Reinício

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Sem saber como, Lauren consegue acordar a tempo de chegar no Reed's no horário combinado. O dia anterior foi um inferno, o celular não parou de tocar e o barulho somado ao desespero fizeram com que Lauren recorresse às pílulas para dormir que encontrou no armário do banheiro. Precisava de paz, mas seu desejo incessante por álcool resultou em outro grande problema e, vendo que não teria saída, ela reuniu todas as garrafas que encontrou na geladeira e num pequeno depósito ao lado da cozinha, abriu uma por uma e despejou o conteúdo na pia. Não iria ceder, não podia. Fosse qual fosse o plano de Margô, Lauren precisaria estar cem por cento bem para fazê-lo dar certo.

Mesmo assim, de algo não conseguiu se livrar: o rosto inchado e os olhos vermelhos. Entretanto, está aqui, como uma criança obediente, sentada ao balcão no mesmo lugar em que esteve ontem, esperando pelas orientações que Margô provavelmente lhe dará. Aliás, até agora, a dona da cafeteria não deu nenhum sinal de vida.

– Onde Margô está? – Pergunta Lauren para Rita, cujo rosto transborda infelicidade.

– Dificilmente ela aparece aqui pela manhã. – Responde a moça. – Se você der sorte, talvez a encontre hoje.

Eu irei, pensa Lauren, e se distrai.

Os minutos se alongam até que se passam 15, mas Lauren ainda está ali, cada vez mais impaciente, então Rita surge com um copo de café gelado e diz que o trouxe a mando de Margô e que Lauren precisa ir embora agora. Tudo tão repentino que ela não tem tempo de demonstrar sua indignação, pois já está sendo empurrada por Rita porta a fora.

É desta maneira que Lauren entende que Margô é alguém em quem deve absolutamente confiar, pois no segundo em que põe os pés no lado de fora da cafeteria, olha só, o improvável acontece, tão improvável quanto os clichês de filme romântico.

O copo de café voa da sua mão quando um corpo magrelo se choca contra ela na calçada e aí tudo se repete, a surpresa, o pedido de desculpas. Por fim, o reconhecimento.

– Meu Deus, moça. Desc... Lauren?

Lauren está sorrindo de orelha a orelha, dessa vez não houve desastres, e ela não consegue conter as sensações maravilhosas que lhe tomam quando, então, compreende o plano de Margô.

– Ora, ora. Não conheço você de algum lugar? – Pergunta ela, totalmente entregue a missão de reconquistar Camila.

E apesar de estar genuinamente surpresa, Camila estreita os olhos e entra no jogo.

– É provável, eu sou aquela garota que virou chacota nacional após aparecer em um comercial apresentando um produto para chulé.

A gargalhada de Lauren chega aos ouvidos da latina como uma maravilhosa sinfonia, e só então ela percebe como sentiu falta disso.

– É verdade, agora eu te reconheço. Ei... O que é isso no seu cabelo? – Lauren aponta. – Esse negocinho branco aqui.

– Cocô de pombo?

– Não, boba. É um fio! Fazem apenas três anos que não te vejo e você já está se tornando a vampira do x-men!

– Não seja infantil, Lauren, eu sou a Anna do Frozen.

As duas sorriem juntas como se o tempo não tivesse passado, como se os três anos que Lauren citou fossem menos do que três horas, e assim, desde que acordou naquele apartamento esquisito e sem nenhuma lembrança, Lauren sente pela primeira vez que as coisas vão melhorar.

– Eu preciso ir andando. – Camila diz. – Ou chegarei atrasada.

– Se importa se eu te acompanhar? Estou precisando caminhar um pouco. – Responde, passando as mãos pela barriga, o que faz Camila sorrir.

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