Outra vida

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Agosto de 2015

Lauren abriu os olhos devagar e se viu em frente ao museu Paul Getty, a exatos 3 anos atrás, quatro dias antes do Capture LA, concurso que havia perdido por conta de uma atitude displicente. Sentiu uma pequena tontura e uma onda de estranheza, pois estava de volta ao corpo anteriormente mais magro e vigoroso.

Levou um tempo para habituar-se, depois respirou fundo. Agora era sua chance de fazer diferente, de fazer a coisa certa. Não queria ser interrompida, por isso pegou o celular e ignorou as mensagens de Camila a convidando para um café, desligou o aparelho e o colocou de volta no bolso.
Sua concentração agora estaria voltada apenas para as fotos que ia tirar, mas então lembrou-se de Zayn Malik, seu adversário. Teria que fazer algo para o tirar da jogada. Não bastava registrar as fotos antes dele, precisava de um plano para garantir que dessa vez não perderia.

Olhou no relógio. Uma hora e meia até o por do sol. Sentou-se num banco de concreto e varreu o lugar com os olhos, porque tinha que permanecer atenta para o momento em que o rapaz apareceria. Cerca de dez minutos depois ela o viu caminhando distraído pelo aglomerado de pessoas que chegavam ao museu. Era agora que Lauren deveria agir.

Pegou o celular e fingiu estar concentrada nele, ia recriar o esbarrão, só que um pouco mais violento do que foi. Da primeira vez, ela não tinha reparado na pequena câmera na mão do rapaz, mas seus olhos a detectaram agora, e seria realmente uma pena ter que destruí-la.

Com longas passadas, Lauren foi em direção a ele. Precipitou o corpo para cima de Zayn como se houvesse tropeçado e acabou jogando o rapaz no chão. Por conseguinte, a câmera voou longe e foi pisoteada por algumas pessoas que correram para os ajudar. Enfim, Lauren conseguiu o que queria.

Seu coração ainda estava cheio de fúria, mas afinal, ela só estava consertando as coisas, qual o problema em querer mais da vida? Seu avô teria feito isso também. Quanto mais lia a história dele naquele diário, mais Lauren achava que todas as suas virtudes vieram de Richard Jauregui, a força e a coragem de lutar pelo que queria, o direito de ser o centro das atenções, de estar no time vencedor.

No fundo, no fundo, ela sabia que, ao fazer isso com Zayn, tinha ultrapassado todos os limites, que agiu de modo censurável. Mas não podia se arrepender agora, não tinha tempo para refletir acerca da sua falha de caráter.
Colocou-se de pé, fingiu que se sentia culpada e garantiu até que lhe compraria uma nova câmera, mas o rapaz estranhamente pareceu não se importar. Carregava uma expressão tranquila, tinha olhos doces e amáveis, e em vez de se exaltar com Lauren, ele a tranquilizou.
Por sua vez, ela não esperava isso, ficou sem reação por um momento, mas logo se recompôs.

– Eu... Eu sinto muito. – Falou ela. E enquanto dizia isso, a voz que Lauren ouvia era de alguém que desprezava.

Em mais um ímpeto de sobriedade, pensou: Não posso continuar, não consigo. Eu não sou assim, não sou a pessoa detestável que Camila disse que eu era.

Fechou os olhos, sentindo uma pontada em sua têmpora, e relembrou os últimos momentos que passou com a latina. As coisas que ela disse foram propositais, para fazer parecer que Lauren tinha se tornado irresponsável. Aquilo não era verdade, e Camila havia mudado também, se tornado uma chata que só sabia pegar no pé dela, não podia vê-la se divertindo um pouco que já disparava suas observações cortantes.
A verdade é que ambas, em algum ponto, se distanciaram de suas essências e se perderam uma da outra, mesmo convivendo todo dia.

Agora, a cabeça de Lauren estava dividida entre deixar tudo de lado ou prosseguir com o plano. Mas não queria ter aquela vida miserável, era uma ideia tão difícil de aceitar que a garota tratou de expulsar o pensamento com violência. Não podia voltar atrás, tudo o que estava fazendo era necessário, e continuaria por um bem maior.

Despediu-se do rapaz depois que ele se certificou de que ela não havia se machucado, então Lauren voltou para o banco, com a sensação de que algo dentro dela, naquele instante, perdeu-se por completo.

Ao cair da noite, as fotos já haviam sido registradas, e no caminho para casa Lauren parou em uma loja de bebidas com um nome confuso e deprimente. Comprou algumas latas de cerveja e uma garrafa do vinho menos duvidoso que encontrou e voltou para o carro com a sacola tilintando. Comemoraria sozinha a virada que sua vida ia dar, tudo ia finalmente entrar nos eixos.

Já em casa, ela ligou o som no volume máximo, pois era uma das vantagens de não ter vizinhos, e ao som de The 1975 saiu saltitando pela cozinha. Ao se recostar na pia e se servir de uma taça, Lauren suspirou e se permitiu pensar uma última vez em Camila antes de afogar suas memórias dela com o vinho que comprou.

Foda-se. Foda-se tudo.

Esvaziou a taça e passou a tomar direto do gargalo. Aquele seria seu sedativo, e enquanto bebia sentia a tensão ser aliviada dos seus ombros, deixando-a mais calma e despreocupada.
Pegou o celular, mas pensou melhor e decidiu não ligá-lo. Tudo bem ficar sozinha hoje, tudo bem se quisesse permanecer assim pelos próximos anos, afinal, o amor apenas ferrou com sua vida.

Caminhou para a varanda e sentou-se nos degraus, observando a noite e o brilho do lago Castark. Aquele não era um recomeço, era um novo começo, e por isso Lauren decidiu que faria algo que nunca fez. Pulou da varanda e cambaleou em direção ao lago enquanto tirava suas roupas. Nem quando adolescente ela teve vontade de fazer isso, mas agora parecia uma boa ideia, portanto, tirou peça por peça, e rindo se jogou na água.

– Então essa é a sensação de nadar pelada! – E caiu na gargalhada. O álcool a impedindo de pensar direito.

Em determinado momento, foi pega por uma pequena correnteza e quase se afogou, mas conseguiu firmar os pés no leito arenoso. Jovem demais para morrer, seu futuro tinha tudo para ser brilhante a partir de agora. Por isso, Lauren saiu da água e voltou tremendo para o casarão.

Poderia prometer muita coisa para si mesma agora, talvez conseguisse manter o equilíbrio entre a dedicação ao trabalho e às coisas boas da vida. Sem complicações, seria uma aproveitadora como seu avô foi. Uma verdadeira lenda. Viveria para ver suas fotos ganharem o mundo, daria mais valor aos seus pais, seria mais presente na vida de seus irmãos, sairia mais com Dinah, retomaria o contato com Ally, e seria feliz. Tristeza podia haver um pouco, mas não mais que o absolutamente necessário. Era um novo começo, tudo seria diferente quando acordasse.

Ansiosa por isso, Lauren entrou no quarto e se jogou na cama. A cabeça girava, o coração batia desenfreado, mas não demorou muito a pegar no sono. Sua nova vida a esperava.

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