Parte 4 O SUPOSTO FIM

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Uma buzina estridente faz com que Lauren perceba que está dirigindo a uma velocidade próxima de 180 quilômetros por hora na rodovia. Sua visão embaça e tremula por um instante, e por isso ela é obrigada a parar o carro. Falta pouco para chegar na escola, falta pouco para conseguir a justiça que tanto almeja.

Limpa as lágrimas com as costas das mãos e tenta respirar fundo pela boca algumas vezes. Com o carro parado no acostamento e uma faca reluzindo no banco do carona Lauren se põe a pensar no que está fazendo, buscando justiça por algo que poderia nunca ter acontecido se ela não tivesse voltado no tempo e feito tudo o que fez.
É quando percebe que seu maior medo se concretizou. Camila é uma das suas grandes consequências.

Lauren entrega-se a um choro sofrido, os braços apoiados no volante, sem nem um pouco se importar com os carros que vem e vão pela rodovia. Era óbvio desde o início seria desse jeito, mas a ideia era tão inconcebível que Lauren tratava de expulsa-la violentamente da cabeça. Tarde demais quando não se quer ver para não viver.

Fecha os olhos e reclina-se sobre o volante, encostando a testa nele, no espaço entre suas mãos. Busca acalmar-se porque agora sabe o que precisa fazer. Quando acha que está estável o suficiente, Lauren se apruma no banco, exala com força, os olhos arregalados, as sobrancelhas erguidas, então dá meia volta e segue com o carro em direção à cafeteria.

No meio do caminho vê um amontoado de pessoas em um cruzamento e uma ambulância pedindo passagem. Obviamente um acidente. O sol brilha demais, o tráfego é barulhento demais, a sirene é alta demais e um pressentimento ruim domina seu ser quando ela se aproxima da aglomeração.

Os paramédicos descem, mas a polícia já está lá pedindo aos curiosos que se afastem. Lauren não sai do carro, no entanto, passa devagarzinho, incerta sobre parar por alí ou fazer o retorno como os policiais estão instruindo.
Ela decide parar. Vê um carro completamente destruído e um caminhão com a frente completamente destruída também, pessoas chorando e outras que nem conseguem olhar para a cena. "Tão jovem" uma mulher fala, mas Lauren não compreende, pois só vê um homem, aparentemente de meia idade, sendo colocado em uma maca.
Tenta abrir espaço pela muralha de pessoas, esbarrando em algumas delas, o peito subindo e descendo rapidamente em ansiedade. E é então que Lauren a vê.

O cabelo castanho-escuro molhado e avermelhado pelo sangue, de olhos fechados como se estivesse apenas dormindo, as mesmas roupas que usava de manhã. Mas basta apenas um vislumbre do rosto dela para o chão de Lauren ser arrancado de debaixo dos seus pés. Não tem como ser verdade, aquela não é a minha Camila. Não pode ser. Camila está em casa, Camila nem anda de carro. Ela corre para perto, tomada por um desespero sem igual, mas é bloqueada por um policial alto e forte que encara-a em alerta, pedindo que mantenha a distância. Lauren se debate nos braços dele, tentando a todo custo chegar mais perto para confirmar que aquela não é a sua Camila. Não é, não pode ser.

Um paramédico chega para recolher o corpo ensanguentado e Lauren grita um conjunto de coisas incompreensíveis e desconexas, mas aquilo não é real, é só um pesadelo. Um pesadelo que Lauren descobre estar vivendo quando vê o brilho metálico da pulseira no braço da garota. Aquela mesma pulseira com um pequeno pingente de sol e lua que deu à ela no Natal e que estava no braço de Camila esta manhã.

Esse é o momento em que o mundo desaparece, Lauren permite-se desabar e tudo ao seu redor vira escuridão.

Depois disso, só consegue se lembrar de estar em um carro, deitada de forma desconfortável no banco de trás, sem saber para onde ia ou quem ia, acordando de tempos em tempos, assustada e desorientada.

A última vez em que abre os olhos Lauren já não está no carro, está deitada em um colchonete com uma toalha de mesa cobrindo seu corpo. O lugar é mal iluminado, cheio de caixas e prateleiras, como um depósito, e desta mesma forma muito silencioso.
Abatida e instável, Lauren se levanta devagar, mas cobre os olhos com rapidez quando uma porta se abre dando espaço para a luz do dia invadir o lugar.

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