Chuva e Ódio

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Antes.

— Ifitiinkayga! — disse C'rama, recebendo Maysha, ainda uma garotinha, de seu pai.

— Mestre C'rama! — ela abraçou seu mestre calorosamente.

— Sem dúvidas, é a melhor parte do dia dela — era Abasi, pai de Maysha, revelando certo ciúme, bem humorado.

— Não diga isso, Ore Broer — ele riu —, o senhor é um ótimo pai e líder dessa tribo. Só não leva tanto jeito com crianças.

— Não se pode ser bom em tudo. Deixo essa menina com você. Dê um jeito nessa rebeldia toda.

— Sim, Ore Broer — fez uma reverência.

Ao que o líder dos Oreore se retirou, C'rama voltou-se à Maysha e notou que ela não estava à sua vista. Num ataque que tinha a premissa de ser furtivo, Maysha tentou golpear C'rama, que logo notou sua chegada e evitou seu ataque, contra-golpeando-a para longe.

— Aaaaaahhhhhh... Não vale! — Falou Maysha, tossindo por causa do golpe que levou. - Eu fiz tudo perfeito. 

— São coisas que você vai aprender com o tempo, Ifitiinkayga — disse com ternura no olhar. - Isso se chama experiência. Vai conhecer e saber exatamente como são meus golpes e minha forma de pensar e agir, de tanto que treinamos.

— Será? — duvidou. — Você é tão forte, mestre.

A jovem foi se aproximando aos poucos, recuperando-se do golpe de seu mentor.

— Você será mais forte do que eu, Ifitiin. Você será uma guerreira incrível. Sendo filha do Ore Broer e de uma guerreira como sua mãe, Osahar, está no seu sangue. É o seu destino.

Fez um afago nos cabelos cacheados da menina.

— Se você acha isso de mim, imagine um filho seu então — disse com um sorriso no rosto.

C'rama sorriu.

— Não terei filhos, Ifitiin — falou como quem lamentasse.

— E por que não? Por que você é o nosso xamã?

— Não, isso não me impede de ter filhos.

— Então?

— Escolha minha. São caminhos que escolhi. A Mãe Águia já confortou meu coração quanto a isso.

— Mas por que essa escolha? — ela insistiu na pergunta.

— Olha... — ele pareceu querer mudar o rumo daquele assunto — A Mãe Águia nos ensina a ver mais longe, adiante. Nem eu entendo muito bem esses caminhos. Até porque, como meros humanos, não temos a visão de águia, não alcançamos o que deveríamos realmente ver. Mas a Mãe Águia me conferiu uma benção para poder ter esperança em ver mais longe...

C'rama olhava para o alto. Estava realmente trazendo tais palavras do fundo do seu coração, inspirado, com um rosto leve, de expressão pacífica, como era de costume em seus momentos de contemplação.

— Que benção? — a jovem notou esse momento diferenciado de seu mestre, aguardando uma resposta incrível, como ele costumava fazer em seus ensinamentos.

— Ifitiinkayga — ele olhou de volta para sua discípula. — Minha Luz... Você!

Maysha abraçou seu mestre. O elo entre eles era enorme. Era mais do que apenas um mestre. Era um amigo, um alento. Era tudo.


*****


Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora