Interrogatório

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O homem abatido por Akio estava rendido, com a parte de trás da pequena foice em sua boca e a espada em sua barriga. Sua perna e braço, além de parte do seu tronco, estavam feridos em cortes milimetricamente calculados. O olhar intimidador do Samurai deixava tudo mais difícil para aquele homem. Nem se matar, mordendo a própria língua, ele poderia. Em pouco tempo, aquele tamuraniano pensou em tudo. O homem, que há pouco caçava Maysha, pôde compreender que o tamuraniano não se tratava de um guerreiro qualquer. Porém, como se isso tudo já não bastasse, ainda havia o fato das feridas mortais do Samurai parecerem não importar, principalmente a do coração. "Como era possível ainda estar de pé?" — pensava o homem abatido.

— Está vendo seu amigo no chão?  — disse Akio, com uma voz cortante, mesmo com seu sotaque rebuscado.— Se você não responder as minhas perguntas, sua morte não será como a dele. Será lenta, bem devagar. Você vai desejar a morte, e ela não aparecerá. Vai querer estar no lugar dele, sem a cabeça, porque seria melhor do que tê-la e sentir tudo o que você vai sentir.

Yamazaki Akio pôde analisar muito bem o seu adversário naquele momento estático. O homem tinha tatuagens sinistras pelo corpo. Símbolos como crânios humanos e de diversas raças, sangue e, principalmente, foices. O Samurai desconhecia os símbolos, mas pelo ar que seus adversários emanavam, a forma como lutavam e as vastas cicatrizes deixavam-no alerta para o que isso poderia significar.

Ainda concentrado, Akio notou a aproximação de Maysha e Eadwine.

—  Senhor Akio — disse Eadwine, milindroso. — O senhor precisa de cuidados urgentes.

—  Esse símbolo... — disse Maysha, fazendo força para se lembrar.

— Já viu antes? — Era Akio, sem tirar os olhos do homem.

Subitamente, o homem começou a se mexer, tentando se livrar. O Samurai começou a coloca-lo no lugar dele. O homem, no entanto, não parava. Então o guerreiro tamuraniano forçou o homem a desmaiar aplicando um tipo de golpe no ombro dele.

— O que vai fazer?— Perguntou a garota, sem conseguir tirar os olhos daquelas enormes feridas do Samurai, que não pareciam fazer muita diferença para ele.

— Senhor Akio, o senhor realmente precisa ser tratado ou... — disse o jovem, preocupado.

Akio apenas fez um gesto com a mão, como quem dissesse para cessar a fala e se encaminhou até a jovem.

— Você conhece o símbolo — disse o Samurai. — Sabe do que se trata e vai me explicar.

— Não sei exatamente do que se trata— afirmou a garota. — E olha o seu estado. Como ainda consegue estar de pé?

O diálogo é interrompido pelo dono da estalagem. Após o pedido do mesmo para que as coisas ali fossem rapidamente resolvidas, o trio levou o homem para o quarto, enquanto o casal da pensão começou a arrumar o local, mas não mexeram no morto, que Akio fez questão de dar um jeito. O Samurai tomou as devidas providências, deixando o homem que desmaiara amarrado no quarto. Maysha e Eadwine apenas olhavam, ainda sem acreditar no que viam. As feridas de Akio, enquanto ele se movia para prender o homem — mesmo que de forma mais lenta, como se enfim estivesse respondendo ao estado do seu corpo —, estavam se fechando aos poucos. Eadwine fazia uma expressão como se estivesse analisando, perplexo com o que via. 

Ficou combinado que o prisioneiro continuaria com a boca enfaixada de uma forma que não mordesse a própria língua. Braços e pernas também permaneceriam amarrados. O homem não teria conforto algum, ficando de joelhos no canto de um quarto escuro. Eadwine trataria o mínimo necessário para que ele continuasse vivo. E assim estava já fazendo. 

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora