Impaciência

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POV WILL

QUANDO ACORDEI, ESTAVA confuso. Demorei mais tempo do que devia para lembrar onde estava. O quarto era neutro demais para pertencer a um lugar que não fosse um hotel. Os abajures estavam presos às mesas de cabeceira e as cortinas eram feitas do mesmo tecido da colcha. Tentei me lembrar de como tinha chegado ali, mas de início nada me ocorreu. Lembrei-me do carro preto, o vidro das janelas mais escuro do que os de uma limusine. O motor era quase silencioso, embora disparássemos pelas estradas negras com o dobro da velocidade permitida.E me lembrei de Percy sentado comigo em vez de na frente com Annabeth. 

Lembrei-me de perceber de repente que ele estava ali como meu guarda-costas, que o banco da frente não era perto o suficiente, ao que parecia. Devia ter feito o perigo parecer mais real, mas tudo parecia a um milhão de quilômetros. O perigo que eu corria não era o perigo com o qual me preocupava. Fiz Percy montar uma vigília estranha de fluxo de consciência futura durante toda a noite. Não havia detalhes pequenos demais para mim. Ele me contou passo a passo como Nico, Carine e Zoe se deslocariam pela floresta, e apesar de eu não conhecer nenhum dos locais que ele mencionou, fiquei hipnotizado pelas palavras. Depois, ele voltava e descrevia a mesma sequência de outro jeito, conforme algumas decisões alteravam o futuro. Isso aconteceu várias vezes, e era impossível acompanhar, mas não me importei. Enquanto o futuro não colocasse Nico e Quione no mesmo lugar, eu conseguiria continuar respirando.

Às vezes, ele mudava para Earnest, para mim. Earnest e Thalia estavam na minha picape, seguindo para o leste. O que queria dizer que Ocatvian ainda estava atrás deles. Percy teve mais dificuldade para ver Apolo.

— Os humanos são mais difíceis do que os vampiros — disse ele.

E lembrei que Nico tinha me falado alguma coisa sobre isso uma vez. Parecia anos antes, mas foram apenas alguns dias. Eu me lembrava de ficar desorientado por não conseguir entender o tempo. Eu me lembrava do sol surgindo acima de um pico baixo em algum lugar da Califórnia. A luz machucou meus olhos, mas tentei não fechá-los. Quando eu os fechava as imagens que piscavam por trás das minhas pálpebras como fotografias eram demais. Eu preferia que meus olhos queimassem a vê-las de novo. A expressão arrasada de Apolo… os dentes à mostra de Nico… o olhar furioso de Thalia… os olhos vermelhos da rastreadora me encarando… o olhar mortal no rosto de Nico quando ele deu as costas para mim…  

Mantive os olhos abertos, e o sol se moveu pelo céu. Eu me lembrei da cabeça ter ficado pesada e leve ao mesmo tempo conforme passávamos por uma montanha, e o sol, atrás de nós agora, se refletia nos telhados da minha cidade. Não me sobravam emoções para que eu sentisse surpresa de termos feito a viagem de três dias em um. Olhei sem expressão para a cidade que se espalhava à nossa frente, percebendo lentamente que era para significar alguma coisa para mim. O raquítico chaparral, as palmeiras, os campos de golfe, as manchas turquesa que eram as piscinas, tudo isso era para parecer familiar. Eu devia sentir que estava voltando para casa. As sombras dos postes de luz formavam na estrada marcas mais agudas do que eu me lembrava. Tão pouca escuridão. Não havia lugar para se esconder naquelas sombras.

— Qual é o caminho para o aeroporto? — perguntou Annabeth, na primeira vez que falou desde que entramos no carro.

— Fique na I-10 — respondi, automaticamente. — Vamos passar já por lá.

Demorei mais alguns segundos para absorver as implicações da pergunta dela. Meu cérebro estava enevoado de exaustão.

— Vamos pegar algum avião? — perguntei a Percy. Eu não conseguia pensar no plano. Mas aquilo não parecia certo.

— Não, mas é melhor ficar perto, só por garantia.

Lembrei-me de começar o retorno para o Aeroporto Internacional Sky Harbor… mas não de terminá-lo. Acho que deve ter sido nessa hora que meu cérebro falhou. Mas, agora que recuperara as lembranças, eu tinha uma vaga impressão de ter saído do carro, o sol atrás do horizonte, meu braço em torno do ombro de Percy, o dele me arrastando enquanto eu cambaleava pelas sombras quentes e secas. Eu não tinha lembrança deste quarto. Olhei o relógio digital na mesa de cabeceira. Os números vermelhos afirmavam que eram três horas, mas eu não tinha como saber se era noite ou dia. Nenhum fiapo de luz escapava ao redor das grossas cortinas, mas o quarto estava iluminado pela luz dos abajures. Levantei-me com o corpo rígido e cambaleei até a janela, puxando as cortinas. Estava escuro lá fora. Três da manhã, então. Meu quarto dava para uma parte deserta da rodovia e para o novo estacionamento de mensalistas do aeroporto. Senti-me um pouquinho melhor ao conseguir situar tempo e lugar. Olhei para baixo. Eu ainda estava com a camisa e a calça curta demais de Earnest. Olhei o quarto e fiquei feliz por encontrar minha bolsa de viagem em cima da cômoda baixa. Uma leve batida na porta me fez pular.

More than I imagined -Solangelo -twilightOnde histórias criam vida. Descubra agora