Sacrifícios

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Enquanto Akio destruía os corrompidos que podia, Tsetseg alternava tentativas de chegar até Maysha. Embora o samurai tivesse transcendido incrivelmente os limites humanos, Tsetseg mostrava seguir um caminho parecido, advindo do poder demoníaco lefeu, ou seja, da Tormenta. A qualquer momento, ela evitaria o tamuraniano e sua katana, chegando até a jovem bárbara. O samurai bem que tentava investir contra a sacerdotisa, mas ela acabava por usar seus servos como um escudo. E foi nessa estratégia que ela, aos poucos, foi abrindo caminho até Maysha. A jovem guerreira, por sua vez, estava próxima à K'tully, a árvore sagrada dos oreore.

— Mãe Águia, me ajude a ver como você vê. — rezava. — Me diga, o que eu não estou conseguindo enxergar?

Enquanto Akio desferia seus golpes contra os demônios, lutando fervorosamente, ia deixando o rastro vermelho de Benihime ganhar o campo, ao passo que a visão era também avermelhada por causa da pele insetóide dos corrompidos e todo o ar que os cercava.

— Vermelho... — Maysha pensava alto. — Sangue... Chamas!

Maysha se lembrou de seu sonho, sua visão, a Floresta em Chamas. O Tigre que lutava para livrar a jovem das labaredas que tomavam seu lar, evitando que a guerreira caísse também no precipício.

— As Chamas eram a Tormenta e seus demônios — prosseguiu. — O precipício era a morte. Akio luta contra a Tormenta desde o início, enquanto eu estava contra a morte. Akio não teme a morte, pois não pode morrer. Mas, Mãe Águia, e quanto a mim? Qual a minha importância nisso tudo? 

Maysha fechou os olhos. Buscava, naquele momento, alguma resposta. Tocou com as palmas das mãos, viradas para trás, na K'tully. Tentava encontrar a essência da árvore, mesmo que corrompida. 

No outro extremo, Akio ia finalizando os corrompidos. Investia, sempre que encontrava brecha, contra Tsetseg. A nassib estava irritada com o fato de não conseguir progredir, ao mesmo tempo em que via naquele homem um alguém quase que indestrutível.

— Mas o que é você? — O espanto estava manifestado no rosto da sacerdotisa.

— Alguém que a morte não pôde vencer — continuou a golpear a nassib com diversos cortes, usando de técnica apurada, força e velocidade. 

Akio tinha tudo para finalizar Tsetseg, e ela sabia disso, por isso a nassib usou de seus últimos servos para um bloqueio, aglomerando-os na frente do samurai. Como ela estava inflamando ainda mais seu poder, sabia que, naquele instante, conseguiria chegar até Maysha. Era questão de honra, de existência. O tamuraniano foi se desvencilhando dos últimos corrompidos, mas notou, tarde demais, que não os venceria a tempo de impedir Tsetseg — que estava ainda mais veloz que antes — de chegar em Maysha.

Tsetseg tinha sangue nos olhos. Visava apenas a bárbara e sua vingança. Precisava ter o desfecho que sempre quis. Insana, seguiu com uma das mãos à frente, com sede de encostar na pele de Maysha e dilacerá-la. Já não discernia ao certo o que era realidade e o que fazia parte apenas de sua sede de sangue. 

Quando enfim tocou o corpo, sorriu de alegria, mas, após visualizar o que realmente aconteceu, não acreditou. Aquela pessoa à sua frente, de costas pra ela, não era a jovem oreore. Era um homem. Estava tão sedenta e ensandecida que não notou a aproximação de alguém. E esse alguém conseguiu, sem ver que ela chegava, entrar na frente de Maysha. Tsetseg rasgara o tronco de um humano, alguém que não era seu alvo.

— EADWINE! — Maysha abriu os olhos e, espantada, gritou. O jovem havia chegado há segundos. Sequer havia notado que Tsetseg se aproximava. De tão preocupado com o estado da amada, tomou sua frente sem se preocupar com qualquer perigo.

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora