Pesadelos

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Antes.

Os olhos ainda estavam delirantes. Aquele homem não fazia ideia de onde estava, apenas lembrava vagamente dos cortes que havia levado graças às dores que sentia. Estava amordaçado e deitado e amarrado. Não podia falar ou se mexer de forma alguma. Ouvia mal. Suava bastante. Seu corpo estava quente. "Febre?", ele pensou. Talvez. Tudo estava escuro, apenas uma pequena brecha entre o espaço da porta e a parede trazia alguma claridade para o quarto. O sono era incomum e intenso e incontrolável. Ele apagou.

Acordou novamente. Permanecia deitado. Dessa vez estava claro. Além disso, alguém havia entrado. Parecia que estava sendo tratado. Então por que a dor não sumia de vez? Por que a febre? Apenas era o bastante para que pudesse continuar vivo. Ele sabia disso, havia passado por um intenso treinamento que nem se lembrava o porquê de ter participado. Então houve um momento de alívio. A faixa lhe era tirada da boca. Água. Ele estava aliviado, a sede o consumia tanto quanto a dor. Reuniu forças para falar.

— Por favor — disse ele, com muita dificuldade, para aquele que cuidava dele —, ajude-me.

— Já estou fazendo isso  — era Eadwine.

— Não sinto uma de minhas mãos  — ainda fazia força. — Uma das pernas também.

Eadwine fechou os olhos com força. Não conseguia negar um pedido de ajuda. Era algo dele, muito mais forte do que qualquer outra coisa. Mesmo que fosse um assassino, ele ajudaria. Pegou outras coisas na bolsa, coisas essas diferentes das anteriores, mais precisas, mais eficazes, não apenas de primeiros-socorros. 

— Obrigado — disse o homem.

— Eu não deveria estar fazendo isso — afirmou Eadwine, balançando a cabeça negativamente, mas continuando o procedimento.

— Você serve à Lena? — indagou.

— Não! — afirmou com energia.— Digamos que eu seja um médico.

O homem não entendia tão bem, porque aprendera que os servos de Lena, a deusa da vida e da cura, tinham dons de curar. O clericato poderia ser exercido apenas por mulheres, mas paladinos poderiam ser homens. Um médico que não pertencesse a essa divindade lhe era estranho. Porém, não era hora para indagações, apenas queria arrumar uma forma de sair dali.

Eadwine continuou o que fazia. Repetia a si mesmo que poderia se arrepender, mas continuou assim mesmo. E, em meio à viagem, sempre que tratava o homem, aliviava as sensações de dor e mal-estar. Durante a noite, Yamazaki Akio cuidava de vigiar o homem.


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Era um sonho ou uma lembrança?

Mohses continuava algum tipo de cavalgada. Estava saindo de Ghord, um tipo de capital desse amplo reino dividido em pequenos reinos bárbaros chamado de União Púrpura. Nessa cidade, pessoas civilizadas podiam ir e vir de uma forma mais segura, pois a cidade ficava em Tah Par, o sub-reino mais tolerante com o povo civilizado. Mohses apenas olha para trás, avistando uma carroça com coisas empilhadas. A carga estava segura porque, de alguma forma, ele sabia se defender.

No caminho, alguns quilômetros depois, ele avistou um bando com uma estranha mulher na frente.

Escuro.

Mohses despertou. Era noite. Estava amarrado num poste. Não se lembrava como fora parar ali. Inúmeras pessoas estavam fazendo uma estranha dança ao redor de uma fogueira de chama azulada. Essas pessoas estavam seminuas, com corpos cortados, feridos e, alguns, mutilados. Havia outro homem preso como ele, amarrado num poste ao seu lado. Um mulher, a única vestida com um manto negro, portando uma enorme foice, parecia liderar aquele ritual nefasto. 

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora