Ousadia

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POV WILL

Naquela noite, Nico apareceu em meus sonhos, como sempre. Mas o clima da minha inconsciência mudara. Fiquei arrepiado com a mesma eletricidade que senti naquela tarde e me virei na cama sem parar, acordando com frequência. Eram as primeiras horas da manhã quando finalmente afundei em um sono exausto e sem sonhos. Quando meu despertador tocou, eu ainda estava cansado, mas também animado. Depois do banho, me olhei no espelho do banheiro enquanto penteava o cabelo molhado. Eu estava com a mesma aparência de sempre, mas havia alguma coisa diferente. Meu cabelo estava loiro jogado para o lado como sempre, minha pele, pálida demais, e meus ossos estavam com a mesma forma dentro do corpo, sem terem mudado nada. Meus olhos continuavam azul-claros olhando para mim… mas percebi que eram os culpados. Eu sempre achei que era a cor que os faziam, e, por extensão, todo o meu rosto, parecerem tão inseguros, mas apesar de a cor não ter mudado, a falta de segurança, sim. O garoto que estava me olhando agora estava determinado, seguro de suas ações. Eu me perguntei o que tinha acontecido. Eu achava que tinha um palpite. O café da manhã foi o de sempre, silencioso, como eu esperava. Apolo fritou ovos para si mesmo; eu comi uma tigela de cereal. Perguntei-me se ele tinha se esquecido do sábado.

— Sobre este sábado… — começou ele, como se pudesse ler meus pensamentos.

Eu estava ficando paranoico sobre esse assunto.

— Sim, pai?

Ele atravessou a cozinha e abriu a torneira.

— Ainda está determinado a ir a Seattle?

— O plano era esse. — Fiz uma careta, querendo que ele não tivesse levantado o assunto para eu não ter que compor cuidadosas meias verdades.

Ele espremeu um pouco de detergente no prato e o esfregou com uma esponja.

— E tem certeza de que não pode voltar a tempo para o baile?

— Eu não vou ao baile, pai.

— Ninguém convidou você? — perguntou ele, com os olhos concentrados no prato.

— Não é o tipo de coisa de que eu gosto — lembrei a ele.

— Ah. — Ele franziu a testa enquanto secava o prato.

Eu me perguntei se ele estava com medo de eu ser um pária social. Talvez eu devesse ter contado sobre os convites. Mas isso sairia pela culatra. Ele não ficaria muito feliz se soubesse que recusei todos. Aí, eu teria que contar para ele que havia um garoto… e eu não queria ter que falar disso. Isso me fez pensar no baile e em Calipso e no vestido que ela já tinha e na atitude de Léo comigo e toda aquela confusão. Eu não sabia o que devia fazer. Em qualquer universo, eu não ia ao baile. Em um universo em que Nico di Ângelo existia, eu não me interessaria por nenhuma garota. Não era justo seguir de acordo com os planos de Calipso se meu coração não queria isso. O problema era decidir como… Apolo então saiu, com um aceno de despedida, e eu subi para escovar os dentes e pegar meus livros. Quando ouvi a radiopatrulha arrancar, só precisei esperar alguns segundos para olhar por minha janela. O carro prata já estava ali, esperando na vaga de Apolo, na entrada de carros. Desci a escada três degraus de cada vez e saí pela porta da frente, perguntando-me quanto tempo mais duraria essa rotina estranha. Eu não queria que tivesse um fim. Ele estava esperando no carro e não pareceu ver quando fechei a porta sem me incomodar em passar a chave. Andei até o carro e hesitei por um segundo, antes de abrir a porta e entrar. Ele estava sorrindo, relaxado — e, como sempre, tão perfeito que chegava a doer.

— Bom dia. Como está hoje? — Seus olhos vagaram por meu rosto, como se a pergunta fosse algo mais do que mera cortesia.

— Bem, obrigado. — Eu estava sempre bem, muito mais do que bem, quando estava perto dele. Seu olhar se demorou nas minhas olheiras.

More than I imagined -Solangelo -twilightOnde histórias criam vida. Descubra agora