Você quer brincar na neve?

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– Vocês deveriam mudar de apartamento. – Lauren diz quando estaciona em frente ao pequeno prédio onde Mani mora com Camila. – Eu posso ajudar, conheço um lugar que é...

– Lauren, pare. Eu já entendi que quer provar que é uma boa pessoa, mas não é assim que funciona. – Diz Normani. – Vai subir? – Pergunta, removendo o cinto de segurança.

– Eu... Acho que sim, só para dar um oi para Camila.

Normani solta uma risada sem humor e sai do carro. A noite está fresca, as ruas movimentadas, parece haver alguma comemoração ali por perto ou talvez sejam as esperanças de Lauren, crescendo e modificando sua forma de enxergar o mundo.

Ao chegarem lá em cima, a garçonete reclama, desanimada:

– Ah, essa porta...

– Deixa comigo.

Lauren pega impulso e empurra a porta com o ombro, abrindo-a de primeira, o que deixa a outra impressionada. Isso é resultado dos anos de prática de quando namorava Camila, mas é algo que ela não pode contar.

– Prontinho.

– Vou ver se Camila está acordada, fique à vontade.

Após entrar e se sentar, Lauren observa a noite pela pequena janela da sala. Não deixa de notar também que tudo naquele apartamento está exatamente igual como no dia em que ela e Camila se beijaram pela primeira vez, um dia que tecnicamente nunca aconteceu. Lembranças demais de uma vida que a muito não existe mais.

No entanto, é retirada dos seus devaneios quando Normani reaparece na sala, com um semblante desanimado. Está na cara que vem uma má notícia por aí, então Lauren se prepara.

– Camila está acordada, mas não quis abrir a porta para mim. Pela voz, parece que andou chorando.

– Chorando?

– É, isso tem acontecido algumas vezes...  – Normani fala baixinho, coçando a cabeça como se estivesse diante de um problema irreparável. – Olha, é melhor você ir embora.

– Não! Por favor, deixe-me falar com ela. Pelo menos tentar, por favor, Mani.

A garota ergue os braços em rendição, apertando os lábios, como quem diz "Boa sorte" e imediatamente Lauren se levanta e segue para o quarto de Camila. Bate duas vezes e espera, mas não ouve nada. Bate outra vez e eleva a voz para que Camila possa saber quem a chama.

– Sou eu, a Lauren.

Silêncio. Apenas silêncio.

– Camila? Fala comigo.

Sente-se esperançosa quando ouve o barulho dos passos de Camila, mesmo assim, a porta não se abre. Ela sabe que tem algo errado e por isso não vai desistir. Encosta-se na porta, pensando em algo para dizer quando, de repente, a inspiração surge.

– Você quer brincar na neve? – Cantarola. – Um boneco quer fazer?

Nenhuma resposta, porém Lauren não desiste.

– Você podia me ouvir e a porta abrir, eu quero só te ver... – Espera, os segundos se alongam, por fim, acrescenta – Por favor, não me mande embora.

Ela para de falar e encosta a testa na porta, tudo indica que não obterá sucesso, porém, no último segundo, a porta se abre e Lauren se desequilibra, quase caindo dentro do quarto. Camila está ali, olhos e nariz vermelhos, um lenço de papel na mão, e no segundo seguinte joga-se nos braços da fotógrafa, escondendo o rosto no pescoço dela enquanto chora. 

– Hey... – Lauren diz baixinho, acariciando-lhe os cabelos. – Está tudo bem, eu estou aqui.

Camila funga algumas vezes, molha a camisa de Lauren com lágrimas e catarro, então, pela primeira vez se pronuncia de uma forma que mistura choro e riso:

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