Horizonte

29 9 6
                                    

Assim que Azgher, o deus do sol, começou a irradiar sua luz, clareando aos poucos  o mundo, os oreore se puseram de pé. Estavam esgotados, muitos no limite de suas forças, contudo, não poderiam esperar que acontecesse de outros corrompidos da Tormenta chegassem até Tah-Par e os abatessem. 

A caminhada era longa e sacrificante, mas após a valentia de Maysha e toda sua explicação sobre precisarem sair daquele lugar contaminado pela Tormenta, todo esforço recompensava. 

Maeve aproveitou a peregrinação e seguiu com os oreore. Entretanto, deixou como pedido o fato de cremar o corpo de Eadwine e levá-lo consigo para que pudesse espalhar suas cinzas nas terras de Salistick. Não houve oposição. Maysha apenas queria participar desse último ato. A jovem médica concordou.

Foram dias duros de caminhada. O trajeto para A Floresta das Grandes Sombras trazia à tona uma carga emocional imensa para a líder oreore, que se mantinha controlada na medida do possível. Visitar os locais pelos quais passaram, principalmente onde estava o túmulo de C'rama, mestre de Maysha e principal xamã da tribo, foi o mais duro. Maysha e Maeve concordaram que as cinzas de Eadwine seriam deixadas ali, num misto de respeito e fé, onde elas duas, antes rivais, convergiram seus objetivos num só, compreendendo uma a outra, principalmente a jovem médica, que antes deixava claro seu descontentamento em saber que seu amigo estava se arriscando daquela forma.

Como na reverência anteriormente feita no momento da morte do jovem médico, em respeito à memória de Eadwine, não foi mencionado nada de cunho religioso. Maeve também era ateia, como seu amigo. As cinzas foram espalhadas. O silêncio era mantido. As cabeças, abaixadas, em respeito e reverência.

— Ele foi um herói — Maysha quebrou o silêncio.

— Mesmo sem saber se defender, foi até o fim em sua convicção — Maeve também se pronunciou. — Não reclame ou diga nada do tipo, Maysha. Fazer isso quebraria a memória de tudo o que ele fez e de toda sua força de vontade.

— Eu sei.

— No fim das contas, a vida dele não tinha tanta importância para ele mesmo, apenas para salvar outras vidas.

— Iríamos juntos... — os olhos da bárbara marejaram.

— Sim — a jovem médica tocou no ombro da oreore. — Mas você não tem tempo, não é? Não pode perder mais tempo algum com esses pensamentos.

Maysha olhou para a companheira, relembrando do embate que tiveram, onde a mesma disse tais coisas para ela. Maeve abriu um pequeno sorriso, sincero.

— Você tem um povo para liderar — Maeve olhou ao redor, para todos os sobreviventes oreore. — E eles precisam de você.

— É... — Maysha também olhou para todos, alternando o olhar para sua mãe. — E eu deles.

O povo seguiu sua caminhada após esse momento de reflexão. Chegaram enfim até o mesmo riacho onde o antigo grupo de Maysha e Maeve havia feito uma pausa, o local onde as duas tinham brigado. Era reconfortante, o clima ameno e florido ajudava a relaxar. Porém, para as duas, trazia mais lembranças. 

A noite caiu — um banho dócil de Tenebra, a deusa das trevas, para toda a tribo. Enquanto o dia começava a raiar, Maeve já estava pronta para partir. Arrumou todos os seus pertences. Com ternura, levava consigo os objetos de Eadwine e todo o seu aparato medicinal. Contudo, não percebeu que havia sido notada pela atual líder oreore.

— Ia embora sem se despedir? — Maysha interpelou.

— Não sou boa com essas coisas — deu um sorriso, seguindo passos à frente.

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora