29 de Dezembro

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O despertador toca às 7h05.

Já está claro lá fora, os passarinhos cantam e tudo indica que o dia será quente e brilhante. Assim começa mais um manhã, porém Camila não tem vontade de sair da cama, claro, estará de folga pelo resto dos dias até janeiro. Pega o celular, verifica as notificações, secretamente desejando ver alguma mensagem ou ligação perdida de Lauren. Não há nada. Ela nem mesmo se deu ao trabalho de justificar seu furo com Camila.

Termina o que está fazendo e desliga o celular. A última mensagem que recebeu foi da coordenadora do projeto agradecendo a colaboração de todos e avisando que este ano a escola conseguiu um número muito maior de doações, incluindo uma recebida de última hora de um doador que não quis se identificar. "Foi uma quantia alta que possibilita a escola ajudar mais famílias e até mesmo reformar suas estruturas para receber mais crianças", disse a mulher.

Isso alegra o coração de Camila, mas não o suficiente para se sentir feliz pelo resto do dia. Melancólica, ela se levanta e vai ao banheiro, o tempo todo pensando no que fará hoje e qual desculpa Lauren lhe dará.

Quando sai encontra em cima da cama uma pequena caixinha, semelhante a um celular. Curiosa ela o pega e surpreende-se ao descobrir que trata-se de um vídeo game portátil. Sorri quando, após o ligar, vê pular na tela as letras coloridas da logo do Super Mário, porém não é o nome dele que elas formam, em vez disso, formam uma pergunta:

"Você me desculpa?"

– Ah, tinha que ser... – Camila murmura, revirando os olhos.

Deixa o pequeno Nintendo em cima da cama e vai atrás de Lauren na cozinha-sala do seu apartamento. A fotógrafa não está lá. Então onde será que ela se enfiou? Camila se indaga, olhando ao redor. Sob a mesinha de centro da sala encontra uma bandeja contendo biscoitos e muffins de chocolate e um copo grande de café. Não qualquer café, claro, mas um Mocha, o preferido de Camila.

É óbvio que apesar de ainda estar chateada ela come tudo, afinal, os biscoitos de Margô são irrecusáveis. Perto de terminar, Camila repara que seu belo diário está aberto em cima da estante da TV. Por isso, de cenho franzido, ela corre para ele, tomando-o nas mãos, mas não vê nenhum de seus poemas ou desabafos escritos ali. Os versos que se seguem são mais do que Camila imaginou que Lauren poderia escrever um dia.

Porquê procurar por algo que já sabe que encontrou?
Porventura adiantaria lamentar o tempo que passou?

Se o tempo é, de fato, o meu maior inimigo
Porquê gosto tanto do tempo que tenho passado contigo?

E ainda que ele não esteja ao meu favor
Peço um favor ao tempo para conservar o nosso amor.

E para você, amada minha, prometo eternamente te amar
Se estiveres ao meu lado todos os dias quando cada dia começar.

Camila enxuga uma lágrima dos olhos, apaixonada e irritada com Lauren por ela não estar aqui. Mas aonde ela se enfiou?

Na pequena lojinha embaixo do apartamento de Camila, Lauren conversa com uma senhora acerca de produtos medicinais. Conclui que, em termos táticos, deve ficar por alí mais algum tempo até Camila encontrar tudo o que ela deixou no apartamento, esfriar a cabeça e perdoá-la.

A mulher parece feliz por ter uma cliente famosa em seu estabelecimento, por diversas vezes encontrou Lauren perambulando por alí, sempre educada e simpática, mas essa é a primeira vez que param para conversar. A mulher a conduz para um canto da loja e mostra alguns arranjos de flores aromáticas e Lauren decide comprar algumas só para garantir. Depois olha o relógio, suspira pesado e se despede da velha senhora.

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