O Que Realmente Importa

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Antes.

Akio estava cavalgando. O cavalo era da melhor raça, com os melhores tratos possíveis, revestido de mantos com símbolos sagrados nas cores de Tamu-ra, o Reino de Jade. Os campos em que estava eram imensos, verdejantes, com árvores de cerejeira, as famosas sakuras voando em diversas direções, deixando os campos ainda mais belos. O samurai gostava de finalizar o dia imerso àquela beleza, trazia-lhe paz, era a calmaria em agradecimento a Lin-Wu, pela possibilidade de viver, de contemplar tal visão.  

Sem que notasse, pois se encontrava imerso em toda aquela contemplação, Akio não viu chegar Yamamoto Takeda, seu daimyo - senhor feudal. Com seu bondoso olhar e sorriso acolhedor, preparou-se e tomou a fala.

- Eu acho incrível o fato de um homem como você, que traz consigo toda essa imponência, acabar por se distrair tanto com simples sakuras - disse o daimyo, com um singelo sorriso em seu rosto.

- Daimyo-dono - disse Yamazaki Akio, descendo do cavalo, fazendo uma reverência logo após.

Yamamoto Takeda tocou o ombro de seu servo. O Samurai tomou a postura ereta tão logo, com a expressão de servidão de sempre. O daimyo olhou fundo nos olhos do servo, dando um imenso sorriso. 

- Sou muito grato por saber que tenho alguém tão leal, Akio-san.

- Daimyo-dono, suas palavras são a maior honra que posso ter - curvou a cabeça mais uma vez -, minha vida é sua, estou aqui para servi-lo. 

O daimyo fez uma mesura, honrarias tamuranianas àqueles que possuem mais prestígio.

- Há muito que a família Yamazaki serve à minha. Quando seu pai veio a falecer, pude ter a certeza, assim que vi você, de que eu estaria bem protegido - disse Yamamoto Takeda, sempre com serenidade.

- Tudo isso me é uma honra, daimyo-dono - ainda curvado.

- A espada que carrega, Benihime, é o símbolo máximo de toda essa tradição entre nossas famílias.

Benihime - princesa escarlate - era, assim como mencionado pelo daimyo, um símbolo, a marca de elo entre essas famílias. Passada de geração para geração, era o marco da proteção que os Yamazaki ofereciam aos Yamamoto. Possuía o cabo avermelhado, conforme o nome da espada. 

- Sei que me protegeria de qualquer problema ao seu alcance, Akio-san - continuou.

- Sim, damiyo-dono.

- Mas pode salvá-lo de si mesmo?

- Como assim, meu senhor?

- Sempre coloca seu dever e as tradições em primeiro lugar, como um bom samurai. Parabenizo você por isso - fez uma pausa, olhando também para as árvores. - Contudo, eu venho me perguntando o quanto esses deveres pesariam mais do que as coisas que amamos.

Yamazaki Akio surpreendeu-se. Quando conversava com seu senhor, normalmente falavam de assuntos relativos aos trabalhos gerenciados pelo samurai, pelas terras do senhor feudal, sobre o Imperador, e coisas do tipo. Poucas foram as vezes que Yamamoto Takeda falou sobre a sua família, ou sobre a família de Akio. Menos vezes ainda quando o daimyo falava de assuntos particulares. Entretanto, aquele início iria tomar um rumo que fugia completamente dos costumes tamuranianos. Qualquer palavra errada poderia significar uma quebra de decoro sem proporções. O samurai percebeu e pensou em fazer com que seu senhor parasse com aquele tipo de assunto. Não conseguiu.

- Eu quero dizer, Akio-san, que eu compreendo quando tiver de escolher pela sua família ou quando algum problema o abater - ainda com o olhar longínquo.

- Senhor, se não for para servi-lo com tudo o que tenho, melhor que eu não viva - falou colocando o punho serrado no peito, em sinal de devoção.

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora