Eadwine começava a fazer os manejos de primeiros socorros em Maysha. O jovem iniciou as perguntas e exerceu alguns procedimentos para que a garota se sentisse melhor. Com alguns questionamentos e muitas análises, ele mostrou entender do que estava falando, não com altivez, mas com uma simplicidade e altruísmo visíveis, o que deixava o ar daquele quarto mais leve, bem como o tempo abria lá fora. Comprovando que a garota estava bem, Yamazaki Akio assentiu para o médico, retirando-se do local.
Ao descer, o Samurai foi de encontro ao dono da estalagem que se encontrava no balcão. O lugar, mesmo humilde, mostrava uma estante farta de bebidas. Como ambos já se conheciam por causa da última passagem do Samurai por aquele pequeno vilarejo, o dono da estalagem ofereceu a bebida tomada pelo guerreiro em sua última estadia, o hidromel. Estava longe do que o estranho homem gostava, acostumado com o bom e velho sake, porém era uma forma que ele encontrava de esquecer - ou lembrar - um pouco dos motivos que o levavam a vagar. O guerreiro fez como sempre costumava fazer: pegou a garrafa e a bebida e foi se sentar na última mesa, a mais distante da entrada e que desse visão para ele a todos que adentravam à estalagem, porém, sem ser notado. Começavam os primeiros goles. As lembranças boas vinham, mas as ruins não tardavam em chegar logo após.
(*****)
Antes.
Akio voltava de uma reunião com seu daimyo, um tipo de senhor feudal, a quem servia. Ele trazia consigo uma grande responsabilidade e iria fazer algo que não gostava: sair de Tamu-ra, ir até o continente artoniano. Ficara acordado que essa missão seria do Samurai, que era o de maior confiança de seu daimyo, para capturar um antigo desafeto, um homem detestável que havia roubado boa parte da riqueza do senhor feudal, dentre elas, um artefato raríssimo que era o símbolo maior de honra da família do daimyo, uma pequena estátua de ouro que era tida como o reconhecimento do deus protetor de Tamu-ra, o deus-dragão Lin-Wu. A desordem e a desonra — essa última sendo muito mais pesada — pairava sobre Yamamoto Takeda, o daimyo, assim como em sua família e sua guarda. Inconformado com a falha na proteção de tais pertences importantes, Akio se prostrou ante seu lorde, jurando que recuperaria a honra de Takeda, tirando a vida daquele homem e trazendo o artefato novamente.
Entretanto algo estava errado. Akio sentira um incômodo, um mal pressentimento.
Chegando em sua casa, após deixar seu cavalo bem postado no lugar devido, o guerreiro caminhava para adentrar e logo foi recebido por uma linda criança, sua filha mais nova, Sakura. Pequenina, cabelos curtos e olhos enegrecidos como os do progenitor, tendo ela vivido apenas dois invernos, acolhia o pai do modo mais afetivo possível, pois ainda não tinha idade para toda a cordialidade e educação rígida e complexa do povo tamuraniano. Embora todo o seu orgulho e devoção a essa cultura fosse extrema, ele não deixava de gostar dessa maravilhosa demonstração de carinho. Em sua casa, permitia que as coisas fossem menos rígidas, mesmo que não tanto. Aquele pequeno abraço era um refúgio para ele. E o dia havia sido tenso. Aqueles tempos eram.
— Papai! — disse a pequena Sakura.
— Minha pequena, minha alegria — disse ele.
Ao fundo, avistando a cena, estava sua linda esposa, Taka, uma mulher que incorporava a beleza tamuraniana, com seus longos cabelos negros, corpo esguio, rosto completamente simétrico para os padrões daquele povo, bem postada em suas vestimentas e com o olhar amendoado, meigo como sempre.
— Sakura, seu pai está cansado — disse ela, repreendendo com quem não queria repreender, pois a cena a agradava.
Ele apenas se levantou, trazendo a pequenina em seu colo, balançando a cabeça pedindo que Taka não se importasse. A mulher bem sabia que as coisas não estavam bem, mas não podia deixar de exercer seu papel como um esposa preocupada. Após dar um beijo na amada, Akio pôde notar sua filha mais velha, Keiko, de apenas 12 invernos, aguardando na divisa da sala de entrada com o próximo cômodo. Estava de braços cruzados, feição fechada, usando um kimono inapropriado para mulheres, o de combate, batendo o pé direito no chão repetidamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]
FantasyEm Arton, um homem vaga sem honra. Antes um honorável samurai do Reino de Tamu-ra, agora se encontra procurando a própria morte. Contudo, a morte foge dele. Imortal por algum motivo desconhecido, ele busca encontrar a morte para assim reaver sua ho...