Quem disse que acaba assim?

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– O que pretende fazer agora? – Margô perguntou.

O dia estava esfriando, Lauren sentia algo no ar, uma espécie de ansiedade misturada a toda a dor dentro do seu peito. Era medo do futuro.

Sentada ali perante Margô, ela ponderava o que poderia fazer daqui para frente, qualquer coisa que não a tornasse uma pessoa estúpida e banal, embora achasse difícil. Sem Camila, ela se sentia desprovida de méritos, sem virtudes ou propósitos. Então tinha um futuro gigantesco pela frente, uma sucessão de dias vazios, cada um mais desanimador e incompreensível que o outro. Seria possível que essa experiência toda tenha servido apenas para transformá-la em alguém que vive sua vida apenas em função de outro? Não.

Lauren sabia que Margô tinha razão, a dor ia passar. Talvez demorasse alguns meses, anos, décadas, mas passaria ou ela simplesmente aprenderia a conviver com ela. Só que ainda estava cedo para se conformar.

– Vou me certificar de que aquele monstro jamais colocará um dedo nela. – Respondeu.

A velha assentiu com a cabeça.

– Algum último conselho, Margô?

– Viver cada dia como se fosse o último.

– Muito convencional, mas acho que não tenho energias para isso. – A moça respondeu, entristecida.

– Então seja prática, corajosa, audaciosa, se esforce para fazer a diferença. Não no mundo, não na vida de todas as pessoas que conhece, mas um pouquinho ao seu redor. Seja fiel aos seus princípios, viva bem e plenamente, experimente coisas novas, aprenda a amar outra vez. Permita-se. Siga em frente. O destino já se encarregou de tudo.

Foi a vez de Lauren assentir. Essa era a teoria geral, embora não tivesse começado muito bem. Foi então que algo em sua mente estalou, antes de se levantar para ir embora lembrou que precisava esclarecer algumas dúvidas, quem sabe quais outras oportunidades teria se saísse agora?

– O sentido da vida. Julguei ser uma coisa, no entanto não condiz com o que acabei de ouvir. Esclareça-me.

– É simples, querida. O sentido da vida é você quem dá.

Dando de ombros e até um pouco decepcionada Lauren se despediu. Segurou as mãos da senhora e beijou uma por uma. Se bem lembrava, receberia uma ligação da mãe daqui a pouco e cogitou adiantar as coisas, ir buscar os talheres ingleses, viajar para a casa dos pais e se aproveitar do calor materno para se sentir melhor.

– Obrigada por tudo. Acho que você poderia guardar a cabine para mim, por um tempo ou pela vida toda, você decide. Não a quero mais usar.

Com um murmúrio que Lauren não ouviu, Margô respondeu:

– Nem eu. – Mas assentiu e apertou as mãos da fotógrafa, como que estabelecendo um acordo.

Lauren virou-se para sair, mas parou no meio do caminho.

– E Margô? Qual o significado desse nome? Onisciente? Sabe-tudo? Oráculo?

Com uma risada fraca, Margô balança a cabeça negativamente.

– Nada disso, menina. Margô significa Pérola. Esquisito, não?

– Nem um pouco. Eu diria que faz muito, muito sentido.

Sem dúvida estar de volta era bom. O velho casarão de Richard Jauregui estava lá intocado, a varanda empoeirada, o pequeno jardim na lateral da casa repleto de lindas flores, o lago Castark brilhando como nunca. Lauren chorou de emoção ao chegar em seu lar, gostou até mesmo da sensação de dirigir seu antigo carro. A vida como era antes. 

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