POV WILL
O DIA SEGUINTE foi melhor… e pior. Foi melhor porque ainda não estava chovendo, apesar de as nuvens estarem densas e pretas. Foi mais fácil porque eu sabia o que esperar do meu dia. Silena veio se sentar comigo na aula de inglês e me acompanhou até a aula seguinte, com a Lou Ellen Clube de Xadrez olhando de cara feia o tempo todo; isso foi meio lisonjeiro. As pessoas não ficaram me encarando tanto como no dia anterior. No almoço, fiquei com um grupo grande que incluía Silena, Lou Ellen, Charles, Frank e várias outras pessoas de cujos nomes e rostos agora eu me lembrava. Comecei a sentir que estava boiando na água, e não me afogando nela. Foi pior porque eu estava cansado; ainda não tinha conseguido dormir com a chuva caindo na casa. Foi pior porque a Sra. Varner chamou meu nome na aula de trigonometria quando não levantei a mão, e acabei dando a resposta errada. Foi lamentável porque tive que jogar vôlei e, na única vez que não me abaixei para escapar da bola, acertei dois colegas de time na cabeça com uma jogada ruim. E foi pior porque Nico di Ângelo não foi à escola. Durante toda a manhã, tentei não pensar no almoço, sem querer me lembrar dos olhares cheios de ódio. Parte de mim queria confrontá-lo e exigir que me dissesse qual era o problema. Enquanto estava deitado insone na cama, cheguei a imaginar o que diria. Mas eu me conhecia bem demais para pensar que realmente teria coragem de fazer isso. Talvez se ele não fosse tão lindo. Mas, quando entrei no refeitório com Charles, tentando evitar que meus olhos vasculhassem o lugar à procura dele e fracassando completamente, vi que seus quatro irmãos adotivos estavam sentados juntos à mesma mesa, e ele não estava com eles. Silena nos interceptou e nos conduziu à mesa dela. Charles pareceu empolgado pela atenção, e os amigos dele logo se juntaram a nós. Tentei prestar atenção nas conversas ao meu redor, mas continuei pouco à vontade, esperando a chegada de Nico. Eu esperava que ele simplesmente me ignorasse quando chegasse e provasse que eu estava fazendo tempestade em copo de água. Ele não apareceu, e fui ficando cada vez mais tenso. Segui para a aula de biologia mais confiante quando, lá pelo final do almoço, ele ainda não tinha aparecido. Silena, que estava começando a parecer estranhamente, sei lá, possessiva em relação a mim, andou ao meu lado até a sala de aula. Hesitei por um segundo na porta, mas Nico di Ângelo também não estava lá. Soltei o ar e fui para o meu lugar. Silena me seguiu, falando da futura viagem que faria à praia. Ela se demorou na minha carteira até o sinal tocar, depois sorriu para mim de um jeito tristonho e foi se sentar ao lado de um menino de aparelho e um corte de cabelo meio cuia. Eu não queria ser arrogante, mas tinha quase certeza de que Silena estava a fim de mim, o que era uma sensação estranha. As garotas não prestavam muita atenção em mim em Phoenix, ela era bonitinha, mas a atenção que me dava me deixava pouco à vontade. Por quê? Porque ela me escolheu, em vez de eu escolhê-la? Era um motivo idiota. Era meu ego enlouquecido, como se a decisão tivesse que ser minha primeiro. Mas essa possibilidade não era tão idiota quanto a outra em que pensei: eu torcia para que não fosse pelo tempo que passei olhando para Nico di Ângelo no dia anterior, mas estava com medo de ser. Será que eu era gay e estava a fim do Nico? Isso era ridículo, se eu fosse gay e baseasse minha reação à aparência de um garoto, num rosto como o de Nico, eu estava ferrado. Aquilo era fantasia, não realidade. Fiquei feliz por ter a carteira só para mim, por Nico estar ausente. Disse isso a mim mesmo várias vezes. Mas não conseguia me livrar da sensação irritante de que eu era o motivo da ausência dele. Era ridículo e egoísta pensar que eu podia afetar tanto uma pessoa. Era impossível. Mas eu não conseguia deixar de me preocupar. Quando o dia de aula enfim terminou e o rubor pelo incidente no vôlei desapareceu do meu rosto, vesti rapidamente a calça jeans e o suéter pesado. Saí correndo do vestiário, satisfeito por descobrir que tinha conseguido escapar de Silena por um tempo. Andei rapidamente para o estacionamento. Estava abarrotado de alunos indo embora. Entrei na minha picape e vasculhei a mochila para ter certeza de que tinha o que precisava. Não era segredo que Apolo não sabia cozinhar grande coisa além de ovos fritos e bacon. Na noite anterior, pedi para cuidar da cozinha enquanto estivesse ali. Ele estava disposto a me deixar assumir. Uma busca rápida revelou que ele não tinha comida em casa. Então, fiz minha lista de compras, peguei o dinheiro no pote do armário rotulado DINHEIRO DA COMIDA e fui para o Thriftway. Disparei meu motor ensurdecedor, ignorando as cabeças que se viravam na minha direção, e dei a ré para entrar na fila de carros que esperavam para sair do estacionamento. Enquanto aguardava, tentando fingir que o estrondo de furar os tímpanos vinha de outro carro, vi os "Cullen" entrando no carro deles. Era o Volvo novinho. Claro. Eu ainda não tinha percebido as roupas que usavam — fiquei hipnotizado demais pelos rostos. Agora que olhei, ficou óbvio que todos usavam roupas que deviam custar mais do que meu guarda-roupa inteiro. Com sua beleza extraordinária, eles podiam vestir sacos de lixo e ainda assim lançar moda. Parecia um exagero que fossem bonitos e também tivessem dinheiro. Mas, pelo que eu sabia, na maior parte do tempo a vida era assim. E aparentemente isso não lhes trazia aceitação por aqui. Não, eu não acreditava plenamente nisso. O isolamento devia ser escolha deles; eu não conseguia imaginar nenhuma porta que não se abrisse para aquele grau de beleza. Eles olharam para minha picape barulhenta quando passei, como todo mundo fez. Só que eles não eram como todo mundo. Vi a garota do cabelo longo devia ser a Zoe doce-amarga. Fazia sentido. Enfim, Zoe estava casualmente com a mão no quadril da garota com cabelo espetado, apesar dela ser uma garota bem segura, ainda fiquei meio surpreso dela se sentir à vontade para fazer aquilo. Não por serem lésbicas mas pelo fato de que a Thalia não era… abordável. Tipo, nem The Rock ousaria assobiar para ela, se é que você me entende. A garota do cabelo espetado " Thalia" me viu olhando, e a forma como apertou os olhos para mim me fez virar para a frente e pisar no acelerador. A picape não foi mais rápido, o motor só roncou mais alto. O Thriftway não ficava longe da escola, só algumas ruas ao sul, junto à rodovia. Foi bom estar dentro do supermercado. Parecia normal. Sempre fiz as compras da casa, e me voltei com facilidade à rotina do trabalho familiar. O mercado era bem grande por dentro, e não consegui ouvir o bater da chuva no telhado para me lembrar de onde estava. Quando cheguei em casa, guardei todos os mantimentos e rearrumei os armários até tudo estar organizado de um jeito que fizesse sentido. O sistema de Apolo era meio caótico. Eu esperava que ele não se importasse, que não tivesse TOC em relação à cozinha como eu. Quando fiquei satisfeito com a organização, comecei a preparar o jantar. Tenho uma espécie de sexto sentido no que diz respeito à minha mãe. Percebi quando estava colocando a carne marinada na geladeira que não avisei para ela quando cheguei. Ela devia estar surtando. Subi a escada dois degraus de cada vez e liguei o velho computador no quarto. Demorou um minuto para ganhar vida, e precisei esperar a conexão. Quando fiquei online, três mensagens apareceram na minha caixa de entrada. A primeira era do dia anterior, enquanto eu ainda estava viajando.
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More than I imagined -Solangelo -twilight
RomanceNUNCA PENSEI MUITO em como morreria, embora nos últimos meses tivesse motivos suficientes para isso, mas, mesmo que tivesse pensado, não teria imaginado que seria assim. Olhei fixamente através do grande salão, dentro dos olhos escuros da caçadora...