Lorna seguiu em direção a Eadwine com uma faca em mãos. Não era do feitio da drogadora, mas ela estava decidida, e o jovem médico não parecia uma grande ameaça. E ainda por cima, Akio estava impossibilitado. Não deveria ser difícil.
Eadwine mantinha o bisturi apontado. Não sabia se conseguiria, enfim, ferir alguém, contudo, defenderia o novo amigo, como sempre disse que faria. Ajudar.
Aos primeiros passos, Lorna tinha apenas um alvo em sua mente, por isso, não notou a faca que entrou em seu pescoço. Não era lutadora. Não tinha bons reflexos. Ainda mais naquelas circunstâncias.
Maeve sim.
A jovem, que estava escondida, conhecedora daquele ambiente, pôde assistir o ataque do grupo de Hazel sem ser notada. Era mais do que uma curandeira, uma herbária. Tinha dons ladinos, bem como também soube aguardar o momento certo.
Ao fitar a visão em Eadwine, queria dizer muitas coisas. Não conseguiu. O jovem médico voltou a atenção ao amigo tamuraniano, que num esforço sobre humano, tentava se levantar, mesmo sob o efeito poderoso do veneno de Lorna. Não havia tempo a perder. Precisavam seguir até Maysha.
(***)
O olhar de Maysha foi profundo na direção dos olhos de Hazel. Mais uma vez, ela desferiu um olhar penetrante que podia imergir no mais profundo de alguém. Dessa vez, do seu provável algoz. O mercenário parou por um instante. Também fitou o olhar na jovem. Por algum motivo que ele não sabia explicar, parou.
Maysha pôde enxergar bem a fundo. Notou a expressão, os pequenos detalhes dos músculos do rosto, a postura. Mas nada era mais claro para ela do que um olhar. Ela temeu pelo que viu, embora também tenha ficado satisfeita. Poderia ser loucura se sentir assim, mas algo no fundo de sua alma dizia que não. Ela tinha a resposta.
— Eu entendi — disse ela, abrindo um leve sorriso.
Hazel fez um olhar de descrença.
— Você também o faz por alguém.
O mercenário dirigiu a pequena foice na altura da garganta da bárbara. Hesitou. Via algo diferente e se espantou. Num súbito, não era mais a garota do sacrifício em sua frente. Era Alana, sua ex-companheira, presa por Tsetseg. Rapidamente, tirou a arma de onde estava, recuando-a.
Nesse momento, uma luz dourada poderosa ofuscou sua visão. Não apenas isso, quase feriu suas vistas. Maysha também sentiu o ofuscar de sua visão, tão forte como foi para seu algoz, sentindo também, ao mesmo tempo, o coração se reconfortar. Vinha do pingente. Era a esperança. Era Alihanna, a Mãe Águia.
Um urro, como o de uma grande fera, anunciava um vulto à frente da bárbara. Algo havia golpeado o mercenário. O arqueiro, por sua vez, atordoado com a luz, por instinto, moveu o seu corpo o suficiente para ser golpeado no braço. Um arranhão no braço direito fez com que a pequena foice caísse de sua mão. Num salto sobrenatural, Hazel saiu do epicentro daquela batalha, esperando que, ao se afastar, pudesse ver do que se tratava. Sua visão foi se acostumando, voltando ao normal, entretanto, para sua surpresa, a fera, metade homem, metade algum tipo de felino, estava muito próximo. Com o braço direito muito ferido, estava inviável o uso do arco e flecha. Puxou a espada com a mão esquerda. Em movimentos de ziguezague, conseguiu o primeiro ferimento no monstro à sua frente - um corte no abdômen. A fera, sem conseguir entender, sentiu o corpo parando aos poucos. Hazel havia banhado a espada com o mesmo veneno das primeiras flechas, pois, caso precisasse chegar ao ponto de um combate corpo a corpo, seria um momento bem tenso para ele.
Era a oportunidade perfeita para que ele fugisse, não fosse por outro ataque furtivo, não notado pelo mercenário. Um tipo de fera horrenda, com asas de morcego, dedos que mais pareciam garras, três vezes maiores do que as mãos deveriam ser. Hazel foi golpeado mais uma vez, tendo o peito perfurado, indo ao chão com o impacto do golpe.
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Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]
FantasiEm Arton, um homem vaga sem honra. Antes um honorável samurai do Reino de Tamu-ra, agora se encontra procurando a própria morte. Contudo, a morte foge dele. Imortal por algum motivo desconhecido, ele busca encontrar a morte para assim reaver sua ho...