Macabro

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Atenção, cenas fortes.

Antes.

Era noite. Tenebra, a deusa das trevas, escondia mais do que metade de sua Lua, a qual se desenhava no céu como uma foice, perfeita para o que aquela noite demandava. A mata densa, com árvores altas e, àquela altura, medonhas, como se fossem desenhadas para entoar medo. A neblina teimava em pairar pelo ambiente, mesmo que o local fosse como um corredor de piras de fogo, intercaladas com estacas onde, em suas pontas, estavam fincados crânios humanos, élficos, táuricos, e de mais toda sorte de raças humanoides. No extremo superior do corredor, um trono feito de ossos diversos, provavelmente provenientes das mesmas ossadas dos crânios que enfeitavam as estacas - ou talvez não - apenas seriam mais e mais cadáveres para aquele show de horrores. No trono, uma mulher usando um manto negro com símbolos como foices, em diversos tamanhos e direções, bem como penduricalhos feitos de ossos. Seu olhar trazia um peso de morte, o assombro que sua presença trazia impedia que até mesmo seus servos mais leais olhassem para ela sem nenhum tipo de consequência. Era altiva, e imponente, e sagaz, e cruel.

Era o reinado de Tsetseg, aquela que trouxe a vingança e vitória dos Nassib sobre os Oreore. Estava para acontecer uma cerimônia onde todos os Nassib seriam esclarecidos de que um novo tempo nascera para eles. O fim da vergonha havia chegado.

No outro extremo do corredor Macabro estava Osahar, esposa do Ore Broer, como era chamado o líder dos Oreore, o pai de Maysha, o falecido Abasi. Osahar estava caída, esmurrada, escurraçada, quase moribunda, com a cabeça baixa. Fora humilhada, açoitada, sofria com uma maldição imposta por Tsetseg, estava ainda dilacerada pela perda do marido, não tinha notícias de suas filhas, apenas soube que Maysha conseguiu escapar. Sua filha mais nova não foi mais vista. Seu povo sofria as mesmas humilhações e dores que ela mesma. Já não cabiam lágrimas para todo o sofrimento. Talvez, para ela, o alívio da morte seria um acalento, um ato de misericórdia dos deuses.

Mas não foi assim.

Osahar foi levada - arrastada - até os pés de Tsetseg. A nova líder dos Nassib estava imponente, orgulhosa, olhava com desprezo para Osahar, desprezo esse ainda maior, principalmente por ela saber a importância que tinha a esposa do Ore Broer.

Tsetse colocou o pé direito sobre a cabeça de Osahar. Foi quase um pisão. Osahar não gemeu, não chorou, quase não sentiu aquela dor. Sentia mais dor do que qualquer sofrimento físico. Não fazia diferença. A Sacerdotisa da Morte cuspiu na guerreira prostrada, abaixando-se e erguendo a cabeça da prisioneira pelo cabelo, para que pudesse olhar diretamente para ela.

Osahar olhou friamente. Tsetseg estava satisfeita. Contemplou a destruição moral e física da inimiga.

Sorriu.

- Como é forte! - bradou Tsetseg. - Como é resistente. Um exemplo de mulher, de guerreira, de orgulho. Realmente, comovente.

Ao que os Nassib assistiam, começaram a vibrar, enlouquecidos. Tsetseg fez um movimento brusco, ainda com os cabelos de Osahar em suas mãos, fez força para que a esposa do falecido líder dos Oreore ficasse costas para ela, ficando então de frente para o corredor, onde o povo Nassib se encontrava.

- O orgulho Oreore... Marcante! - Tsetseg jogou Osahar, fazendo com que ficasse de joelhos enquanto segurava seus cabelos trançados. - Para mim, isso não passa de atuação. Ela foi treinada para ser assim. Também pudera, jamais presenciou coisas terríveis de verdade, daquelas que as imagens não saem da cabeça. Nunca foi humilhada. Não deve ter sentido fome ou passado necessidade alguma em sua vida. É muito fácil ser forte assim. Mas veja, Leen é piedoso. A morte traz o alívio, o fim. E é o que vamos ter...

Tsetseg olhou para um dos guerreiros Nassib que assistia aquele espetáculo horrendo. Quando avistou o sinal, o homem foi buscar algo. Quando retornou, os olhos firmes de Osahar fraquejaram, mudaram pela primeira vez, enchendo-se de lágrimas.

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora