O Olhar em Meio ao Relâmpago

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Maysha cavalgava com apreensão em seus olhos. A chuva estava para cair a qualquer momento, e a jovem, sabendo disso, apressava a cavalgada para chegar na taverna mais próxima. Salistick era um Reino que ela não conhecia muito, apenas de ouvir falar. Pelo que escutara de um povoado pelo qual passou, seu destino imediato estava próximo. Seu cavalo já aguentara mais do que ela previa, mesmo sem as melhores condições para ele, estando há horas sem comer ou beber. Ela não podia hesitar, precisava seguir o mais rápido que pudesse.

Quando as gotas de chuva começaram a cair, ainda tocando a pele de forma leve, a visão da taverna, cinza, de aparência suja, e talvez enfadonha, era bela para a viajante, um abrigo para o temporal que viria. Ao adentrar, logo se fez notar por aqueles que ali já estavam. Fazia dias que a jovem não encontrava companhia humana, porém aquelas pessoas, de longe, não eram a melhor definição de companhia, mas era o que ela dispunha no momento. Estava acostumada a homens de aparência mais fechada e assustadora vindos das diversas tribos de Tah Par - um tipo de sub reino da União Púrpura, liderados pela Tribo Gurka Khan. Era mais do que habituada a feições mais agressivas. Entretanto, aqueles homens estavam longe da honraria pregada por Gurdhann, rei de Tah Par. O ar que eles passavam era de pura altercação, visando a possibilidade de fazer maldades sem escrúpulos com a menina. Ela, até então, não havia notado tais intenções, até porque, eles se continham um pouco, analisando as curvas do corpo da jovem.

— Por favor, eu gostaria de uma refeição completa!  — disse ela, com água na boca sem mesmo imaginar o que a aguardava, sentando-se logo após o pedido feito.

Não houve resposta. O taverneiro, com a cabeça baixa, permaneceu concentrado no que estava fazendo. Maysha não avistou nenhum atendente naquele momento. Apenas vasculhou o local com mais cuidado. Pôde notar o tom escuro do lugar com mais precisão, o quanto a luz era fraca, dificultando uma análise mais completa das pessoas que ali estavam. Viu um homem velho e solitário, pra lá dos cinquenta anos, bem no canto do recinto, como se estivesse escondendo sua dor, afogado na bebida. Um pouco mais à esquerda, dois homens com vestes simples e sujas, com dois machados recostados ao lado da mesa, conversavam muito baixo, como quem não queria incomodar. Lentamente, ela foi olhando mais para a esquerda, vendo um homem ao fundo, estando tão escuro que ela sequer pôde notar sua aparência com precisão. A silhueta apenas permitiu ver que possuía roupas largas e cabelos longos, escuros e soltos. Continuando a varredura, olhou para os tais homens de aparência duvidosa e feições obscuras. Desviou logo o olhar. 

A jovem voltava a tentar decifrar aquele que ela não havia conseguido ver com precisão. A máxima concentração fez com que não notasse que os homens de intenções suspeitas haviam se levantado da mesa. Enquanto eles se aproximavam, ela parecia compenetrada, como se estivesse hipnotizada. 

Um forte relâmpago fez iluminar a taverna pelas janelas. Num pequeno instante, Maysha se assustou por dois motivos. O primeiro motivo foi o olhar daquele que ela tentava decifrar. Dessa vez, a garota não o via como uma silhueta apenas, mas como um todo, mesmo que de relance. Contudo, ignorando o restante, apenas focou no olhar, profundo e cativante, triste em algum momento. O segundo motivo foi notar que os três homens estavam muito próximos, tanto que um deles chegou a tocar no braço de Maysha. Ela, num susto e em puro reflexo, impediu que o homem agarrasse seu braço.

—  Mas o quê? — disse a bárbara, sem poder terminar de concluir sua pergunta, tal era o espanto causado pelo gesto daquele homem.

A garota tentou se levantar da cadeira, mas foi impedida, sendo rostida pelos membros inferiores de um deles, que visivelmente tentava encostar suas partes na jovem. Um deles, parecendo ser o líder, sorriu de forma sarcástica, pretendendo encostar sua mão no rosto da jovem, mostrando os dentes amarelados e em podridão.

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora