelo Amor (Uma Vida em Cativeiro)Onde histórias criam vida. Descubra agora