O Pingente da Mãe Águia

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A noite parecia ainda mais escura dentro da Floresta das Grandes Sombras. As árvores eram tão gigantescas que seus galhos se entrelaçavam numa altura exorbitante, criando assim um tipo de grande tenda natural, o que impedia, naquela hora, o banhar das bençãos de Tenebra, a deusa das trevas, como o brilho da lua e das estrelas. Ainda assim, a escuridão da mãe noite tomava todo aquele lugar, não fossem as tochas levadas pelos seres meio-feras que acompanhavam Ferdinand Galvan.

O anfitrião não havia falado muito. O grupo não estava falando muito. Estavam cansados, exaustos. Apenas, Maeve tentava puxar algum assunto com seu amigo Eadwine, mas ele apenas respondia com poucas palavras. Estava focado em Maysha, mal conseguia disfarçar, mas olhava para a bárbara a cada cinco minutos.

Maysha estava focada no caminho, em não desmaiar de cansaço, e sua mente estava no seu povo. Disse algumas coisas para Galvan que, desde já, confirmou que ajudaria, preferindo que ela falasse mais ao chegarem. Ao lado da jovem bárbara, Akio, firme, mesmo com o corpo estando limitado. Olhava à frente, alternando com o olhar desconfiado para Galvan.

Depois de muito caminharem, enfim chegaram a um tipo de grande casa na árvore. Foram recebidos por um ancião com longas barbas, vestes longas acinzentadas e, por pouco, quase esfarrapadas. O homem apenas fez uma mesura para Galvan, que retribuiu. O grupo entrou num compartimento que, a um leve gesto da mão de Galvan, levou-os para cima, à casa.

Assim que pisaram na casa, uma dupla de seres barrosos, amarronzados e sem rosto, levavam água e mais alguns aperitivos que indicavam ser naturais. Dois pequenos seres, não muito maior que trinta centímetros, voaram na direção dos convidados. Antes, cumprimentaram Ferdinand Galvan, que não lhes deu tanta atenção, respondendo com uma rápida mesura. Quando um deles se dirigiu até Maysha, Galvan fez um gesto negativo para as pequenas criaturas, chamando a jovem para ir com ele.

Akio negou o atendimento dos pequenos seres. Eram Sprites, o tipo mais comum de fada em Arton. Sorridentes e amistosos, trataram a todos com muita educação e, dentro dos limites, com alegria. Gunnr foi tratado com atenção especial, sendo levado para um local diferenciado. Algum tempo depois, o ancião que recebera o grupo adentrou onde estava o anão e por lá ficou.

Akio seguiu até o térreo novamente, descendo as escadas. Hazel havia sido deixado lá, muito bem amarrado, devidamente guarnecido por dois homens-fera que seguiram Ferdinand Galvan por todo o caminho. O samurai se colocou em frente onde estava o prisioneiro.

– Podem deixar comigo agora – disse ele, sempre sério e com feições fechadas.

Os homens-fera se olharam e acabaram por deixar Akio frente a frente com Hazel.


(***)


O breu era a única coisa permitida ao novo prisioneiro do grupo. E não se tratava de um qualquer, já que era Hazel Spikes. Mercenário, estrondosamente habilidoso com o arco e flecha, com algum entendimento de magia e que, no último ataque, reuniu-se com aliados de habilidades específicas. Ele estava seguindo Maysha há muito tempo e, sem sombra de dúvidas, era o mais perigoso perseguidor. Astuto e afiado no falar, fora também amordaçado. Suas mãos estavam presas a correntes rígidas e levemente aquecidas, apenas para causar mais desconforto. Por suas contas, andaram mais do que uma hora. Ele teve de ir andando, quase arrastado, muitas vezes esbarrando em árvores e galhos. Tropeçou algumas vezes, mas manteve-se no caminhar. Não lhe era permitido ouvir claramente também por causa dos tampões nos ouvidos. Para ele, a ausência de sentidos quase fazia beirar o desespero, entretanto, continha-se o máximo que podia. Aquilo que fazia com que ele ainda se esforçasse para manter a sanidade tinha um nome: Alana.

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora