Planos

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O ambiente era mórbido, tenso, sem vida, sem esperança. Os nassib gritavam em seu idioma gutural. Morte, sangue, dor: palavras que amedrontavam, cuspidas com ódio e fervor e rancor. O corredor de estacas com crânios de diversas raças estava renovado, bem preparado, saudava a morte. No trono, que ficava no outro extremo do corredor, estava sentada a líder de todo aquele ato macabro e conversão de todo um povo a adorar a morte, Tsetseg. A menção do seu nome trazia calafrios aos presentes. Empoderada à liderança tribal, tinha na árvore sagrada, K'tully, o maior símbolo que ali o domínio era seu. 

O olhar altivo da tirana abriu-se ainda mais quando o convidado transpassava pelo corredor. O homem não sabia se, ao certo, era vaiado, ou xingado, ou ovacionado, ou adorado. Só mantinha o foco na mulher a sua frente. Nas mãos do caminhante, uma sacola de pano manchada de sangue. O volume do objeto que estava no interior da bolsa lembrava uma esfera. O olhar mais atento notava a semelhança do volume com o de uma cabeça.

Ao final da lenta caminhada, o ser se ajoelhou perante Tsetseg, como ordenava o costume. A gritaria só aumentava. A líder fez um gesto, contendo a algazarra.

— Hazel Spikes — Tsetseg entoou o nome do mercenário. — Finalmente cumpriu o que havíamos combinado. Enviei homens para que encontrasse você, mas não retornaram e não estão contigo.

— Eles foram de grande ajuda — ele abriu um sorriso —, mas a desgraçada tinha aliados por lá. Não foi algo simples de se resolver.

— Entendo. Porém, se retornou, então trouxe? — A sacerdotisa ergueu o corpo, altiva.

— Sim — respondeu, levantando olhar bem devagar. — A cabeça da infeliz.

Tsetseg arregalou os olhos, dando um sorriso de canto da boca. 

— Gyud, traga a cabeça pra mim — ordenou ao seu guarda mais forte, que sempre estava ao seu lado.

O nassib caminhou até Hazel, que não encarou o homem, voltando a abaixar a cabeça, apenas oferecendo a bolsa volumosa. Gyud levou a encomenda até sua líder. Tsetseg pegou a bolsa e abriu, avistando o conteúdo. Um sorriso maior se fez presente em seu rosto. A sacerdotisa enfiou a mão com energia, retirando o que todos ali queriam ver: Era a cabeça de Maysha. A líder nassib ergueu a parte a parte decapitada da bárbara, gritando e urrando e vibrando. Seu júbilo macabro foi acompanhado por todos que estavam ali presentes. Hazel apenas mantinha a cabeça abaixada, com uma expressão de melancolia, entreolhando os arredores. Tsetseg e os nassib estavam em êxtase, pois toda linhagem do Ore Broher havia sido eliminada, resultando na vitória dos Nassib.

— Gyud... — quando a sacerdotisa falou, as vozes foram baixando o volume novamente.

— Sim, minha senhora.

— Ordene que Kurendar traga Osahar — deu um sorriso cínico. — Ela precisa ver sua filha mais velha. Deve estar com saudades.

— Sim, minha senhora.

(*****)

Antes.

— Estamos próximos dos territórios Nassib — era Maysha. — A partir de agora podemos encontrar qualquer um deles rondando por aqui. Se nos virem, tudo pode dar errado.

— Não dará — afirmou Hazel. — Não se esqueça que eu também fui criado por aqui.

Maysha concordou.

— Certo, então vamos retomar o plano? — Maeve interrompeu.

— Sim — Eadwine a respondeu.

— Como combinado, Maysha vai mostrar o caminho do cativeiro — disse Akio. — Ela vai mostrar o caminho para Maeve e Eadwine. 

— Eu continuo nervoso com essa parte — Eadwine mostrou receio. — Não sou nada bom em ser furtivo.

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora