Rumos Que Se Cruzam

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Gunnr notou o semblante de Akio mudar. Mencionar os objetivos de Galvan alteraram a forma como o tamuraniano estava. De fato, Akio parecia ter melhorado consideravelmente dos efeitos das canecas de hidromel que havia tomado. 

— Surpreso pelas empreitadas do seu renomado Curandeiro? — indagou Gunnr, com deboche.

— Você fala como se o conhecesse — afirmou Akio.

O anão ficou sem jeito, parecia surpreso. Voltou a uma das mesas da estalagem e se sentou. Acenou para o servente do local, que acenou de volta, como se o conhecesse. Gunnr gesticulou, mostrando o lugar à frente para que Akio tomasse assento. E ele assim o fez. O servente voltou com uma jarra de tamanho mais exagerado do que a do trio abordado anteriormente pelo Samurai, oferecendo ainda duas novas canecas para a dupla.

— Cerveja — o anão pegou a jarra e serviu ambos.— Bebida de machos.

Akio pegou a caneca, mas não levou à boca.

— Conheci Galvan quando ainda era jovem. Chegamos a fazer parte do mesmo grupo de aventureiros  — parou e deu um longo gole na cerveja.— Mas o grupo não resistiu. Caímos quando estávamos nas malditas terras dos bárbaros.

— União Púrpura.

— Essa bosta mesmo. Conhece?— Mais um grande gole.— Fomos fazer uma missão por lá. Apenas ele e eu sobrevivemos. Tivemos a sorte de sermos amparados por uma Tribo que agia de forma pacífica com estrangeiros. 

— Oreore.

— Deve ser — bebeu até o último gole, verificando se havia mais. Não havia. — Um jovem druida foi o responsável por nos acolher.  

— Você se lembra do nome desse jovem?— Akio fez como se fosse levar a caneca à boca, mas se conteve, aguardando.

— Não há como esquecer — Pegou a jarra e voltou a encher a caneca. — C'rama.

As coisas faziam sentido. Tratava-se do mestre de Maysha, o mesmo que mandou procurar Galvan. Naquele momento, Akio apenas ficava ainda mais surpreso pelo fato de, no meio de toda aquela cidade grande como Ergônia era, ter encontrado exatamente o anão que fizera parte do grupo do homem que estavam procurando, tendo, esse mesmo anão, conhecido inclusive o mestre de Maysha.

— C'rama acabou vindo conosco — Gunnr acenou para o servente mais uma vez.— Eles eram muito próximos. Até demais. 

O servente havia chegado com uma bandeja repleta de petiscos de frango. Gunnr comia sem muita educação. O trio que Akio havia abordado anteriormente passou pela mesa da dupla, olhando temerosos para o anão, que fez pouco caso deles, continuando a comer em fartura. O comilão gesticulou para que companheiro de mesa comesse, e, aos poucos, o tamuraniano também se serviu (ainda sem tocar na bebida).

— Voltamos para Salistick, a terra de Galvan. — Gunnr continuou.— Ele se fixou em Ergônia e acabou estudando junto de C'rama. Eu sempre estranhei essa aproximação. Não liguei e, como já estava cheio das aventuras e também havia perdido meus companheiros mais antigos, fixei moradia aqui também. Abri uma loja de armas. Sou um ferreiro de mão cheia. De qualquer forma, anos depois, C'rama partiu de volta para sua tribo, afirmando que Galvan estava diferente. O desgraçado estava mesmo. Isolou-se do mundo, mantinha pouco contato até mesmo comigo, e só voltei a saber dele quando as coisas em seu laboratório saíram do controle. Feras escaparam de lá. Eram tipos diferentes de Licantropos, seres meio-feras. Ao que parece, Galvan havia se especializado em magia também e em suas experiências buscava melhorar o corpo humano, mesclando-o ao corpo animal. Sabendo do que aconteceu, eu mesmo me propus a ir atrás de Galvan, e o encontrei no caminho para a Floresta das Grandes Árvores. Só eu poderia tirar a verdade dele. Aquele não era mais o Ferdinand Galvan que eu havia conhecido. Na verdade, eu nem podia dizer se eu sabia quem era o verdadeiro Galvan. 

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora