A Roda do Destino

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Era manhã na Floresta das Grandes Árvores, em Salistick. O sol apenas era visto quando estivessem de fora do local coberto. Pequenos raios de luz penetravam o lugar, mas não diminuía a falta que o astro rei fazia. Por esse motivo, era comum que os Oreore fizessem excursões para fora do local. A floresta já era bem conhecida, os perigos já podiam ser evitados. Confiantes, estavam se tornando parte do lugar. Apenas uma pessoa evitava sair por motivos fúteis. Somente ela se mantinha como guardiã daquele local. Era a única que poucas vezes se dava esse direito. 

Pelo menos três vezes ao ano, Maysha se deixava levar por seus sentimentos nostálgicos. Fez o mesmo caminho até a entrada em que ela e seu grupo de anos atrás fizeram. Olhava o horizonte. Buscava de todos os pontos cardeais, numa tentativa quase que infantil, de esperar que alguma coisa acontecesse, como se alguém fosse surgir. E fez isso por alguns anos, continuando a repetir as mesmos gestos religiosamente. Contudo, naquele dia, o ar estava diferente, a esperança pulsava mais forte no coração da bárbara. E a resposta vinha de longe. 

Há centenas de metros, sua visão aperfeiçoada pela mãe águia avistou um homem vindo na direção da Floresta. O mesmo caminhar, só que mais imponente. A postura mais pomposa do que a antiga forma, que era desanimada. Maysha estava mais velha, mais madura, vivida. Entretanto, ela aguardou aquele momento todos os dias. Não se importou. Correu até aquele que vinha ao seu encontro. A longa distância não fez diferença. Os passos foram espaçados, numa corrida veloz. O que faria quando chegasse frente à frente? Nada era mais lógico do que saltar a abraçar. E assim o fez. Como uma criança quando o pai chega do trabalho, saltou nos braços dele. Com um abraço apertado que trazia toda saudade embutida no peito, fez força. Nas lágrimas de quem esperou por todo esse tempo, deixou-se chorar.

— Akio! 

— Maysha...

— Sabia que voltaria — o choro era de alegria. — Não importa quanto tempo se passasse, você iria voltar. Sempre soube!

— É bom te ver, menina — retribuía o abraço, permitindo-se um sorriso.

— Por que demorou tanto? O que aconteceu? O que estava fazendo? — ficou de frente para o samurai, admirando-o. — E que roupas são essas? Você está incrível, não envelheceu nada.

Akio trajava o uniforme completo de uma armadura samurai. Avermelhado e com detalhes esverdeados, o traje brilhava com o reflexo do sol.

— E sua aura... está diferente.

— Muita coisa aconteceu nesse tempo que se passou, Maysha. Depois de tudo, enfim pude vir te ver. 

— Claro! Pelos deuses, você precisa ver todos os Oreore, eles se restabeleceram, já existem até crianças na tribo. Esse lugar é maravilhoso, Alihanna não poderia ter escolhido lugar melhor.

Akio atentou pelo fato da bárbara chamar a deusa da natureza pelo nome principal, e não pela alcunha de sua tribo. A surpresa foi boa, de alguma forma demonstrava o amadurecimento dela.

— Eu sei de tudo isso, Maysha.

— Sabe?

A bárbara olhou no fundo dos olhos do tamuraniano, como fazia para decifrar o que ele estava querendo realmente dizer. Notou seu ser, diferente, e como quase tudo nele havia mudado.

— Sei. Eu os ouço.

Maysha ficou pasma. Enfim entendeu. Akio já não era o mesmo homem de antes. Nem mesmo um simples mortal ele era. Embora antes fosse imortal, o que ele se tornara agora era algo completamente diferente. 

— Eu entendo... — de boca aberta, estava surpresa pela mudança.

— Quero ver seu povo, saber como estão, frente à frente.

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora