Capítulo 37.

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Gosto de sentir o vento gelado em meu rosto, e o som que a minha espada faz ao se chocar contra a espada de Sultan.
Num último golpe lhe destabilizo, o fazendo cair no chão.
Puxo o ar a minha volta, e lhe estendo a mão para que se levante.

__Por hoje chega, amanhã treinaremos mais, e Sultan vê se melhora essa sua defesa.

O jovem rapaz constrangido apenas balança a cabeça sem nada a dizer, Eleonor que assistira o treinamento a todo tempo calada resolve se manifestar.

__Você não é nem um pouco piedosa com seus alunos,  hein Briana.

Me deito na grama olhando para o infinito céu azul a minha frente.

__Você melhor do que ninguém, sabe que piedade de mais, só serve para lhe matar mais rápido.

Digo em minha defesa, ao mesmo tempo que sinto uma estranha sensação me invadir.
Meus olhos pesam, e novamente sinto um estranho calor circular pelo meu corpo.

Imagens tão desconexas, borradas em um preto e branco.

Eleonor corre até a mim, assustada provavelmente com a minha respiração ofegante.

__Oque houve Briana? Fala alguma coisa você está me assustando!

Com sua ajuda me levanto, a minha cabeça latejava um pouco eu estava tão assustada quanto ela.

__Eu, eu vi imagens de mim, eu jovem deitada na grama contemplando o céu. Isso nunca me aconteceu antes oque isso significa Eleonor?

Ela me encarava com um semblante tão feliz, como a muito tempo eu não via.

__Hoo pelos Deuses! Até que enfim! Isso significa que a sua memória está voltando! Hoo céus ainda há esperança!

Sinto um nó se formar em minha garganta, sei que meu passado era um assunto um tanto delicado que todos ali evitavam de falar.
Sempre soube que me escondiam muitas coisas, tantas vezes tentei encurralar Eleonor contra a parede, mas ela sempre falava que se eu havia perdido a memória era por algum motivo. Que na hora certa os Deuses a trariam de volta.

__Como será?

Pergunto com a voz falha.

__Como será oque?

__Eu recobrar a minha memória, como será daqui em diante? Suportarei em saber realmente a verdade sobre a minha vida?

Eleonor me envolve em seus braços, durante todos esses anos era sempre ela que me consolava, uma amiga, uma verdadeira irmã.

Minha cabeça explode de dor, sinto quando mãos grossam me segura pela cintura, a minha vista turva não me permitia enxergar mais nada a minha frente.

__Leve ela para dentro Sultan, ela tá quase desmaiando.

É só oque consigo ouvir, antes de apagar de vez.

__Você é meu irmão, sempre estarei ao seu lado.

__Eu sei, mais mesmo assim tenho tanto medo irmã. Oque as pessoas falarão de mim quando souberem que eu não sigo exatamente os protocolos masculinos.

Suspiro ao mesmo tempo que deito a cabeça dele em meu colo, como eu o amava! Meu melhor amigo, meu fiel irmão.

__As pessoas tem que se preocupar mais com suas próprias vidas. Além do mais oque importa é que você seja um bom rei, assim como o papai. E você será Layon! Eu tenho fé em você.

__Eu prometo irmã, que eu sempre cuidarei de você, o papai me fez prometer, ele diz que sente que tem pouco tempo. Oque será de mim e você se ele partir?

Sorrio para ele, e volto lhe fazer o cafuné por entre seus cabelos.

__Seremos apenas eu e você contra o mundo. Igual as nossas brincadeiras de crianças. A diferença é que estaremos diante do mundo real, eu e você.

__Você e eu...!!

Rimos diante do rumo que a conversa tomara, somos interrompidos pelo conselheiro Ralf, ah como eu odiava esse homem e nem ao menos eu sabia o motivo!

__Bom dia princesa Açucena, bom dia vossa alteza! A sua presença está sendo requisitada na sala do trono, com o rei indisposto cabe ao senhor conduzir os assuntos do reino.

Layon se levanta e antes de se retirar deposita um beijo em minha testa.

__Sabe que te amo, minha irmã.

__Também amo você meu irmão!

Acordo me sufocando com o meu próprio choro entalado.
Então essa era a verdadeira verdade, as lembranças viam como cascata de cachoeira, o choro da minha filha! Eu tive uma filha! Isabell, fecho os olhos tentando de alguma forma bloquear tudo aquilo, a dor era imensa assim como o meu desespero.

Sinto que alguém se senta em minha cama, pelo leve aroma do campo era Eleonor.

__Briana? Está me ouvindo?

Fecho mais ainda os meus olhos, eu precisava organizar a minha mente, me isolar no meu canto e não conversar com ninguém.

A cada lembrança minha cabeça doía como se tivesse sendo partida em dois.

A morte de Igael, a primeira vez que nos beijamos,  e por fim a traição do meu irmão.

Aquele trono pertencia a mim. Eu era a última linhagem que sobrara dos
Nostre Montenegro.

A legítima Rainha sou eu! E a minha filha era para ser uma verdadeira princesa.
E por culpa daqueles monstros ela foi arrancada de mim, largada numa sarjeta.

Só um sentimento predominava em mim. Odio, muito ódio.

Eu tinha sede de sangue.
E eu iria me saciar.

E eu iria me saciar

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