E se?

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Sobre a mesa da cozinha estava o velho e pesado diário de Richard Jauregui, avô de Lauren. Ela havia folheado aquilo diversas vezes em busca de outras informações sobre a TiBoo, qualquer sinônimo de perigo ou de coisas que não deveria fazer. Até então, Lauren não se preocupou nenhuma vez com as consequências do uso da máquina, simplesmente porque não a havia utilizado tanto assim, isso até se dar conta do que estava perdendo.

Inicialmente foi difícil decifrar a letra do velho Richard, mas se esforçou ao encontrar algumas notas rabiscadas no rodapé das últimas páginas.

"CONTROLE", "MODERAÇÃO"

E outra que nada tinha a ver com a cabine.

"TUDO O QUE FIZ FOI POR AMOR À MINHA PÉROLA, PARA ENTÃO DESCOBRIR QUE MINHA ELA NÃO PODERIA SER, NÃO IMPORTA O QUANTO EU TENTASSE MUDAR O PASSADO"

Lauren achou aquilo engraçado, mas prosseguiu. Aquele diário praticamente contava a história do seu avô, desde quando descobriu a máquina até uns anos antes de sua morte. Olhou no relógio e constatou que estava quase na hora de ir buscar Camila. Era sábado, e juntas iriam ao evento que anunciaria o ganhador do concurso de fotografia Capture LA. Mas ainda tinha alguns minutos, voltou algumas páginas e tentou ler mais uma anotação.

"Alterações feitas após um ano ou mais são as mais perigosas. Caso precise mudar algo, tenha em mente que o presente vai se transformar COMPLETAMENTE. Você não viverá os anos outra vez, apenas um único dia, e ao acordar pela manhã sua vida não será mais a mesma."

Lauren refletiu um tempo sobre isso, parecia realmente perigoso, mas incrivelmente excitante. Sorriu e fechou o diário, outro dia terminaria de ler, pois agora tinha um prêmio para receber.

Às 18:00 horas, Lauren sentou-se no primeiro degrau da escada que levava ao apartamento de Camila. Preferia esperar lá embaixo, pois se subisse, teria que encarar a sargento Normani, e Camila já falou tanto dela, que Lauren acabou desenvolvendo um medo irracional da mulher. Entretanto, sabia que uma hora não teria como escapar. Ela só esperava que isso acontecesse quando estivesse de fato preparada.

Suspirou e checou as horas. Camila estava atrasada. Entediada, Lauren olhou para as pétalas do buquê que tinha em mãos, feito com as rosas que cultivava no canteiro de sua casa. Eram tão lindas e frágeis, que de repente lhe ocorreu ter cometido um erro ao retira-las da terra. Não que Camila não merecesse, mas as flores morriam depressa. De repente, estando envolvida em pensamentos profundos e olhando para as rosas como se as estivesse vendo pela primeira vez, concluiu que Camila realmente não merecia, pelo menos não algo temporal, algo que em breve seria apenas nada.

Se isso é tudo o que posso dar a ela, então também não a mereço, pensou.

Por um minuto aquilo fez todo o sentido do mundo, mas de repente o que parecia uma constatação importante, agora soava apenas como a baboseira melosa da qual Lauren nunca gostou. Bem que Dinah deixou avisado para não tomar nada antes de sair. Isso estava afetando seu modo de ver as coisas.

Livrou-se desses pensamentos, mas levantou-se de um pulo quando ouviu o som de passos na escada. Jogou o cabelo para trás, segurando o buquê em frente ao corpo e corrigiu a postura, esperando Camila aparecer, mas não foi Camila quem surgiu ali.

– Então VOCÊ é a famosa Lauren?

O coração da garota subiu para a garganta conforme Normani se aproximava dela com um olhar rígido e uma postura altiva. Não chegou a descer todos os degraus, parou no último e cruzou os braços sobre o peito. Lauren entendeu aquilo como proposital, Normani queria olhá-la de cima.

– Creio que chegou a hora de esclarecermos algumas coisas, Jauregui.

Enquanto calçava os sapatos, Camila temeu pela integridade de Lauren, será que ainda estava viva? Normani disse que queria conversar, apenas conhecer melhor a garota por quem Camila estava apaixonada, mas ela realmente duvidava que seria só isso.

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