Acordos e Pactos

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Embora Hazel parecesse apressado, começou a indagar Lorna sobre possíveis lugares mais sombrios da cidade. Não estava tomando a rota para a Floresta das Grandes Sombras de imediato. Procurava o submundo. Estavam a caminho de uma taverna. Falando apenas o necessário, o arqueiro mercenário se mantinha focado, quase nenhuma vez dirigindo o olhar à drogadora.

Próximos à taverna indicada por ela, a drogadora quebrou o silêncio insistente daquela viagem.

— O momento que tivemos foi tão repulsivo assim? — provocou, dando um leve sorriso.

Não houve resposta.

— Pensei que houvesse dito que trabalhava sozinho — insistiu, curiosa.

— Você está aqui, não está? — Manteve o foco, sequer dirigiu-lhe o olhar.

Lorna não tentou mais, apenas observava o estrangeiro de longe até que chegassem à taverna que ela mesma indicou. 

O local era muito afastado do centro de Ergônia. Sujo, um ar mórbido, com uma neblina que não condizia com toda vida que aquela cidade trazia em sua essência. Até mesmo as plantas pareciam mais obscuras, os galhos das árvores eram secos, pouquíssimas folhas. Mendigos eram vistos em alguns cantos, seres de raças indecifráveis vigiavam em becos escuros. Por onde andassem, pareciam estar sendo vigiados. 

A  dupla, enfim, chegou até o local. Hazel observou a todos num rápida constatação do lugar. Mesa de jogos, pessoas bêbadas, olhares emburrados, prostitutas, discussões calorosas. Sim, ele sabia que estava mesmo num local apropriado para o que queria fazer. Spikes puxou uma cadeira, de forma cavalheiresca, para que Lorna pudesse se sentar.

— Então, conhece algum desses? — os olhos verdes compenetrados no que a drogadora falaria.

— Sim — ela confirma olhando para a direção de um homem de grande porte físico sentado próximo ao balcão.

— Quem é? O que faz?— Entrelaça os dedos à frente do rosto, pensativo.

— Calius— fala levantando uma das sobrancelhas.— Ele é um caçador. É forte, experiente. Eu contrato os seus serviços quando preciso de algumas cobaias. É claro que ele mesmo pode conhecer mais gente. 

— Interessante. É um começo.

— O que houve com aquela conversa sobre trabalhar sozinho mesmo? — num sorriso sarcástico, insistiu.

— Você clareou minhas ideias. Acabou me fazendo compreender algumas coisas.

Hazel Spikes se levantou. Parecia muito confiante, como sempre, e se dirigiu até o tal caçador, Calius. No caminho, notou que os grupos eram separados e as pessoas mal saíam dos núcleos em que estavam metidas. Jogadores, velhos e risonhos, e mulheres que os bajulavam. Amantes das prostitutas e bebidas num outro canto. Solitários e de cara emburrada, esses estavam no balcão. E era lá que estava Calius, o caçador. O homem tinha costas largas, um grande machado recostado ao lado, estava se servindo de uma grande ânfora lotada de cerveja. Possuía um bigode que puxava um cavanhaque que não se completava no queixo. Os cabelos, mesmo que poucos, e bigode ruivos faziam com que a feição de poucos amigos se acentuasse. 

— Noite densa, não é?— disse o mercenário ao relento, não mostrando ao certo se falava com o taverneiro ou com o caçador.

Calius levou a ânfora até a boca, bebendo sua cerveja como se não tivesse ninguém do seu lado, terminando com a bebida.

— Por favor, taverneiro— disse Hazel, com pompa—, mais uma rodada para o meu amigo aqui, o grande Calius.

Curioso por ter seu nome mencionado, o homem olha de rabo de olho para Hazel, que apenas sorri, como quem estivesse fazendo uma boa ação, como se conhecesse Calius e ambos fossem velhos conhecidos.

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora